Conhecia muito pouco sobre a trajetória da cantora e artista plástica chilena Violeta Parra. Sabia que era um nome importante da arte e cultura do Chile, mas nunca tive muito contato com a obra dela. Foi movido pela curiosidade de conhecer mais e também pelo meu interesse em filmes nos quais a canção popular desempenha um papel importante que fui conferir esse Violeta Foi Para o Céu, originalmente lançado em 2011.
A trama segue a trajetória de
Violeta Parra (Francisca Gavilán), sendo enquadrada a partir de uma entrevista
que Violeta dá para uma emissora de televisão. A partir da fala dela a trama
viaja para os principais momentos da vida da artista. A montagem se vale da
estrutura testemunhal que guia a trama para organizar as imagens como se de
fato estivéssemos vendo o fluxo de consciência de Violeta transitando por suas
memórias, muitas vezes misturando tempos, espaços e imagens da subjetividade da
protagonista usando a música para dar unidade a essas descontinuidades
imagéticas.
De certa forma são essas escolhas
de estrutura e de montagem que conferem personalidade ao filme, já que em
termos de narrativa o texto segue bem o formato padrão de biografias de
músicos. Acompanhamos a infância, as dificuldades, o despertar de seu interesse
artístico, a inspiração de seus sucessos, os momentos de triunfo, os
desencontros afetivos e sua decadência. Não fosse o esforço de fazer o
espectador mergulhar no fluxo de pensamento da protagonista, o resultado seria
bem quadrado.
O filme mostra como Violeta foi
importante em resgatar a cultura nativa chilena, mapeando e arquivando a
poesia, as histórias, os ditos e as canções que circulavam pelo povo através da
tradição oral, levando essa cultura para o mundo e para a própria sociedade
chilena. Sim, resgatou para o próprio Chile, pois em muitos momentos o filme dá
indicações de como essa cultura e povos nativos são vistos.
Durante a entrevista, o repórter
que conversa com Violeta pergunta se ela tem origem indígena e pede desculpas
de modo adiantado caso a pergunta a ofenda. Parece algo pequeno, sem muita
importância, mas que denota como, para aquela sociedade, ser indígena é
sinônimo de ofensa, ou de pertencer a um grupo social inferior. Isso também é
evidenciado no show que Violeta faz em uma mansão de luxo e ao final da
apresentação seu contratante pede que ela vá jantar na cozinha ao invés de
chamá-la para a sala de jantar com o restante dos convidados, deixando claro
que ela é considerada indigna de frequentar os ambientes da elite branca.
Esses momentos ajudam a reforçar
a importância do trabalho de Violeta, em mostrar a força e o valor de uma
cultura que era tratada como invisível por não se adequar aos padrões
eurocêntricos. Como é típico desse tipo de biografia musical, o filme dá muitas
oportunidades para que assistamos Parra tocar, costurando essas performances
com imagens de outros momentos da vida da cantora para ilustrar como os eventos
de sua trajetória se conectam com suas composições.
Violeta Foi Para o Céu vale por nos fazer conhecer a trajetória de
um dos nomes mais importantes da canção popular latino-americana, explorando o
que movia Violeta Parra enquanto artista.
Trailer
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