O filme sueco Força Maior (2014) foi uma das melhores
produções do ano em que foi lançado, vencendo prêmios no Festival de Cannes e
sendo indicado a outras premiações internacionais como o Globo de Ouro. Como é
comum acontecer, ele ganhou um remake hollywoodiano
neste Downhill que, como a maioria
dos remakes hollywoodianos de filmes
internacionais premiados, parece não ter muito a dizer ou acrescentar ao que o
original já fez.
Na trama, o casal Pete (Will
Ferrell) e Billie (Julia Louis-Dreyfus) está passando férias nos alpes suíços
com os filhos. Quando uma das áreas externas do resort é atingida por uma pequena avalanche e Pete corre sozinho,
abandonando Billie e os filhos no local, isso muda completamente a dinâmica da
família.
A ideia aqui, tal como no
original, é ser uma comédia ácida sobre a natureza individualista do ser
humano. Tratar de como rapidamente nos despimos de nosso viés de civilidade e
humanismo quando as coisas apertam e passamos a nos preocupar apenas consigo
mesmos. Algumas cenas chave do original estão presentes aqui de maneira bem
semelhante, em especial a cena em que Pete e Billie revelam o que aconteceu no
momento da avalanche para um casal de amigos e tudo explode uma discussão
absurda em que Pete tenta racionalizar as próprias ações justificando que não
fez nada errado.
O problema, no entanto, é que
tirando um ou outro momento em que o texto do filme é mais incisivo no
tratamento dos seus temas, em geral falta acidez e ironia em boa parte da
projeção e com isso muito do impacto se perde. A narrativa também investe em
alguns personagens que destoam do resto, como a anfitriã vivida por Miranda
Otto que muitas vezes descamba para a caricatura e é limitada a piadas batidas
sobre como os europeus são sexualmente liberados enquanto os estadunidenses são
reprimidos.
Will Ferrell e Julia
Louis-Dreyfus convencem como um casal que está junto há anos e deixou a rotina
tomar conta. Ferrell, especificamente, é ótimo como um sujeito babaca e
narcisista que posa de bom pai de família, mas todas as decisões que toma visam
apenas seus próprios interesses e desejos. Já Louis-Dreyfus faz de Billie uma
mulher que cansou de se anular em prol da harmonia familiar e encontra na
atitude de Pete a desculpa perfeita para poder agir como bem entende. Ambos
tinham potencial de ir muito mais fundo na acidez e humor sombrio que a
premissa pede, mas que infelizmente o texto trata apenas superficialmente.
A impressão que fica é que Downhill é mais um daqueles remakes que
parece direcionado para o público estadunidense que não gosta de ler legenda,
oferecendo apenas uma reprodução pálida do original que não tenta trazer nenhum
novo olhar para a premissa que constrói.
Nota: 5/10
Trailer
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