Enola (Millie Bobby Brown) cresce sozinha com a mãe Eudoria (Helena Bonham Carter) na propriedade rural dos Holmes. Eudoria faz questão de educar Enola em artes, ciências, criptografia e até em combate. As duas se tornam muito próximas até que um dia Eudoria desaparece misteriosamente e Enola é colocada sob os cuidados do irmão mais velho Mycroft (Sam Claflin), que decide mandá-la para um colégio interno para aprender a ser uma dama da sociedade. Sem interesse nisso e sem auxílio do irmão Sherlock (Henry Cavill) para dissuadir Mycroft, Enola decide fugir e investigar o desaparecimento da mãe por conta própria.
A ligação entre Enola e Eudoria é o ponto forte da narrativa, com os primeiros minutos nos fazendo entender como a mãe é tão central na vida da protagonista ao ponto dela arriscar tudo para encontrá-la. O sumiço de Eudoria e a chegada dos irmãos que insistem em torná-la uma dama serve de contraponto para a relação da protagonista com a mãe. Se Eudoria queria uma Enola independente e emancipada, Mycroft quer apenas que ela se encaixe no papel social aferido à mulher pela sociedade da época. Se Eudoria fazia parte do movimento sufragista e militava por direitos iguais, Mycroft parece querer manter as coisas exatamente como estão.
Tudo isso poderia render uma discussão sobre feminismo e estruturas de poder da sociedade, mas quando a trama começa a se aproximar das respostas sobre o sumiço de Eudoria, tudo dá uma guinada brusca para que Enola investigue a tentativa de assassinato ao jovem lorde Tewkesbury (Louis Patridge). A partir desse ponto a narrativa praticamente abandona todos os seus temas e ideias centrais para focar em Enola e no jovem lorde, deixando tudo bem menos envolvente.
Enola e Tewkesbury seguem o clichê do casal que se detesta, fica trocando farpas o tempo inteiro, mas que eventualmente aprendem a gostar um do outro. Ao menos o roteiro não força um romance entre dois, mas, ao mesmo tempo, a dinâmica entre eles tem pouco a acrescentar ao desenvolvimento da protagonista. Com isso a relação de Enola com a mãe e o envolvimento de Eudoria com possíveis atentados terroristas em nome do movimento sufragista é esquecido pelo filme até os seus minutos finais, perdendo de vista aquilo que tinha atraído nossa atenção para a narrativa no começo.
Claro, a trama de Tewkesbury eventualmente se conecta com a das sufragistas, mas é muito pouco, muito tarde. Mais que isso, o roteiro deixa pouco tempo para que Enola resolva suas questões com a mãe, com o diálogo final entre elas soando muito breve e muito superficial tendo em vista a complexidade moral das ações (ainda que apenas planejadas) de Eudoria. O resultado é um desfecho insatisfatório, que não resolve nenhum dos temas ou relações que apresentou, correndo para amarrar tudo de qualquer jeito.
Enola Holmes até
começa promissor ao apresentar a complicada dinâmica da família Holmes, mas
perde força ao abandonar suas principais ideias para priorizar um mistério pouco
envolvente.
Nota: 5/10
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