segunda-feira, 29 de junho de 2020

Crítica – A Despedida


Análise Crítica – A Despedida

Review – A DespedidaLidar com o luto não é fácil, ainda mais quando sabemos que uma pessoa querida tem pouco tempo de vida. Quando sequer podemos contar pra essa pessoa o pouco tempo que se tem ou se despedir adequadamente, tudo pode ser ainda mais difícil. É esse o conflito central de A Despedida.

Na trama, Billi (Awkwafina) viaja de volta para China para ir ao casamento de um primo depois de descobrir que avó, Nai Nai (Shuzhen Zhao) foi diagnosticada com um câncer severo e aparentemente tem apenas três meses de vida. Chegando lá, descobre que os parentes optaram por não contar para a avó do seu estado de saúde, para que ela aproveite melhor seus últimos dias sem se preocupar. Billi, no entanto, fica dividida com essa escolha, já que não poderá se despedir adequadamente da avó e provavelmente não conseguirá voltar à China para visitá-la uma outra vez.

A diretora Lulu Wang conduz tudo com muita sutileza, deixando que os personagens comuniquem seus sentimentos mais com os corpos e gestos do que com as palavras. Há muitos momentos de silêncio, seja em cenas coletivas ou em segmentos em que Billi está sozinha, que enfatizam a natureza contemplativa do dilema da protagonista, entre seu sentimento individual de ser capaz de se despedir da avó e o seu compromisso com a coletividade familiar para manter os ânimos da avó.

Apesar dos silêncios, os personagens demonstram com muita clareza o turbilhão emocional pelo qual estão passando através de seus corpos e de seus olhares. A comunicação não verbal entre os membros da família comunica muito sobre o estado das relações entre eles além de evidenciar o quanto aquelas pessoas se conhecem bem ao ponto de não precisarem dizer nada um para o outro para se fazerem compreender.

O mesmo acontece com Billi, que nos diz apenas com um olhar ou movimento o quanto não poder dizer para a avó como se sente a deixa devastada. Considerando que Awkwafina trabalhou predominantemente com comédia em sua carreira, chega a ser surpreendente que ela consiga entregar uma performance tão sutil e com tanta nuance. O filme também recorre a algumas soluções visuais criativas para transmitir esse turbilhão emocional de Billi.

Um exemplo é quando a protagonista tira a roupa depois de uma sessão de massagem e os inúmeros círculos roxos em suas costas servem como um símbolo para a extrema tensão que carrega dentro de si. Em outro momento, Billi levanta da mesa durante um jantar e começa a tocar o piano da sala, a maneira intensa com a qual ela toca, somada às suas expressões faciais e o contraste sonoro entre as notas ágeis e fortes com a conversa suave ao fundo mostra que por baixo da aparente amenidade da situação há uma erupção de sentimentos dentro da protagonista.

Desta maneira, é por conta da delicadeza da condução de Lulu Wang e da performance sutil de Awkwafina que A Despedida é um estudo cuidadoso sobre relações familiares e o processo do luto.

Nota: 8/10

Trailer

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