sexta-feira, 26 de junho de 2020

Crítica – The Sinner: 3ª Temporada


Análise Crítica – The Sinner: 3ª Temporada

Review – The Sinner: 3ª Temporada
Quando falei sobre a segunda temporada de The Sinner, mencionei que apesar de construir um mistério envolvente não dizia muito sobre a questão da culpa que a primeira temporada já não tivesse feito. Essa terceira temporada começa instigante, mas vai aos poucos perdendo força. Avisamos que o texto pode conter SPOILERS.

Na trama, o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) é chamado para investigar uma batida de carro que termina com a morte do motorista, mas o passageiro, um professor de escola particular chamado Jamie (Matt Bomer), sobrevive. Aparentemente parece só um acidente causado pela imprudência do motorista, mas Ambrose desconfia que Jamie conscientemente deixou o amigo, Nick (Chris Messina), morrer.

O ator Chris Messina traz uma presença imprevisível e ameaçadora para Nick. O modo como o personagem consegue afetar e manter o controle sobre Jamie cria um mistério envolvente sobre o que teria acontecido no passado deles ao ponto em que Nick consegue manipular o professor com tanta facilidade e que traumatiza Jamie ao ponto em que ele opta por deixar Nick morrer. Matt Bomer convence da instabilidade que se instaura em Jamie a partir do momento em que Nick volta para sua vida e também da culpa que se instala nele depois de deixar o antigo amigo morrer, o que volta ao tema central da série que é a culpa.

Se os primeiros episódios são promissores ao explorarem o mistério do passado de Jamie ou a personalidade astuta do detetive Ambrose, aos poucos as coisas vão se tornando menos complexas conforme as respostas começam a aparecer. Pullman continua ótimo como Ambrose, um detetive arguto, que atenta para detalhes que outros passam batido e que genuinamente parece se importar com seus suspeitos quando percebe neles alguma vulnerabilidade, como no caso de Jamie.

Em temporadas anteriores já vimos Harry se apegar demais aos suspeitos e agir a margem das regras de seu trabalho, mas se antes elas pareciam justificadas dadas a fragilidade mental de Cora ou Julian, aqui, conforme a trama progride as escolhas do personagem soam insensatas. Não há motivo, por exemplo, para que ele bata de frente com a policial de Nova Iorque que investiga um assassinato que Jamie possa ter cometido por lá. Do mesmo modo, toda a escolha de Harry confiar em Jamie na simulação de enterro soa desnecessariamente arriscada, já que não só o detetive não tinha garantia que Jamie não fosse deixá-lo morrer, como era evidente que a gravação da confissão de Jamie naquelas circunstâncias não seria aceita em um tribunal.

Dessa maneira, as decisões de Harry em relação a Jamie nem sempre convencem ou despertam nossa empatia. Isso porque a partir da metade da temporada vai ficando evidente que Jamie é menos um coitado acometido por um trauma que estava no lugar errado e mais um sujeito com tendências sociopatas que está cada vez mais abraçando essa faceta de sua personalidade.

Nesse sentido, o crime exibido nesta temporada é o menos ambíguo moralmente falando de todos os três anos da série. Por mais que Jamie esteja inicialmente instável, ele está lúcido e consciente das consequências do que fez quando escolhe por deixar Nick morrer. Mais que isso, ao longo da temporada, em especial nos últimos episódios, Jamie parece se tornar um sociopata completo, matando e ameaçando pessoas apenas para se vingar de Harry. Se em temporadas anteriores conseguíamos ter pena ou empatia por Cora ou Julian mesmo sabendo que ambos indubitavelmente cometeram os crimes dos quais foram acusados, o mesmo não acontece com Jamie aqui. Os momentos finais do personagem, em que ele morre nos braços de Harry (ironicamente porque as ambulâncias não chegam a tempo), acaba carecendo de impacto porque naquele momento já não conseguimos mais nos importar com o destino de Jamie. Ao invés de um desfecho trágico para um sujeito instável, vemos um indivíduo violento e cruel tendo o que merece.

Apesar de um bom trabalho da dupla principal e de um mistério inicialmente envolvente, a terceira temporada de The Sinner acaba enfraquecendo em seus últimos episódios, perdendo um pouco da complexidade que torna a série tão envolvente.

Nota: 6/10


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