Isso coloca o pacato casal na mira de bandidos, que invadem a casa para conseguir a boneca. Susy, no entanto, chega mais cedo em casa e os três criminosos, Roat (Alan Arkin), Mike (Richard Crenna) e Carlino (Jack Weston), resolvem tirar vantagem da cegueira de Susy montando um ardil para convencê-la de que a boneca é prova do envolvimento de Sam em um crime, convencendo a mulher a dizer para eles onde a boneca está.
Muito da tensão acontece do fato de termos acesso a mais informação do que a protagonista. Sabemos de antemão que Roat, Mike e Carlino estão mentindo para enganar Susy e tememos pela personagem por ela não saber o que se passa e não perceber que eles estão tirando vantagem da cegueira dela, tentando silenciosamente vasculhar o apartamento enquanto um deles a mantem distraída. Situado em praticamente uma única locação, a narrativa usa esse espaço limitado a seu favor, criando uma sensação de clausura em relação a Susy, literalmente confinada, ainda que sem saber, nesse espaço com pessoas que desejam lhe fazer mal.
É aí que entra o cuidadoso trabalho de sonorização em ilustrar cada passo dos personagens, cada movimento de abrir ou fechar persianas, cada gaveta aberta ou número discado no telefone. É através desses sons que Susy vai aos poucos se dando conta de que tem algo errado e que os sujeitos em sua casa provavelmente não estão lhe dizendo a verdade. É por conta do som das persianas, por exemplo, que ela suspeita que os bandidos estão sinalizando um ao outro, já que é noite e não há motivo para abrir as cortinas.
Aos poucos Susy vai usando sua percepção auditiva para entender o que se passa e vai tentando virar o jogo em cima dos criminosos, deixando que eles a subestimem apenas para pegá-los nas contradições de suas mentiras. A trama vai dando cuidadosamente as pistas sonoras que a personagem precisa, então quando ela efetivamente tem uma noção do que realmente está acontecendo, soa como um desenvolvimento crível e merecido.
O clímax, quando a protagonista confronta os criminosos faz um bom uso do contraste entre luz e sombra para criar tensão. Susy apaga todas as luzes do apartamento para se colocar em uma situação de vantagem diante dos adversários e esses espaços pouco iluminados dão um sentimento de imprevisibilidade, de que mesmo em desvantagem numérica Susy pode ser capaz de levar a melhor. Claro, as coisas não são tão simples e o filme insere uma boa dose de reviravoltas e eventos inesperados para nos manter em suspense.
É por conta desse manejo competente do suspense e do uso do
som para demonstrar como a protagonista cega consegue perceber o mundo a sua
volta que Um Clarão nas Trevas faz
valer a experiência.
Trailer
Bom mesmo. O trailer é uma potência!
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