quinta-feira, 21 de maio de 2020

Rapsódias Revisitadas – Violeta Foi Para o Céu

Crítica – Violeta Foi Para o Céu

Review – Violeta Foi Para o Céu
Conhecia muito pouco sobre a trajetória da cantora e artista plástica chilena Violeta Parra. Sabia que era um nome importante da arte e cultura do Chile, mas nunca tive muito contato com a obra dela. Foi movido pela curiosidade de conhecer mais e também pelo meu interesse em filmes nos quais a canção popular desempenha um papel importante que fui conferir esse Violeta Foi Para o Céu, originalmente lançado em 2011.

A trama segue a trajetória de Violeta Parra (Francisca Gavilán), sendo enquadrada a partir de uma entrevista que Violeta dá para uma emissora de televisão. A partir da fala dela a trama viaja para os principais momentos da vida da artista. A montagem se vale da estrutura testemunhal que guia a trama para organizar as imagens como se de fato estivéssemos vendo o fluxo de consciência de Violeta transitando por suas memórias, muitas vezes misturando tempos, espaços e imagens da subjetividade da protagonista usando a música para dar unidade a essas descontinuidades imagéticas.

De certa forma são essas escolhas de estrutura e de montagem que conferem personalidade ao filme, já que em termos de narrativa o texto segue bem o formato padrão de biografias de músicos. Acompanhamos a infância, as dificuldades, o despertar de seu interesse artístico, a inspiração de seus sucessos, os momentos de triunfo, os desencontros afetivos e sua decadência. Não fosse o esforço de fazer o espectador mergulhar no fluxo de pensamento da protagonista, o resultado seria bem quadrado.


O filme mostra como Violeta foi importante em resgatar a cultura nativa chilena, mapeando e arquivando a poesia, as histórias, os ditos e as canções que circulavam pelo povo através da tradição oral, levando essa cultura para o mundo e para a própria sociedade chilena. Sim, resgatou para o próprio Chile, pois em muitos momentos o filme dá indicações de como essa cultura e povos nativos são vistos.

Durante a entrevista, o repórter que conversa com Violeta pergunta se ela tem origem indígena e pede desculpas de modo adiantado caso a pergunta a ofenda. Parece algo pequeno, sem muita importância, mas que denota como, para aquela sociedade, ser indígena é sinônimo de ofensa, ou de pertencer a um grupo social inferior. Isso também é evidenciado no show que Violeta faz em uma mansão de luxo e ao final da apresentação seu contratante pede que ela vá jantar na cozinha ao invés de chamá-la para a sala de jantar com o restante dos convidados, deixando claro que ela é considerada indigna de frequentar os ambientes da elite branca.

Esses momentos ajudam a reforçar a importância do trabalho de Violeta, em mostrar a força e o valor de uma cultura que era tratada como invisível por não se adequar aos padrões eurocêntricos. Como é típico desse tipo de biografia musical, o filme dá muitas oportunidades para que assistamos Parra tocar, costurando essas performances com imagens de outros momentos da vida da cantora para ilustrar como os eventos de sua trajetória se conectam com suas composições.

Violeta Foi Para o Céu vale por nos fazer conhecer a trajetória de um dos nomes mais importantes da canção popular latino-americana, explorando o que movia Violeta Parra enquanto artista.


Trailer

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