terça-feira, 9 de junho de 2020

Crítica – The Looming Tower


Análise Crítica – The Looming Tower

Review – The Looming Tower
Depois dos ataques de 11 de setembro muitas teorias da conspiração começaram a pipocar. De inferências que foi tudo feito em acordo entre o governo dos EUA e a família real saudita, a proposições de que apenas o ataque às torres foi real e todo resto encenado. A verdade, no entanto, pode ser muito mais simples, como sugere o premiado livro-reportagem O Vulto das Torres, escrito por Lawrence Wright, que serviu de inspiração para esta minissérie The Looming Tower, produção da Hulu que chega ao Brasil via Amazon Prime.

A começa ainda no final da década de noventa e é centrada em John O’Neill (Jeff Daniels), especialista em contraterrorismo do FBI. John começa a prestar atenção na ameaça potencial de Osama Bin Laden e da Al-Qaeda graças a ajuda do agente Ali Soufan (Tahar Rahim), um libanês criado nos EUA que entende a filosofia dos radicais islâmicos. O FBI, no entanto, não é a única agência de olho neles, com a CIA também possuindo uma divisão própria dedicada a coletar informações sobre a rede liderada por Bin Laden. O problema é que ao invés de cooperarem, as duas agências brigavam pela jurisdição dos casos e ocultavam informações uma da outra e isso basicamente permitiu que os atentados acontecessem.

Ao longo da trama vemos como as duas agências tinham interesses diferentes. O FBI querendo prender os culpados, enquanto a CIA queria bombardeá-los a distância e também proteger a relação próxima entre os EUA e Arábia Saudita para não prejudicar o comércio entre os dois países. Conforme acompanhamos a trama de John e Ali vemos que os dois departamentos tem em comum o fato de não compreenderem a natureza do fundamentalismo islâmico. Os EUA trataram a Al-Qaeda como uma organização criminosa comum ou terroristas separatistas lutando por terra e poder, falhando em compreender que a luta dos fundamentalistas era metafísica, era uma luta pela salvação da alma, do bem contra o mal, uma luta que não poderia ser vencida pelo mero poderio bélico.

O arco de Soufan mostra o agente em conflito com suas múltiplas identidades, um muçulmano devoto que morou boa parte de sua vida nos EUA, visto por estrangeiro tanto em seu país de residência quanto em sua região de origem. O personagem também serve para mostrar como a Al-Qaeda perverte e deturpa os ensinamentos islâmicos, algo que fica extremamente evidente no último episódio. Ao interrogar um ex-segurança de Bin Laden, Soufan força o homem a ler algumas passagens do Corão (que o terrorista nunca leu pessoalmente) e o sujeito simplesmente desaba ao perceber o horror que ajudou a cometer e que fora enganado por Bin Laden e outros líderes fundamentalistas.

A trama envolvendo John, no entanto, é um pouco mais irregular. Por um lado há toda a tensão e intriga política dele navegando pelo labirinto burocrático para tentar conseguir alguma informação da CIA. Por outro, os problemas pessoais dele com as numerosas amantes e a culpa católica por trair a esposa soam menores e desinteressantes diante de tudo que está em jogo. Talvez a ideia de inserir esses elementos tivesse sido para evitar romantizar demais John, mostrá-lo como um homem falho, mas bem intencionado ao invés de um herói puro e sob esse aspecto as tramas pessoais dele funcionam, mesmo que não envolvam como deveriam.

A série também mostra como as investigações e ações pós 11 de setembro foram contaminadas por interesses políticos e econômicos, com o governo Bush preferindo forjar uma guerra contra o Iraque de Saddam Hussein ao invés de ir atrás dos reais culpados, fornecendo também mais pretextos de recrutamento por parte de fundamentalistas islâmicos. É interessante como a série constrói uma constante sensação de ameaça ao costurar ao longo dos episódios breves cenas do planejamento dos ataques que acontecerão, como os da embaixada, o ataque ao navio de guerra e o das torres, criando essa impressão da Al-Qaeda como essa sombra crescente que opera distante do olhar das autoridades.

O texto da série, no entanto, praticamente pinta os EUA como vítimas, ignorando ou passando muito rápido sobre o passado do país na região de atuação da Al-Qaeda. Há uma breve menção ao fato de que Bin Laden fez parte do grupo fundamentalista treinado pela CIA para combater os soviéticos no Afeganistão durante a Guerra Fria, mas pouco é dito de como os EUA, ao longo de décadas, desestabilizaram diferentes países da região para atender seus próprios interesses, ajudando a colocar no poder ditadores como o próprio Saddam. São justamente as consequências dessas décadas de intervencionismo que vão servir de base para a Al-Qaeda montar sua estrutura de recrutamento o que, logicamente, não justifica o terrorismo perpetrado por eles.

The Looming Tower é um retrato sóbrio e sombrio de como as disputas internas das agências de segurança deixaram os EUA vulneráveis aos ataques do 11 de setembro.

Nota: 8/10

Trailer

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