Quando falei sobre a segunda temporada de The Sinner, mencionei
que apesar de construir um mistério envolvente não dizia muito sobre a questão
da culpa que a primeira temporada já não tivesse feito. Essa terceira temporada
começa instigante, mas vai aos poucos perdendo força. Avisamos que o texto pode
conter SPOILERS.
Na trama, o detetive Harry
Ambrose (Bill Pullman) é chamado para investigar uma batida de carro que
termina com a morte do motorista, mas o passageiro, um professor de escola
particular chamado Jamie (Matt Bomer), sobrevive. Aparentemente parece só um
acidente causado pela imprudência do motorista, mas Ambrose desconfia que Jamie
conscientemente deixou o amigo, Nick (Chris Messina), morrer.
O ator Chris Messina traz uma
presença imprevisível e ameaçadora para Nick. O modo como o personagem consegue
afetar e manter o controle sobre Jamie cria um mistério envolvente sobre o que
teria acontecido no passado deles ao ponto em que Nick consegue manipular o professor
com tanta facilidade e que traumatiza Jamie ao ponto em que ele opta por deixar
Nick morrer. Matt Bomer convence da instabilidade que se instaura em Jamie a
partir do momento em que Nick volta para sua vida e também da culpa que se
instala nele depois de deixar o antigo amigo morrer, o que volta ao tema
central da série que é a culpa.
Se os primeiros episódios são
promissores ao explorarem o mistério do passado de Jamie ou a personalidade
astuta do detetive Ambrose, aos poucos as coisas vão se tornando menos
complexas conforme as respostas começam a aparecer. Pullman continua ótimo como
Ambrose, um detetive arguto, que atenta para detalhes que outros passam batido
e que genuinamente parece se importar com seus suspeitos quando percebe neles
alguma vulnerabilidade, como no caso de Jamie.
Em temporadas anteriores já vimos
Harry se apegar demais aos suspeitos e agir a margem das regras de seu
trabalho, mas se antes elas pareciam justificadas dadas a fragilidade mental de Cora ou Julian, aqui, conforme a trama progride as escolhas do personagem soam
insensatas. Não há motivo, por exemplo, para que ele bata de frente com a
policial de Nova Iorque que investiga um assassinato que Jamie possa ter
cometido por lá. Do mesmo modo, toda a escolha de Harry confiar em Jamie na
simulação de enterro soa desnecessariamente arriscada, já que não só o detetive
não tinha garantia que Jamie não fosse deixá-lo morrer, como era evidente que a
gravação da confissão de Jamie naquelas circunstâncias não seria aceita em um tribunal.
Dessa maneira, as decisões de
Harry em relação a Jamie nem sempre convencem ou despertam nossa empatia. Isso
porque a partir da metade da temporada vai ficando evidente que Jamie é menos
um coitado acometido por um trauma que estava no lugar errado e mais um sujeito
com tendências sociopatas que está cada vez mais abraçando essa faceta de sua
personalidade.
Nesse sentido, o crime exibido
nesta temporada é o menos ambíguo moralmente falando de todos os três anos da
série. Por mais que Jamie esteja inicialmente instável, ele está lúcido e
consciente das consequências do que fez quando escolhe por deixar Nick morrer.
Mais que isso, ao longo da temporada, em especial nos últimos episódios, Jamie
parece se tornar um sociopata completo, matando e ameaçando pessoas apenas para
se vingar de Harry. Se em temporadas anteriores conseguíamos ter pena ou
empatia por Cora ou Julian mesmo sabendo que ambos indubitavelmente cometeram
os crimes dos quais foram acusados, o mesmo não acontece com Jamie aqui. Os momentos
finais do personagem, em que ele morre nos braços de Harry (ironicamente porque
as ambulâncias não chegam a tempo), acaba carecendo de impacto porque naquele
momento já não conseguimos mais nos importar com o destino de Jamie. Ao invés
de um desfecho trágico para um sujeito instável, vemos um indivíduo violento e
cruel tendo o que merece.
Apesar de um bom trabalho da
dupla principal e de um mistério inicialmente envolvente, a terceira temporada
de The Sinner acaba enfraquecendo em
seus últimos episódios, perdendo um pouco da complexidade que torna a série tão
envolvente.
Nota: 6/10
Trailer
Eu gostei do personagem atormentado. Matt Bomer interpretou bem o papel.
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