terça-feira, 2 de junho de 2020

Crítica – Space Force: 1ª Temporada



Análise Crítica – Space Force: 1ª Temporada

Review – Space Force: 1ª Temporada
Se vocês acham que a ideia de uma divisão das forças armadas dos EUA atuando no espaço como algo absurdo, saibam que é uma possibilidade muito real. A criação de uma “Força Espacial” vem sendo ventilada pelo presidente Donald Trump desde que assumiu o cargo e pode ser que essa divisão já exista agora. A série Space Force tenta imaginar exatamente o que aconteceria se essa divisão existisse e como seria o cotidiano dos militares desse ramo.

A narrativa é centrada no general Naird (Steve Carell), recém promovido a general de quatro estrelas, o posto mais alto das forças armadas dos EUA e escolhido para comanda a recém criada divisão espacial do exército. Ao lado dele estará o cientista-chefe da divisão de pesquisas espaciais, Adrian Mallory (John Malkovich), que constantemente entra em atrito com Naird por se recusar a ver seu trabalho sendo usado para fins de guerra e morte.

É difícil não olhar para o Naird de Carell e não pensar no Michael Scott de The Office, personagem que tornou o ator célebre. Não só Space Force também é uma comédia sobre um ambiente de trabalho, como Naird é também um sujeito bem intencionado, mas meio egocêntrico, babaca, esquisito e inseguro como Michael Scott. Assim como seu personagem em The Office, Naird poderia facilmente se transformar em um mané insuportável, mas Carell dá a ele uma vulnerabilidade e ingenuidade que acaba nos aproximando do personagem.


A temporada não só funciona como uma sátira política, das manobras absurdas que governantes fazem para parecerem eficientes ao criar uma divisão militar que não tem muita função, como da própria mentalidade belicista dos Estados Unidos, que tenta transformar qualquer lugar ou tecnologia em um potencial para guerra. A trama vai mostrar como são absurdas as tentativas de efetivamente combater no espaço e como não há muito a ser policiado fora do nosso planeta.

O roteiro brinca com possíveis crimes espaciais e possíveis soluções, como no episódio piloto em que Naird manda um macaco para o espaço para consertar um satélite sabotado pelos chineses, uma missão que logicamente dá muito errado. O texto ainda é inteligente em satirizar toda essa mentalidade estadunidense de “polícia do universo”, sem precisar explicitamente nomear figuras políticas contemporâneas.

Por mais que Trump tenha sido o autor dessa ideia absurda, essa é uma mentalidade que sempre esteve presente no país e dificilmente vai sumir quando o atual presidente deixar o cargo, citar diretamente Trump prenderia demais a série no momento atual e talvez ela deixasse de ser relevante daqui a alguns anos. O mesmo se aplica aos parlamentares que supervisionam o trabalho de Naird, claramente inspirados em figuras reais do legislativo estadunidense como Nancy Pelosi ou Alexandria Ocasio-Cortez, mas sem citar nominalmente essas figuras.

Lisa Kudrow (a eterna Phoebe de Friends) traz um grau de imprevisibilidade como Maggie, a esposa de Naird. Presa por motivos que nunca são devidamente explicados, toda cena em que Maggie está presente sempre se desenvolve da maneira mais inesperada possível, o que ajuda no clima de absurdo da série e prende nossa atenção sempre que Kudrow está em cena.

Outros coadjuvantes, no entanto, não conseguem funcionar. Erin (Diana Silvers), a filha de Naird, nunca consegue ir além do clichê da adolescente revoltada que age com rebeldia para chamar a atenção do pai ausente. Do mesmo modo, o militar russo que trabalha na base de Naird como ligação com outros governos não tem muito a fazer além de cenas em que ele tenta induzir Naird a revelar alguma informação confidencial. É tão exagerado e forçado, mesmo dentro do regime de absurdo da série, que não consegue ser engraçado e o personagem não faz nada além disso ao logo de toda a temporada. Inclusive o tal militar russo acaba sumindo da trama sem ter muita repercussão na narrativa, provavelmente porque a equipe criativa percebeu que ele não tinha muito a render.

Ainda que nem sempre faça todos os seus elementos funcionarem, a primeira temporada de Space Force é uma divertida sátira do militarismo estadunidense.

Nota: 6/10

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