Depois dos ataques de 11 de
setembro muitas teorias da conspiração começaram a pipocar. De inferências que
foi tudo feito em acordo entre o governo dos EUA e a família real saudita, a
proposições de que apenas o ataque às torres foi real e todo resto encenado. A
verdade, no entanto, pode ser muito mais simples, como sugere o premiado
livro-reportagem O Vulto das Torres,
escrito por Lawrence Wright, que serviu de inspiração para esta minissérie The Looming Tower, produção da Hulu que
chega ao Brasil via Amazon Prime.
A começa ainda no final da década
de noventa e é centrada em John O’Neill (Jeff Daniels), especialista em
contraterrorismo do FBI. John começa a prestar atenção na ameaça potencial de
Osama Bin Laden e da Al-Qaeda graças a ajuda do agente Ali Soufan (Tahar
Rahim), um libanês criado nos EUA que entende a filosofia dos radicais
islâmicos. O FBI, no entanto, não é a única agência de olho neles, com a CIA
também possuindo uma divisão própria dedicada a coletar informações sobre a
rede liderada por Bin Laden. O problema é que ao invés de cooperarem, as duas
agências brigavam pela jurisdição dos casos e ocultavam informações uma da
outra e isso basicamente permitiu que os atentados acontecessem.
Ao longo da trama vemos como as
duas agências tinham interesses diferentes. O FBI querendo prender os culpados,
enquanto a CIA queria bombardeá-los a distância e também proteger a relação
próxima entre os EUA e Arábia Saudita para não prejudicar o comércio entre os
dois países. Conforme acompanhamos a trama de John e Ali vemos que os dois
departamentos tem em comum o fato de não compreenderem a natureza do
fundamentalismo islâmico. Os EUA trataram a Al-Qaeda como uma organização
criminosa comum ou terroristas separatistas lutando por terra e poder, falhando
em compreender que a luta dos fundamentalistas era metafísica, era uma luta
pela salvação da alma, do bem contra o mal, uma luta que não poderia ser
vencida pelo mero poderio bélico.
O arco de Soufan mostra o agente
em conflito com suas múltiplas identidades, um muçulmano devoto que morou boa
parte de sua vida nos EUA, visto por estrangeiro tanto em seu país de
residência quanto em sua região de origem. O personagem também serve para
mostrar como a Al-Qaeda perverte e deturpa os ensinamentos islâmicos, algo que
fica extremamente evidente no último episódio. Ao interrogar um ex-segurança de
Bin Laden, Soufan força o homem a ler algumas passagens do Corão (que o
terrorista nunca leu pessoalmente) e o sujeito simplesmente desaba ao perceber
o horror que ajudou a cometer e que fora enganado por Bin Laden e outros
líderes fundamentalistas.
A trama envolvendo John, no
entanto, é um pouco mais irregular. Por um lado há toda a tensão e intriga
política dele navegando pelo labirinto burocrático para tentar conseguir alguma
informação da CIA. Por outro, os problemas pessoais dele com as numerosas
amantes e a culpa católica por trair a esposa soam menores e desinteressantes
diante de tudo que está em jogo. Talvez a ideia de inserir esses elementos
tivesse sido para evitar romantizar demais John, mostrá-lo como um homem falho,
mas bem intencionado ao invés de um herói puro e sob esse aspecto as tramas
pessoais dele funcionam, mesmo que não envolvam como deveriam.
A série também mostra como as
investigações e ações pós 11 de setembro foram contaminadas por interesses
políticos e econômicos, com o governo Bush preferindo forjar uma guerra contra
o Iraque de Saddam Hussein ao invés de ir atrás dos reais culpados, fornecendo
também mais pretextos de recrutamento por parte de fundamentalistas islâmicos.
É interessante como a série constrói uma constante sensação de ameaça ao
costurar ao longo dos episódios breves cenas do planejamento dos ataques que
acontecerão, como os da embaixada, o ataque ao navio de guerra e o das torres, criando
essa impressão da Al-Qaeda como essa sombra crescente que opera distante do
olhar das autoridades.
O texto da série, no entanto,
praticamente pinta os EUA como vítimas, ignorando ou passando muito rápido
sobre o passado do país na região de atuação da Al-Qaeda. Há uma breve menção
ao fato de que Bin Laden fez parte do grupo fundamentalista treinado pela CIA
para combater os soviéticos no Afeganistão durante a Guerra Fria, mas pouco é
dito de como os EUA, ao longo de décadas, desestabilizaram diferentes países da
região para atender seus próprios interesses, ajudando a colocar no poder
ditadores como o próprio Saddam. São justamente as consequências dessas décadas
de intervencionismo que vão servir de base para a Al-Qaeda montar sua estrutura
de recrutamento o que, logicamente, não justifica o terrorismo perpetrado por
eles.
The Looming Tower é um retrato sóbrio e sombrio de como as disputas
internas das agências de segurança deixaram os EUA vulneráveis aos ataques do
11 de setembro.
Nota: 8/10
Trailer
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