Na trama, o durão agente JJ (Dave Bautista) é colocado para vigiar a família de um criminoso internacional que está foragido. JJ, no entanto, acaba se aproximando da garota Sophie (Chloe Coleman) e da mãe dela, Kate (Parisa Fitz-Henley) e daí tudo transcorre sem surpresas. É óbvio que na aproximação de JJ e Sophie um aprenderá com o outro, JJ se torna menos bruto e com mais traquejo social, Sophie aprende a ter mais confiança em si mesma.
Bautista dá ao seu agente uma vulnerabilidade por baixo de sua fachada dura, enquanto que Coleman demonstra uma inesperada sabedoria sem exatamente cair nos clichês de criança precoce genérica. Apesar da química, a relação dos dois é prejudicada pelo roteiro, no qual a aproximação de JJ da família de Sophie se dá muito por chantagens emocionais e manipulações da menina para forçar uma aproximação entre JJ e a mãe dela. Essa “operação cupido” da garota deveria ser adorável, mas da maneira como é construída soa mais ardilosa e manipulativa do que fofa.
Outro problema é que em dado momento o filme deixa de lado a relação entre Sophie e JJ para focar em criar um enlace romântico entre o agente e Lisa, afastando a narrativa daquilo que é seu melhor elemento. Não ajuda a inconsistência nas ações de alguns personagens, cujas atitudes parecem mais servir ao roteiro do que a uma conduta orgânica e crível.
Em uma cena, por exemplo, Lisa e JJ vão a um restaurante e começam a conversar. Lisa faz uma pergunta a JJ sobre o passado dele, mas antes que o agente tenha chance de responder, ela o chama para dançar. Se a personagem não tinha o menor interesse em ouvi-lo, porque fez a pergunta? A impressão é que o diálogo está ali só para que a gag de JJ dançando de uma maneira tosca não comece do nada. Bobbi (Kristen Schaal), a parceira de JJ fica com ciúme da proximidade do protagonista com Sophie e considera a menina chata e insuportável até ter uma cena sozinha com ela e magicamente passa a adorar a garota.
O que mais incomoda, no entanto, é como muitas cenas chave do filme, sejam momentos de comédia, são completamente copiados de outros filmes. A cena em que JJ treina Sophie e pede que ela consiga aparecer em uma das varandas no prédio na frente deles é idêntica ao treinamento de Brad Pitt em Jogo de Espiões (2001), até o enquadramento e o aceno que Sophie faz quando aparece na varanda são iguais ao filme de 2001.
Em outro momento, Bobbi derruba uma submetralhadora em uma escada de maneira completamente igual ao que Jamie Lee Curtis faz em True Lies (1994). A batalha final contra o vilão é uma cópia de uma cena da franquia Indiana Jones (o fato dos personagens reconhecerem isso não torna mais engraçado). Enfim, é um produto construído em cima de reciclagem de conteúdo sem construir uma personalidade própria.
Há também a questão de não saber para que público quer se direcionar. É ingênuo e pueril demais para funcionar para um público mais adolescente e adulto, mas tem violência e palavrões o bastante para não ser recomendado a crianças pequenas (no Brasil a classificação é 12 anos, nos EUA foi PG-13). Assim, fica a impressão de algo que não apela especificamente a nenhum segmento específico.
Apesar de protagonistas carismáticos, Aprendiz de Espiã esbarra em um roteiro problemático e em piadas
requentadas de outros filmes, resultando em um produto desinteressante e
carente de personalidade.
Nota: 4/10
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