Desde que escrevi sobre a primeira temporada falo como She-Ra e as
Princesas do Poder supera as expectativas. Poderia ser só um caça-níqueis
para lucrar em cima da nostalgia de uma animação oitentista cuja única razão de
existir era vender brinquedos, mas ao invés disso entregou uma envolvente
jornada, marcada por personagens complexos que raramente podem ser definidos
por maniqueísmos fáceis. Isso se confirma nesta quinta e aparentemente última
temporada, que encerra muito bem todas as tramas iniciadas desde o primeiro
ano.
A narrativa começa no ponto em
que o quarto ano acabou. O Mestre da Horda chegou a Etéria com toda sua frota e
capturou Cintilante. Adora destruiu a Espada do Poder para que ninguém use o
Coração de Etéria, uma arma poderosa que pode destruir o universo. Sem a
espada, ela também não consegue mais se transformar em She-Ra, o que torna
ainda mais difícil enfrentar o Mestre.
A temporada consegue criar um
senso palpável de perigo constante, do Mestre da Horda como um oponente
formidável, não só pelos números de sua horda, mas por sua inteligência em ser
capaz de antecipar os movimentos dos adversários e também por sua capacidade de
assimilar qualquer um em sua mente coletiva, efetivamente transformando aliados
em inimigos. Há um senso palpável de perigo em cada batalha e um claro temor
que as heroínas fracassem pelo fato do inimigo ser um oponente tão formidável.
Adora luta para tentar se mostrar
relevante no combate contra a Horda mesmo sem o poder de She-Ra, o que a leva a
tomar riscos desnecessários só para tentar provar seu valor. Se em temporadas
anteriores a protagonista se via dividida entre suas vontades pessoais e seu
destino como She-Ra, aqui ela luta para mostrar que é muito mais que She-Ra e é
capaz de forjar seu próprio destino. Tal como em outras temporadas o cerne do
conflito está na complicada relação entre Adora e Felina, que cresceram juntas
mas que se afastaram depois que Adora abandonou a horda para se juntar à
rebelião das princesas.
Ficava evidente que muito da
conduta de Felina contra Adora vinha por se sentir traída e abandonada pela
heroína. Por Adora ter sido a única pessoa com quem se arriscou a ter alguma
conexão emocional e apesar de se abrir para ela, Adora se afastou dela. O
processo de reaproximação das duas é bem crível, com Felina temendo o
julgamento de Adora ou das outras princesas pelas coisas que fez, ciente do
peso das ações que teve contra a rebelião. Parte do que dificulta essa
aproximação é justamente o complexo de inferioridade e abandono que sempre
esteve em Felina, se julgando indigna do afeto dos outros ou sempre achando que
será abandonada, ainda que tanto ela quanto Adora saibam que foi o afeto que
tem uma pela outra que guiou as ações de ambas.
Em geral fico receoso quando esse
tipo de história tenta redimir seus vilões, na maioria dos casos isso vem de
maneira fácil e súbita demais, mas não é o caso aqui. É tudo uma consequência
coerente de desenvolvimentos que vem sendo feitos desde o início da série.
Felina sempre foi uma antagonista com motivos compreensíveis e apesar de feito
coisas horríveis não era uma pessoa completamente má. Essa complexidade ajuda a
tornar crível a redenção dela e de outros como Sombria ou mesmo de Hordak, que
desperta da mente coletiva do Mestre justamente por conta da amizade sincera
que desenvolveu com Entrapta em temporadas anteriores.
Assim, o desfecho cheio de
esperança, falando sobre redenção, amizade e amor transformando o mundo
consegue emocionar sem soar bobo ou demasiadamente ingênuo porque se apoia em
anos de conexão emocional desenvolvida entre os personagens. A série sempre
teve uma preocupação em nos fazer entender quem eram aquelas pessoas, o as
movia, o que as fazia ser daquele jeito, mesmo antagonistas como Sombria,
Felina e Hordak tinham motivações compreensíveis para agirem do modo como
agiam.
Ocasionalmente a temporada tem
algumas quebras no ritmo da trama, em especial no sétimo episódio, que trava a
progressão da trama de Adora, Cintilante e os demais no espaço para acompanhar
uma missão de espionagem das princesas em Etéria que pouco faz para mover a
trama adiante. Tudo bem que não é um episódio ruim, inclusive tem um divertido
número musical protagonizado por Scorpia, mas fica a sensação que a trama
principal perde um pouco de fôlego.
Ainda assim, a quinta e última
temporada de She-Ra e as Princesas do
Poder é um desfecho poderoso e emocionante para uma série que sempre foi
muito melhor do que teria qualquer direito de ser.
Nota: 9/10
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