Se vocês acham que a ideia de uma divisão das forças armadas dos EUA atuando no espaço como algo absurdo, saibam que é uma possibilidade muito real. A criação de uma “Força Espacial” vem sendo ventilada pelo presidente Donald Trump desde que assumiu o cargo e pode ser que essa divisão já exista agora. A série Space Force tenta imaginar exatamente o que aconteceria se essa divisão existisse e como seria o cotidiano dos militares desse ramo.
A narrativa é centrada no general
Naird (Steve Carell), recém promovido a general de quatro estrelas, o posto
mais alto das forças armadas dos EUA e escolhido para comanda a recém criada
divisão espacial do exército. Ao lado dele estará o cientista-chefe da divisão
de pesquisas espaciais, Adrian Mallory (John Malkovich), que constantemente
entra em atrito com Naird por se recusar a ver seu trabalho sendo usado para
fins de guerra e morte.
É difícil não olhar para o Naird
de Carell e não pensar no Michael Scott de The
Office, personagem que tornou o ator célebre. Não só Space Force também é uma comédia sobre um ambiente de trabalho,
como Naird é também um sujeito bem intencionado, mas meio egocêntrico, babaca,
esquisito e inseguro como Michael Scott. Assim como seu personagem em The Office, Naird poderia facilmente se
transformar em um mané insuportável, mas Carell dá a ele uma vulnerabilidade e
ingenuidade que acaba nos aproximando do personagem.
A temporada não só funciona como
uma sátira política, das manobras absurdas que governantes fazem para parecerem
eficientes ao criar uma divisão militar que não tem muita função, como da
própria mentalidade belicista dos Estados Unidos, que tenta transformar
qualquer lugar ou tecnologia em um potencial para guerra. A trama vai mostrar
como são absurdas as tentativas de efetivamente combater no espaço e como não
há muito a ser policiado fora do nosso planeta.
O roteiro brinca com possíveis
crimes espaciais e possíveis soluções, como no episódio piloto em que Naird
manda um macaco para o espaço para consertar um satélite sabotado pelos
chineses, uma missão que logicamente dá muito errado. O texto ainda é
inteligente em satirizar toda essa mentalidade estadunidense de “polícia do
universo”, sem precisar explicitamente nomear figuras políticas contemporâneas.
Por mais que Trump tenha sido o
autor dessa ideia absurda, essa é uma mentalidade que sempre esteve presente no
país e dificilmente vai sumir quando o atual presidente deixar o cargo, citar
diretamente Trump prenderia demais a série no momento atual e talvez ela
deixasse de ser relevante daqui a alguns anos. O mesmo se aplica aos
parlamentares que supervisionam o trabalho de Naird, claramente inspirados em
figuras reais do legislativo estadunidense como Nancy Pelosi ou Alexandria
Ocasio-Cortez, mas sem citar nominalmente essas figuras.
Lisa Kudrow (a eterna Phoebe de Friends) traz um grau de
imprevisibilidade como Maggie, a esposa de Naird. Presa por motivos que nunca
são devidamente explicados, toda cena em que Maggie está presente sempre se
desenvolve da maneira mais inesperada possível, o que ajuda no clima de absurdo
da série e prende nossa atenção sempre que Kudrow está em cena.
Outros coadjuvantes, no entanto,
não conseguem funcionar. Erin (Diana Silvers), a filha de Naird, nunca consegue
ir além do clichê da adolescente revoltada que age com rebeldia para chamar a
atenção do pai ausente. Do mesmo modo, o militar russo que trabalha na base de
Naird como ligação com outros governos não tem muito a fazer além de cenas em
que ele tenta induzir Naird a revelar alguma informação confidencial. É tão
exagerado e forçado, mesmo dentro do regime de absurdo da série, que não
consegue ser engraçado e o personagem não faz nada além disso ao logo de toda a
temporada. Inclusive o tal militar russo acaba sumindo da trama sem ter muita
repercussão na narrativa, provavelmente porque a equipe criativa percebeu que
ele não tinha muito a render.
Ainda que nem sempre faça todos
os seus elementos funcionarem, a primeira temporada de Space Force é uma divertida sátira do militarismo estadunidense.
Nota: 6/10
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