Quando foi originalmente lançado
em 1998 a comédia de maconheiros Pra Lá
de Bagdá não fez muito sucesso. Foi massacrada pela crítica e não rendeu
muito em termos de bilheteria. Com o tempo, no entanto, acabou se tornando meio
que um filme cult, provavelmente por
ter algumas cenas realmente memoráveis ou pelo ganho de popularidade do comediante
Dave Chappelle, que não era tão conhecido quando o filme estreou e hoje é um
artista premiado.
Em essência Pra Lá de Bagdá é mais uma comédia de maconheiros ao estilo
daquelas estreladas por Cheech e Chong, por exemplo. Na trama, Thurgood (Dave Chappelle)
trabalha como faxineiro em uma empresa farmacêutica que faz experiências com
maconha medicinal. Quando o amigo dele, Kenny (Harland Williams), é preso,
Thurgood e seus outros companheiros de apartamento, Scarface (Guillermo Diaz, o
Huck de Scandal) e Brian (Jim Breuer)
decidem roubar a maconha do laboratório para vender nas ruas e levantar
dinheiro para pagar a fiança de Kenny.
É um fiapo de roteiro que se
desenvolve praticamente em uma série de esquetes envolvendo os diferentes tipos
de maconheiros e clientes que os personagens encontram. Muitas dessas cenas tem
participações especiais de celebridades, como cantor Willie Nelson e outras de
pessoas que viriam a ser muito famosas, como o comediante Jon Stewart. Na
verdade, o filme inteiro é bem irregular, com algumas cenas que funcionam muito
bem e outras nem tanto.
O que provavelmente garantiu o
status cult do filme foram um punhado
de cenas realmente memoráveis que ao longo dos anos foram citadas e
transformadas em meme em diferentes
páginas de internet, mesmo quando o conjunto em si não é lá tão bom assim.
Cenas como o raivoso pedido de demissão de Scarface da lanchonete fast food em que trabalha, a luta final
com o traficante Samson (Clarence Williams III), cuja coreografia absurda e uso
do tema musical e efeitos sonoros da série do Batman dos anos 60 são realmente
hilárias.
A mais memorável e talvez a mais
lembrada seja a cena em que Thurgood vai aos Narcóticos Anônimos para lidar com
seu vício em maconha. Ao falar do próprio vício é vaiado pelos demais membros
do grupo, que não consideram maconha uma droga, com o comediante Bob Saget (da
série Full House/ Três é Demais)
fazendo uma ponta como ele mesmo dizendo que já precisou fazer sexo oral em
troca de cocaína por conta de seu vício, mas nunca viu nenhum maconheiro passar
por um extremo semelhante.
A cena parece defender que a
maconha não está no mesmo patamar de outras drogas consideradas pesadas, como
cocaína ou heroína, se encaminhando para argumentar em uma possível
descriminalização da maconha. O final, no entanto, vai na contramão de tudo
isso, com Thurgood abandonando a erva para ficar com a namorada Mari Juana
(Rachel True), reforçando a ideia de que não é possível usar a erva e ser uma
pessoa produtiva, o que não parece se conectar com o restante das ideias do
filme sobre a maconha.
Apesar de algumas cenas em que
demonstra esse viés progressista (talvez até demais para a época em que foi
lançado), em muitas outras o filme meramente reproduz vários clichês sobre
maconheiros, recorrendo a piadas desgastadas e repetitivas. Um exemplo é a cena
da poetisa interpretada por Janeane Garofalo. É essa a irregularidade a qual me
referia. Enquanto algumas cenas são bem criativas e divertidas, outras parecem
apenas repetir coisas que outros filmes do tipo já faziam há décadas.
É possível entender as razões de Pra Lá de Badgá ter virado cult ao longo dos anos. As cenas que
funcionam são bem divertidas, mas, ao mesmo tempo, há um tanto de outros
elementos que não se encaixam tão bem ou não chegam perto de serem tão
engraçados quanto alguns dos melhores momentos do filme.
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário