quarta-feira, 24 de junho de 2020

Crítica – Wasp Network: Rede de Espiões



Análise Crítica – Wasp Network: Rede de Espiões

Review – Wasp Network: Rede de Espiões
Dirigido por Olivier Assayas e adaptando um livro escrito pelo brasileiro Fernando Morais baseado em uma história real, este Wasp Network: Rede de Espiões tinha, ao menos no papel, tudo para dar certo. Para quem não conhece a obra de Morais, ele é um dos melhores escritores de não-ficção do Brasil, tendo escrito biografias de figuras como Olga Benário e Assis Chateaubriand, ambas adaptadas para o cinema em Olga (2004) e Chatô: O Rei do Brasil (2015). O produto final, porém, acaba deixando a desejar graças a uma série de escolhas relativas à estrutura narrativa.

Adaptando o livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria, escrito por Morais, a trama acompanha um grupo de agentes da inteligência cubana que viajam aos Estados Unidos na década de noventa com o intuito de se infiltrarem em organizações anticastristas para impedirem ataques ao governo cubano. Entre esses agentes estão os pilotos Rene (Edgar Ramirez) e Juan Pablo (Wagner Moura) e o burocrata Gerardo (Gael Garcia Bernal).

O livro escrito por Morais era uma espécie de “James Bond do subdesenvolvimento”, com os personagens precisando lidar tanto com as dificuldades de manterem uma história falsa sobre si e todas as implicações disso, como também com os recursos limitados da ilha para fazerem seu trabalho. O filme comandado por Assayas, no entanto, acaba carecendo tanto de suspense quanto de drama.

Muito disso deriva das escolhas de como estruturar a história, com muitos personagens e ocasionais idas e vindas no tempo. Essas decisões tornam o fluxo da trama truncado e desnecessariamente bagunçado. Quando o filme já está na metade de sua duração, um momento em que deveria estar levando adiante os conflitos inicialmente propostos, ele ainda está nos apresentando a novos personagens ou explicando através de narração a operação de espionagem dos protagonistas. A sensação é uma narrativa que resiste a se desenvolver.

O excesso de personagens e subtramas leva a muitos elementos serem apresentados de maneira muito rápida ao ponto em que a repercussão das ações dos personagens não causa o devido impacto porque não houve tempo para desenvolver essas relações de maneira consistente. Um exemplo é todo o arco de Juan Pablo. Numa cena o vemos saindo pela primeira vez com Ana Margarita (Ana de Armas), logo depois já estão casando, há uma cena em que eles brigam e pouco tempo depois Juan Pablo já voltou para Cuba e abandonou a esposa.

É tudo tão rápido que a decisão extrema do personagem não causa nenhum impacto no espectador. Além disso, o personagem, que era aparentemente um dos protagonistas, some do filme depois disso. Por conta desse desenho narrativo fragmentado, que salta rapidamente de um personagem para outro o material não consegue envolver tanto em termos de drama quanto de suspense. É o tipo de estrutura que talvez fosse mais adequada a uma minissérie, para dar conta de todas as histórias a serem contadas, do que em um longa-metragem.

O texto ao menos acerta em não recorrer a maniqueísmos fáceis, mostrando que Cuba tinha de fato um regime rígido que impunha uma vida precária aos cidadãos, ao mesmo tempo que reconhece que muito dessa precariedade vinha do embargo imposto pelos Estados Unidos. Também mostra que alguns dos movimentos anticastristas não eram tão pacíficos quanto diziam, estando dispostos até a matar civis em atentados terroristas ou agindo em prol dos interesses dos Estados Unidos. O desfecho trabalha para evidenciar uma certa hipocrisia dos EUA em relação à espionagem. Usando imagens de arquivo de Fidel Castro, o filme nos lembra que os estadunidenses espionam e interferem na soberania de outros países a todo momento e ninguém questiona a legitimidade disso, mas as ações da inteligência cubana não são vistas com o melhor olhar de normalidade.

Apesar de trazer provocações instigantes sobre política e espionagem, Wasp Network: Rede de Espiões entrega um produto superficial e sem impacto graças a sua estrutura narrativa desconjuntada.

Nota: 5/10

Trailer

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