terça-feira, 22 de setembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Um Clarão nas Trevas

 

Análise Crítica – Um Clarão nas Trevas

Review – Um Clarão nas Trevas
Lançado em 1967 adaptando uma peça escrita por Frederick Knott, Um Clarão Nas Trevas chama atenção pela construção do suspense e por seu trabalho de uso do som. A trama é centrada em Susy (Audrey Hepburn) uma mulher que se tornou cega há pouco tempo e ainda está se acostumando a viver sem a visão. O marido de Susy, Sam (Efrem Zimbalist Jr), chega de viagem trazendo uma boneca, sem saber que o brinquedo está cheio de drogas escondidas dentro dele.

Isso coloca o pacato casal na mira de bandidos, que invadem a casa para conseguir a boneca. Susy, no entanto, chega mais cedo em casa e os três criminosos, Roat (Alan Arkin), Mike (Richard Crenna) e Carlino (Jack Weston), resolvem tirar vantagem da cegueira de Susy montando um ardil para convencê-la de que a boneca é prova do envolvimento de Sam em um crime, convencendo a mulher a dizer para eles onde a boneca está.

Muito da tensão acontece do fato de termos acesso a mais informação do que a protagonista. Sabemos de antemão que Roat, Mike e Carlino estão mentindo para enganar Susy e tememos pela personagem por ela não saber o que se passa e não perceber que eles estão tirando vantagem da cegueira dela, tentando silenciosamente vasculhar o apartamento enquanto um deles a mantem distraída. Situado em praticamente uma única locação, a narrativa usa esse espaço limitado a seu favor, criando uma sensação de clausura em relação a Susy, literalmente confinada, ainda que sem saber, nesse espaço com pessoas que desejam lhe fazer mal.

É aí que entra o cuidadoso trabalho de sonorização em ilustrar cada passo dos personagens, cada movimento de abrir ou fechar persianas, cada gaveta aberta ou número discado no telefone. É através desses sons que Susy vai aos poucos se dando conta de que tem algo errado e que os sujeitos em sua casa provavelmente não estão lhe dizendo a verdade. É por conta do som das persianas, por exemplo, que ela suspeita que os bandidos estão sinalizando um ao outro, já que é noite e não há motivo para abrir as cortinas.

Aos poucos Susy vai usando sua percepção auditiva para entender o que se passa e vai tentando virar o jogo em cima dos criminosos, deixando que eles a subestimem apenas para pegá-los nas contradições de suas mentiras. A trama vai dando cuidadosamente as pistas sonoras que a personagem precisa, então quando ela efetivamente tem uma noção do que realmente está acontecendo, soa como um desenvolvimento crível e merecido.

O clímax, quando a protagonista confronta os criminosos faz um bom uso do contraste entre luz e sombra para criar tensão. Susy apaga todas as luzes do apartamento para se colocar em uma situação de vantagem diante dos adversários e esses espaços pouco iluminados dão um sentimento de imprevisibilidade, de que mesmo em desvantagem numérica Susy pode ser capaz de levar a melhor. Claro, as coisas não são tão simples e o filme insere uma boa dose de reviravoltas e eventos inesperados para nos manter em suspense.

É por conta desse manejo competente do suspense e do uso do som para demonstrar como a protagonista cega consegue perceber o mundo a sua volta que Um Clarão nas Trevas faz valer a experiência.


Trailer

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