Dirigido
por Olivier Assayas e adaptando um livro escrito pelo brasileiro Fernando
Morais baseado em uma história real, este Wasp
Network: Rede de Espiões tinha, ao menos no papel, tudo para dar certo.
Para quem não conhece a obra de Morais, ele é um dos melhores escritores de
não-ficção do Brasil, tendo escrito biografias de figuras como Olga Benário e
Assis Chateaubriand, ambas adaptadas para o cinema em Olga (2004) e Chatô: O Rei do Brasil (2015). O produto final, porém, acaba deixando a desejar graças a
uma série de escolhas relativas à estrutura narrativa.
Adaptando
o livro Os Últimos Soldados da Guerra
Fria, escrito por Morais, a trama acompanha um grupo de agentes da
inteligência cubana que viajam aos Estados Unidos na década de noventa com o
intuito de se infiltrarem em organizações anticastristas para impedirem ataques
ao governo cubano. Entre esses agentes estão os pilotos Rene (Edgar Ramirez) e
Juan Pablo (Wagner Moura) e o burocrata Gerardo (Gael Garcia Bernal).
O
livro escrito por Morais era uma espécie de “James Bond do subdesenvolvimento”,
com os personagens precisando lidar tanto com as dificuldades de manterem uma
história falsa sobre si e todas as implicações disso, como também com os recursos
limitados da ilha para fazerem seu trabalho. O filme comandado por Assayas, no
entanto, acaba carecendo tanto de suspense quanto de drama.
Muito
disso deriva das escolhas de como estruturar a história, com muitos personagens
e ocasionais idas e vindas no tempo. Essas decisões tornam o fluxo da trama
truncado e desnecessariamente bagunçado. Quando o filme já está na metade de
sua duração, um momento em que deveria estar levando adiante os conflitos
inicialmente propostos, ele ainda está nos apresentando a novos personagens ou
explicando através de narração a operação de espionagem dos protagonistas. A
sensação é uma narrativa que resiste a se desenvolver.
O
excesso de personagens e subtramas leva a muitos elementos serem apresentados
de maneira muito rápida ao ponto em que a repercussão das ações dos personagens
não causa o devido impacto porque não houve tempo para desenvolver essas
relações de maneira consistente. Um exemplo é todo o arco de Juan Pablo. Numa
cena o vemos saindo pela primeira vez com Ana Margarita (Ana de Armas), logo
depois já estão casando, há uma cena em que eles brigam e pouco tempo depois
Juan Pablo já voltou para Cuba e abandonou a esposa.
É
tudo tão rápido que a decisão extrema do personagem não causa nenhum impacto no
espectador. Além disso, o personagem, que era aparentemente um dos
protagonistas, some do filme depois disso. Por conta desse desenho narrativo
fragmentado, que salta rapidamente de um personagem para outro o material não
consegue envolver tanto em termos de drama quanto de suspense. É o tipo de
estrutura que talvez fosse mais adequada a uma minissérie, para dar conta de
todas as histórias a serem contadas, do que em um longa-metragem.
O
texto ao menos acerta em não recorrer a maniqueísmos fáceis, mostrando que Cuba
tinha de fato um regime rígido que impunha uma vida precária aos cidadãos, ao
mesmo tempo que reconhece que muito dessa precariedade vinha do embargo imposto
pelos Estados Unidos. Também mostra que alguns dos movimentos anticastristas
não eram tão pacíficos quanto diziam, estando dispostos até a matar civis em
atentados terroristas ou agindo em prol dos interesses dos Estados Unidos. O
desfecho trabalha para evidenciar uma certa hipocrisia dos EUA em relação à
espionagem. Usando imagens de arquivo de Fidel Castro, o filme nos lembra que
os estadunidenses espionam e interferem na soberania de outros países a todo
momento e ninguém questiona a legitimidade disso, mas as ações da inteligência
cubana não são vistas com o melhor olhar de normalidade.
Apesar
de trazer provocações instigantes sobre política e espionagem, Wasp Network: Rede de Espiões entrega um
produto superficial e sem impacto graças a sua estrutura narrativa
desconjuntada.
Nota:
5/10
Trailer
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