quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Crítica – Jeffrey Epstein: Poder e Perversão

 

Resenha Crítica – Jeffrey Epstein: Poder e Perversão

Análise Crítica – Jeffrey Epstein: Poder e Perversão
Eu acompanhei apenas superficialmente o caso da prisão e eventual suicídio do financista bilionário Jeffrey Epstein em 2019. Sabia muito pouco sobre ele, exceto que ele tinha um esquema internacional de pedofilia e que ao redor dele gravitavam figuras de diferentes níveis de poder, incluindo o príncipe Andrew da Grã Bretanha. A minissérie Jeffrey Epstein: Poder e Perversão oferece um retrato amplo dos crimes e abusos cometidos pelo bilionário e de como ele evadiu a lei durante décadas.

Através de entrevistas, imagens de arquivo e outros documentos, o documentário narra a trajetória de Epstein até se tornar um bilionário, intercalando a trajetória dele com testemunhos de mulheres abusadas por ele quando ainda eram menores de idade. Os testemunhos de abuso são fortes em sua natureza descritiva, com a voz e a linguagem corporal das sobreviventes explicitando para nós que não se trata de um trauma passado, mas de algo que se manifesta no presenta. A dor está inscrita em seus corpos e se torna transparente para nós conforme ouvimos seus relatos.

Os relatos são inclusive consistentes entre si, mostrando que havia um padrão claro nas ações de Epstein e no modo como o bilionário e sua namorada na época, a britânica Ghislaine Maxwell, aliciavam as meninas e abusavam delas (sim, segundo testemunhos Ghislaine estava presente em alguns dos estupros, algo digno de The Handmaid’s Tale). O fato de muitas mulheres de diferentes lugares do mundo que não se conheciam contarem histórias tão semelhantes e com os mesmos padrões de comportamento dos agressores (além de muitas vezes mostrarem fotografias e outras provas materiais) reforça a ideia de que Epstein era um predador com claras preferências, escolhendo cuidadosamente suas vítimas e sabendo o momento certo de explorar suas vulnerabilidades.

O documentário foca principalmente no relato das vítimas, antigos parceiros de negócios, ex-funcionários e policiais que o investigaram. O fato de pessoas próximas a Epstein não aparecerem poderia dar a impressão de um registro muito parcial e enviesado, mas vários letreiros ao longo dos quatro episódios explicam que personalidades como Ghislaine e outros mais próximos se negaram a dar entrevista e apenas soltaram um comunicado negando o envolvimento com os esquemas de pedofilia e tráfico de mulheres de Epstein.

Mais do que retratar os padrões de abuso, o documentário mostra como as estruturas de poder vigente trabalharam ao longo de décadas para manter Epstein impune, de suas fraudes de currículo para conseguir emprego em Wall Street, a esquemas de fraude financeira operados por ele, passando pelas primeiras denúncias de pedofilia e tráfico de mulheres.

Há um retrato das estruturas machistas presentes na sociedade, que na década de noventa se recusaram a ouvir ou levar a sério o relato das vítimas, tratando-as como prostitutas (e como se ser prostituta as tornasse indignas de empatia) ou ex-amantes ressentidas. Também estão presentes questões de classe social e como alguém rico e politicamente conectado como Epstein simplesmente podia ligar para um promotor estadual e enterrar um caso contra ele fazendo um acordo unilateral que o deixaria apenas pouquíssimos dias na cadeia (e em regime semi-aberto ainda por cima) sem qualquer contrapartida para o Estado ou para as vítimas. O episódio final ainda se detém em analisar as circunstâncias questionáveis do suicídio do bilionário na prisão, inclusive apresentando alguns indícios de que talvez não tenha sido suicídio, mas deixa a questão no ar, já ainda não há uma resposta definitiva (e talvez nunca tenhamos).

Com um extenso trabalho de pesquisa e investigação, Jeffrey Epstein: Poder e Perversão é um relato impactante dos abusos cometidos pelo bilionário Jeffrey Epstein e das maneiras que ele conseguiu evadir a lei durante anos.

 

Nota: 8/10


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