Adaptado de uma graphic novel de mesmo nome, este The Last Days of American Crime, nova
produção original da Netflix, consegue ser simultaneamente longo demais e ainda
assim incapaz de construir de maneira convincente os arcos de alguns de seus
personagens ou mesmo um universo envolvente. Tudo isso faz suas desnecessárias
duas horas e meia extremamente cansativas.
A trama se passa em um futuro
próximo distópico no qual o governo dos EUA está prestes a acabar com o crime
usando um sinal sonoro que paralisa as pessoas que pensem em cometer algo
ilegal. Em meio a isso está o ladrão Bricke (Edgar Ramírez), cujo irmão morreu na
prisão ao ser usado como uma das cobaias para o tal sinal. Como vingança, ele
decide roubar bilhões de uma reserva federal dias antes do sinal ser ativado e
usar esse dinheiro para fugir do país. Para tal, contará com a ajuda do
gângster Kevin (Michael Pitt) e da hacker
Shelby (Anna Brewster).
Apesar de ser vender como uma
perigosa corrida contra o tempo, a trama tem um ritmo arrastado que demora a
engrenar e que precisa o tempo todo recorrer a longos diálogos expositivos para
explicar o universo e as motivações dos personagens ao público, não dando
espaço para que isso seja sentido ou dramaturgicamente construído. A relação
entre Shelby e Bricke, por exemplo, parece acontecer por pura necessidade de
roteiro. Chega a ser impressionante que apesar de tantas explicações a maioria
dos personagens sequer consiga demonstrar motivações convincentes.
O filme também se arrasta por
conta de várias subtramas envolvendo traições e mudanças de lealdade que
provavelmente foram pensadas para criar um senso de suspense, mas tornam tudo
entediante e desnecessariamente bagunçado. Elas estão sempre desfazendo alguma
reviravolta anterior ao ponto em que depois de muito tempo andando em círculos
a maioria das situações ou personagens volta ao ponto inicial sem que nenhuma dessas
idas e vindas tenha provocado nenhum desenvolvimento significativo. Alguns
personagens, como o policial interpretado por Sharlto Copley acabam sendo tão
irrelevantes que poderiam ser completamente cortados sem
prejudicar em nada a trama.
Há aqui e ali tentativas de
comentário político e social, mas o filme passa tão rapidamente e tem tão pouco
a dizer sobre essas questões que tudo soa raso e diluído, mais parecendo uma
versão piorada (muito piorada) de Minority
Report (2002) combinado à franquia Uma
Noite de Crime. Na verdade todo pano de fundo político parece ser uma mera
desculpa para criar cenas de violência e brutalidade sem que o filme tenha
muito a dizer.
Se o texto é uma bagunça quase
sem sentido, os atores não ajudam a tornar as coisas muito melhores. Edgar
Ramírez parece o confundir estoicismo de Bricke com inexpressividade. Anna
Brewster pesa tanto a mão para fazer Shelby parecer sensual, constantemente com
os lábios entreabertos, que parece vulgar sem ser sexy.
Já Michael Pitt parece estar em
um filme totalmente diferente, se comportando como se estivesse fazendo uma
imitação de Tommy Wiseau graças ao sotaque esquisito e um comportamento que em momento
algum parece remotamente similar a qualquer conduta humana. Aliás, a cena em
Kevin discute com o pai e a madrasta, com quem forma um bizarro triângulo
amoroso, parece saída diretamente de The Room (2003), por conta de sua completa falta de nexo dramatúrgico ou
narrativo, mas sem a excentricidade mambembe que tornou o infame filme Wiseau
ao menos engraçado.
Se alguém tinha alguma esperança
que ao menos as cenas de ação fossem salvar o filme, basta lembrar que este é
um filme dirigido por Olivier Megaton para que toda a esperança desvaneça.
Afinal, Megaton é um sujeito famoso (ou infame) por fragmentar seus filmes ao
ponto da incompreensão como a célebre tomada de Liam Neeson em Busca Implacável 3 (2014), na qual o
diretor usa mais de uma dúzia de cortes em uma cena de seis segundos em que Neeson pula uma cerca.
Aqui, como em outros filmes de
Megaton, a câmera chacoalha como se tudo estivesse sendo manejada por um
cinegrafista sob efeito de cocaína durante um terremoto. A montagem corta a
cada dois segundos ou menos durante as cenas de ação, como se quisesse testar
se o espectador sofre de epilepsia e em muitos momentos, como perseguições de
carro, mal consegue criar um senso de coesão espacial em relação ao
posicionamento de cada elemento da cena.
Com um roteiro inane, escolhas equivocadas
de atuação e uma péssima direção, o único crime cometido em The Last Days of American Crime é contra
o cinema.
Nota: 1/10
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