quarta-feira, 10 de junho de 2020

Rapsódias Revisitadas – Pra Lá de Bagdá

Análise Crítica - Pra Lá de Bagdá


Review - Pra Lá de BagdáQuando foi originalmente lançado em 1998 a comédia de maconheiros Pra Lá de Bagdá não fez muito sucesso. Foi massacrada pela crítica e não rendeu muito em termos de bilheteria. Com o tempo, no entanto, acabou se tornando meio que um filme cult, provavelmente por ter algumas cenas realmente memoráveis ou pelo ganho de popularidade do comediante Dave Chappelle, que não era tão conhecido quando o filme estreou e hoje é um artista premiado.

Em essência Pra Lá de Bagdá é mais uma comédia de maconheiros ao estilo daquelas estreladas por Cheech e Chong, por exemplo. Na trama, Thurgood (Dave Chappelle) trabalha como faxineiro em uma empresa farmacêutica que faz experiências com maconha medicinal. Quando o amigo dele, Kenny (Harland Williams), é preso, Thurgood e seus outros companheiros de apartamento, Scarface (Guillermo Diaz, o Huck de Scandal) e Brian (Jim Breuer) decidem roubar a maconha do laboratório para vender nas ruas e levantar dinheiro para pagar a fiança de Kenny.


É um fiapo de roteiro que se desenvolve praticamente em uma série de esquetes envolvendo os diferentes tipos de maconheiros e clientes que os personagens encontram. Muitas dessas cenas tem participações especiais de celebridades, como cantor Willie Nelson e outras de pessoas que viriam a ser muito famosas, como o comediante Jon Stewart. Na verdade, o filme inteiro é bem irregular, com algumas cenas que funcionam muito bem e outras nem tanto.

O que provavelmente garantiu o status cult do filme foram um punhado de cenas realmente memoráveis que ao longo dos anos foram citadas e transformadas em meme em diferentes páginas de internet, mesmo quando o conjunto em si não é lá tão bom assim. Cenas como o raivoso pedido de demissão de Scarface da lanchonete fast food em que trabalha, a luta final com o traficante Samson (Clarence Williams III), cuja coreografia absurda e uso do tema musical e efeitos sonoros da série do Batman dos anos 60 são realmente hilárias.

A mais memorável e talvez a mais lembrada seja a cena em que Thurgood vai aos Narcóticos Anônimos para lidar com seu vício em maconha. Ao falar do próprio vício é vaiado pelos demais membros do grupo, que não consideram maconha uma droga, com o comediante Bob Saget (da série Full House/ Três é Demais) fazendo uma ponta como ele mesmo dizendo que já precisou fazer sexo oral em troca de cocaína por conta de seu vício, mas nunca viu nenhum maconheiro passar por um extremo semelhante.

A cena parece defender que a maconha não está no mesmo patamar de outras drogas consideradas pesadas, como cocaína ou heroína, se encaminhando para argumentar em uma possível descriminalização da maconha. O final, no entanto, vai na contramão de tudo isso, com Thurgood abandonando a erva para ficar com a namorada Mari Juana (Rachel True), reforçando a ideia de que não é possível usar a erva e ser uma pessoa produtiva, o que não parece se conectar com o restante das ideias do filme sobre a maconha.

Apesar de algumas cenas em que demonstra esse viés progressista (talvez até demais para a época em que foi lançado), em muitas outras o filme meramente reproduz vários clichês sobre maconheiros, recorrendo a piadas desgastadas e repetitivas. Um exemplo é a cena da poetisa interpretada por Janeane Garofalo. É essa a irregularidade a qual me referia. Enquanto algumas cenas são bem criativas e divertidas, outras parecem apenas repetir coisas que outros filmes do tipo já faziam há décadas.

É possível entender as razões de Pra Lá de Badgá ter virado cult ao longo dos anos. As cenas que funcionam são bem divertidas, mas, ao mesmo tempo, há um tanto de outros elementos que não se encaixam tão bem ou não chegam perto de serem tão engraçados quanto alguns dos melhores momentos do filme.

Trailer

Nenhum comentário:

Postar um comentário