Na trama, Jonathan (Kurt Thomas)
é um ginasta de sucesso que é recrutado
pelo governo para participar de um mortal jogo de sobrevivência promovido pela
fictícia nação do Parmistão. Como o governante do país concede um desejo a quem
vencer, o governo americano quer colocar alguém na competição para ter seu desejo
atendido, de colocar no Parmistão uma base militar de seu projeto antimísseis,
o projeto Star Wars (como ninguém foi processado por usar esse nome no filme?).
A partir daí acompanhamos o treinamento de Jonathan e depois sua participação
nos jogos.
O filme é permeado por decisões
sem sentido, sejam de roteiro ou de direção. Os primeiros minutos, que mostram
Jonathan ganhando uma competição mais parecem o final de um filme da época, com
uma única luz no protagonista, música tensa e a imagem sendo congelada (também
conhecido como freeze frame) no
momento em que ele desmonta do aparelho com um acompanhamento musical triunfante
dá uma ideia de clímax, de fim. No entanto assistimos apenas uns quatro minutos
do filme.
Os sotaques dos personagens são
inconsistentes. A princesa fala um inglês quebrado, com um forte sotaque
asiático, como se não fosse não fosse fluente no idioma apesar de estar a algum
tempo nos EUA (quanto tempo? Não se sabe), mas o pai dela, o khan do Parmistão,
fala um inglês estadunidense claríssimo e sem sotaque apesar de aparentemente
nunca ter deixado o Parmistão. Imagino que ninguém envolvido na produção
reparou nisso e que provavelmente cada ator falou com seu próprio sotaque e
dicção, sem que houvesse uma preocupação de criar um modo de falar específico
para o país fictício que criaram.
No roteiro, os problemas também
já começam desde o início. Porque o governo chama um ginasta? Porque não um
agente que tenha um bom condicionamento físico? O texto tenta explicar isso ao
dizer que o pai de Jonathan teria participado e morrido nos jogos tempos atrás,
mas isso não prova que ginastas talvez não sejam os mais indicados?
Quando chega a hora de irem para
o Parmistão, o agente que está cuidando de Jonathan informa que eles não podem
simplesmente entrar no país, que precisarão cruzar a fronteira de mula pelas
montanhas. Assim que Jonathan chega, porém, é informado que estava sendo
esperado e que sabiam que ele viria. Tudo isso levanta questões sobre como a
tal competição funciona. Ele precisou se inscrever antecipadamente? Se mundo
inteiro sabe da competição porque é tão difícil entrar no país? Lembrando que a
princesa do Parmistão estava trabalhando com o governo, então não tem sentido
que a princesa precise entrar escondida no próprio país.
O desenvolvimento dos personagens
também não faz lá muito sentido. O treinamento de Jonathan envolve habilidades
que não seriam úteis em nenhum contexto, como as sucessivas tentativas de subir
uma escada plantando bananeira. Cheguei a pensar que talvez isso fosse ser
usado na competição de alguma maneira, mas não tem qualquer utilidade, sendo jogado de qualquer jeito na
tela. A relação entre Jonathan e a princesa acontece basicamente porque o
roteiro exige, já que eles nem conversam e mal interagem e já estão se
beijando. Mais para frente, quando chegam no Parmistão, ficamos sabendo que o
khan prometeu a princesa em casamento a Zamir (Richard Norton), seu capitão da
guarda real. Isso deveria criar um conflito e riscos claros para a derrota de
Jonathan, mas como a relação entre o herói e a mocinha praticamente não foi
desenvolvida, não há muito com o que se importar aqui.
O terço final tem algumas reviravoltas
absurdas. A principal delas é o fato do pai de Jonathan estar vivo, o que
levanta muitas perguntas. Porque ele não tentou voltar para os EUA ou ao menos
contatar o governo ou a família nas últimas décadas? O mais absurdo é a
justificativa que ele dá para ter sobrevivido, dizendo que árvores apararam a
queda. O problema dessa explicação é que os flashbacks
da morte dele mostram o penhasco no qual ele caiu e claramente não há
árvore alguma ali, sendo um penhasco rochoso desprovido de vegetação.
Tudo isso até seria perdoável se
ao menos as cenas de luta fossem bem realizadas, mas a condução delas é
praticamente amadora. Poderíamos imaginar que uma mistura de ginástica olímpica
com caratê fosse render lutas velozes e brutais, mas todas as coreografias são
lentas e desajeitadas. Os oponentes parecem ir diretamente ao encontro dos
socos e chutes de Jonathan, isso quando não caem sem sequer serem tocados por
ele. Em muitos momentos o protagonista simplesmente dá uma cambalhota ao lado
dos adversários, passa longe deles e ainda assim eles caem como se tivessem
sido nocauteados.
A ideia de que a junção de artes
marciais e ginástica olímpica seria um estilo de luta incrível e letal cai por
terra quando a maioria das lutas depende de Jonathan encontrar na arquitetura
dos espaços algum objeto que pareça com aparelhos de ginástica para poder lutar
com eficiência. Mesmo quando isso acontece, as coreografias de luta geram mais
risos que empolgação, já que tudo que o protagonista faz é rodopiar enquanto os
adversários se jogam na direção de suas pernas.
A maioria dos aparelhos
improvisados também é pouco crível, a exemplo do bloco de concreto com alças
que aparece no meio da rua para funcionar como um cavalo com alças da
ginástica. A cena inteira me fez rir alto, já que Jonathan está cercado por uma
multidão armada com lanças e foices, mas ainda assim sai vitorioso porque seus
inimigos se limitam a correr de peito aberto na direção de suas pernas
rodopiantes ao invés de, sei lá, usar uma das lanças para perfurá-lo de uma
distância segura.
Com uma trama inexistente,
atuações canastronas e cenas de ação ridículas, Gymkata: O Jogo da Morte se torna divertido por conta da ruindade.
A melhor/pior cena de luta do filme:
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