segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Crítica – Desvio de Rota

Análise Crítica - Desvio de Rota


Review - Desvio de Rota
Confesso que este Desvio de Rota, que chegou ao Brasil direto em serviços digitais, me pegou de surpresa em alguns aspectos. Não que seja um filme exatamente bom, mas considerando as performances que Bella Thorne e Jessie T. Usher vem entregando ultimamente, não imaginei que eles trariam atuações tão consistentes. Uma pena, porém, que o roteiro não está a altura do comprometimento dos atores.

James (Jessie T. Usher) sonha em vencer como ator em Hollywood e enquanto seu sonho não chega trabalha como motorista de aplicativo. Um dia Jessica (Bella Thorne) entra em seu carro e eles tem uma boa conversa, mas James reluta em chamá-la para sair. Na mesma noite James pega o estranho Bruno (Will Brill), que o encoraja a ir atrás de Jessica.

Inicialmente o filme funciona bem como uma história de pessoas errantes se encontrando por conta dos caprichos de algoritmos digitais. Os momentos em que os personagens dialogam sobre suas vidas, seus anseios e problemas trazem emoções bastante genuínas, com Usher, Thorne e Brill entregues a seus personagens e nos fazendo acreditar em cada um deles.

Um dos momentos mais eficientes é quando James resolve mostrar seu talento como ator e recita um monólogo de Shakespeare enquanto marquises de cinemas ou a fachada do prédio do SAG (o sindicato dos atores dos EUA) são refletidos nos vidros do carro. O contraste de James preso em seu carro dando tudo de si em uma atuação enquanto é atacado por imagens de locais nos quais quer estar e não consegue traduz de maneira inteligente o quanto ele está longe de alcançar seu sonho.

Porém quando entra totalmente no reino do suspense e transforma Bruno plenamente em vilão, a trama se torna colossalmente menos interessante. Primeiro porque apesar das pretensões de falar sobre os problemas de uma sociedade sempre conectada, não tem muito a dizer além do clichê de que interagir com completos desconhecidos pode ser perigoso. Segundo porque o texto dá guinadas cada vez mais absurdas e as ações dos personagens vão se tornando exponencialmente mais estúpidas.

Não faz sentido, por exemplo, que Jessica não tente avisar o balconista da farmácia que está sendo feita refém passando um bilhete ou fazendo algum sinal. O fato da personagem ver na televisão da farmácia, justamente no momento em que entra no local, uma notícia que ajudaria a entender o que está acontecendo, soa como algo excessivamente conveniente.

Do mesmo modo, o desfecho com Jessica e James simplesmente indo embora e largando Bruno sozinho para continuar sua noite predatória não faz o menor sentido. Claro, é compreensível que Jesse não queira matá-lo, mas porque não recuperar o celular, que estava na jaqueta de Bruno, e chamar a polícia para garantir que ele não faça mal a mais ninguém? Ele poderia manter Bruno sob a mira da arma e pedir a Jessica para bater nas casas próximas e chamar as autoridades ou qualquer coisa similar.

Há um claro empenho do elenco de Desvio de Rota em fazer o filme funcionar, infelizmente esses esforços são sabotados por um roteiro raso que não faz muito além de repetir clichês batidos sobre tecnologia e comodismo. O início demonstra potencial, mas a guinada para o suspense o transforma em uma cópia ruim de Colateral (2004).

 

Nota: 4/10


Trailer

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