O título Warrior Nun faz
uma promessa muito clara ao seu espectador: freiras guerreiras armadas até os
dentes enfiando a porrada em demônios do inferno. É tudo que eu esperava da
série, uma adaptação do quadrinho de mesmo nome de Bem Dunn (que não li), e em
geral ela cumpre o que promete, ainda que tenha alguns problemas.
A narrativa é protagonizada por Ava (Alba Baptista), uma órfã
tetraplégica recém-falecida que acidentalmente tem implantado no seu corpo o
artefato místico conhecido como Halo. Uma aureola de anjo passada por gerações
por uma ordem secreta da Igreja Católica que treina freiras para combaterem
demônios que tentam invadir o nosso mundo. Ressuscitada pelo poder do Halo, Ava
agora precisa se tornar a nova Irmã Guerreira.
O percurso de Ava é uma típica jornada de herói, mas o texto
ao menos consegue dar a ela alguma personalidade e motivações compreensíveis. A
atriz portuguesa Alba Baptista convence do deslumbramento inicial da personagem
em conseguir voltar a se mover e seu desejo de ter uma vida normal, dando a Ava
energia e senso de humor que nos faz conectar com a protagonista. A série
abraça a natureza pulp de sua premissa
e nunca cai na besteira de se levar mais a sério do que deveria.
Na verdade, o elenco é uma das maiores virtudes da série, já
que as integrantes da equipe de freiras guerreiras que auxilia Ava tem seus
momentos sob os holofotes, com motivações e personalidades razoavelmente bem
construídas. Entendemos, por exemplo, a obstinação de Shotgun Mary (Toya
Turner) em descobrir quem matou a antecessora de Ava ou a frustração de Lilith
(Lorena Andrea) em ter seu destino roubado de si, já que ela estava destinada a
receber o Halo. Essas personagens convencem também do laço de amizade e
confiança que aos poucos vai se formando entre elas e Ava. Assim, quando todas
se unem para lutar juntas no clímax do último episódio, soa como um momento
merecido, construído ao longo da temporada.
Até mesmo a cientista Jillian Salvius (Thekla Reuten) que
inicialmente aparece como antagonista, tem uma explicação compreensível para
ser quem é. A série é inteligente, inclusive, em não fazer dela uma vilã, já
que seria irresponsável e obscurantista colocar a ciência como inimiga e a
Igreja como heroica em pleno 2020. Ao invés disso, a série explora a corrupção
dentro da própria Igreja e como a fé tem sido usada há séculos como instrumento
de poder e controle.
A narrativa, no entanto, se arrasta e parece caminhar em
círculos durante a metade da temporada, mais ou menos do quarto ao sétimo
episódio, no qual não acontece muito além de Ava vagando, tentando fugir de seu
destino enquanto Mary e Lilith estão atrás dela. Sim, esses episódios dão algum
desenvolvimento para personagens coadjuvantes, mas, ao mesmo tempo, fica a
impressão de que a trama principal não vai a lugar algum. Os últimos episódios
até trazem uma boa dose de reviravoltas que surpreendem, mas o final peca pelo
desfecho súbito, que ao invés de funcionar como gancho soa frustrantemente como
algo incompleto, como se o arco da temporada não tivesse sido satisfatoriamente
fechado e tivesse sido abruptamente cortado e jogado para uma segunda
temporada.
As cenas de ação são bem coreografadas e tendem a usar
poucos cortes, ressaltando a continuidade e fluidez dos golpes, mostrando o
quanto essas guerreiras podem ser letais, usando criativamente suas armas e
habilidades. Os efeitos especiais, em especial a computação gráfica que cria as
criaturas demoníacas, soa datada e artificial na maioria dos casos, parecendo
algo de mais de uma década atrás, o que faz os demônios soarem menos
ameaçadores do que deveriam.
A primeira temporada de Warrior
Nun acerta na ação e no carisma de suas protagonistas, mas peca em um ritmo
que resiste a levar a trama para frente e um desfecho súbito que mais frustra
do que cria ansiedade para a próxima temporada.
Nota: 6/10
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