terça-feira, 29 de setembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Katamari Damacy

 

Análise Crítica - Katamari Damacy

Review - Katamari Damacy
Lançado em 2004 para o Playstation 2, Katamari Damacy é um dos games mais estranhos com os quais eu tive contato. A esquisitice e a personalidade singulares provavelmente foi o que garantiu a longevidade da franquia, que ganhou algumas continuações e também um remaster para Nintendo Switch e PC em 2018 intitulado Katamari Damacy Reroll. É com base na versão do Switch desse remaster que escrevo esse texto.

Katamari Damacy Reroll parte de uma premissa totalmente aloprada. Em uma noite de bebedeira o Rei de Todo Cosmos derruba todas as estrelas do céu. Agora cabe ao jogador, controlando o Príncipe, o filho do rei, resolver tudo e restaurar as estrelas. Como o príncipe fará isso? Rolando um katamari para criar novas estrelas. “O que é um katamari?”, vocês me perguntam, bem um katamari é uma espécie de bola grudenta que absorve qualquer coisa menor que ela e vai aumentando de tamanho conforme o jogador vai grudando coisas nela.

Assim, se inicialmente você começa as fases com katamaris com alguns centímetros, grudando tachinhas ou pacotes de chiclete, rapidamente você tem uma bola com dezenas de metros e já está grudando pessoas, árvores, carros e outras coisas maiores. Crescendo o katamari o suficiente é possível chegar a níveis apocalípticos de tamanho, grudando prédios, navios cargueiros e até as nuvens.

O jogo é basicamente um quebra-cabeças dividido em diferentes fases. Essas fases normalmente dão ao jogar uma quantidade de tempo limitado para alcançar um tamanho específico de katamari. Para isso é preciso navegar por esses estágios com cuidado, coletando objetos menores, mas evitando esbarrar em objetos maiores ou em pessoas e animais em movimento, pois esses impactos derrubam as coisas grudadas no katamari, fazendo seu tamanho diminuir. Isso dá muito estímulo para jogarmos cada nível diversas vezes, buscando as rotas mais eficientes para crescer rapidamente no nível e tentar chegar a tamanhos cada vez maiores.

Essa lógica de crescimento também implica que nos níveis são constantemente ressignificados e recontextualizados conforme a bola aumenta. Enche cada fase com um senso de descoberta conforme o katamari cresce e conseguimos acessar novas áreas cheia de novas coisas para absorver. Assim, cada fase também é dotada de um senso de exploração e descoberta que estimula que as revisitemos para checar se conseguimos encontrar tudo.

Algumas fases mexem um pouco com a fórmula ao pedir que o príncipe refaça algumas constelações. Nesses níveis, ao invés de precisar chegar a um tamanho específico, é preciso coletar o maior número possível de um determinado objeto. Quer reconstruir Peixes? Basta rolar seu katamari sobre todos os peixes que encontrar. Para refazer Câncer é preciso grudar todos os caranguejos do cenário e para reconstruir virgem é preciso...err...bem...coletar virgens, o que significa que seu katamari logo se torna um amontoado de braços e pernas chacoalhando desesperadamente, provavelmente aterrorizados em serem absorvidos nessa bola cósmica. Essas fases não tem condição de falha, mas estimulam a exploração para que consigamos 100% do objeto alvo. Além disso, divertem pela pura bizarrice dos objetivos.

Visualmente a principal alteração desse remaster é melhorar a resolução da imagem para que se adeque às novas telas, deixando intocado o estilo low-poly, com objetos criados por um baixo número de polígonos, do jogo original. O que é ótimo, já que essa estética de poucos polígonos e cores pasteis continua funcionando perfeitamente ainda hoje, conferindo um charme e personalidade ao game. Também repletas de personalidade são as cenas bizarras envolvendo o Rei de Todo Cosmos, uma espécie de divindade excêntrica com uma cabeça cilíndrica e que vomita arco-íris. Toda cena em que ele aparece soa um misto de delírio febril com uma viagem em drogas psicotrópicas pesadas.

A trilha musical também é marcante e cheia de personalidade, misturando baladas pop com faixas cujos arranjos instrumentais remetem a samba, outras com batidas eletrônicas e também temas que mais parecem um new wave relaxante. São músicas que ficam na cabeça mesmo depois de desligarmos nosso console. Essa personalidade singular dos visuais e da música contribui para uma experiência memorável, que sempre coloca um sorriso no rosto, mesmo com a curta duração do game, já que em cerca de cinco ou seis horas é possível terminar tudo.

Controlar o katamari é um pouco complicado e demora um pouco para se acostumar ao esquema de controle. A impressão é que em algum grau essa dificuldade é proposital, nos fazendo sentir que essa grande bola de coisas heterogêneas coladas nela deveria ser mesmo algo desajeitado e não muito fácil de manejar. Por outro lado algumas escolhas tornam a experiência um pouco mais frustrante do que deveria. A câmera fica muito próxima do katamari, o que dificulta ver o que está ao nosso redor para planejarmos nossa rota ou vermos objetos maiores ou em movimento se aproximando. Sim, é possível fazer o príncipe sobrevoar o cenário para ver melhor, mas ter que fazer isso constantemente quebra o ritmo da jogabilidade.

No Switch há três esquemas de controle, um que usa as duas alavancas analógicas para rolar o katamari, um segundo esquema em que a alavanca da esquerda rola o katamari e a da direita é usada para reposicionar o príncipe em relação à bola. O terceiro esquema é usar a função de controle de movimento dos joy-cons, algo que não recomendo, já que ele nem sempre registra seus movimentos com precisão e acaba sendo mais frustrante do que divertido ou imersivo.

Katamari Damacy Reroll é uma ótima maneira de retornar a esse jogo excêntrico, que conquista pela premissa insólita e personalidade pitoresca de seus personagens e estética.


Trailer

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