O Brasil nunca passou plenamente à limpo o período da
ditadura militar. Nunca confrontamos diretamente o que aconteceu naquele
momento da nossa história tampouco conseguimos resgatar ou trazer à tona os
eventos que foram ocultados e enterrados. Essas lacunas na memória do período e
ausência reverberam ainda hoje e são parte das razões de nos últimos anos
termos visto a ascensão de negacionistas históricos a altos cargos de poder.
Este Torre das
Donzelas toma para si a tarefa de reconstruir parte dessas memórias do
período da ditadura e violações cometidas pelo regime ao contar a história de
mulheres que foram presas e torturadas nesta época. O filme conta a história de
detentas do Presídio Tiradentes, apelidado de Torre das Donzelas justamente por
ser um presídio feminino.
O documentário ouve diferentes ex-detentas do local,
inclusive a ex-presidente Dilma Roussef, transformando o testemunho dessas
mulheres no principal meio de reconstrução desse passado ausente do qual não há
registro formal. Durante os testemunhos vemos como a memória não se apresenta
apenas na fala das entrevistadas, mas também em seus corpos, no modo como elas
reagem quando entram no espaço vazio de ficavam suas antigas celas. As vozes
embargadas, as inflexões tremidas presentes em momentos que mencionam algumas
das experiências mais traumáticas mostram como elas ainda carregam consigo as
marcas do passado.
O primeiro Borat (2006)
chamava atenção por suas imagens de cunho semi-documental na qual o fictício
repórter do Cazaquistão interagia com pessoas reais dos Estados Unidos e
expunha o preconceito, a intolerância e a xenofobia do país. Repetir esse tipo
de personagem hoje, mais de uma década depois, e com o fato dos EUA terem um
presidente que costumeiramente dá declarações abertamente racista, além de
literais nazistas fazendo marchas pelas ruas, provavelmente não traria o mesmo
impacto. O comediante Sacha Baron Cohen parece saber disso e neste Borat: Fita de Cinema Seguinte investe
mais em uma trama melhor construída e menos nesses esquetes soltos em que ele
interage com anônimos.
Na trama, descobrimos que depois dos eventos do primeiro
filme Borat (Sacha Baron Cohen) ficou preso em uma gulag sendo submetido a trabalhos forçados. Ele é retirado da gulag a pedido do primeiro ministro do
Cazaquistão, que lhe dá a missão de ir aos Estados Unidos para entregar um
presente ao vice-presidente Mike Pence e assim recuperar o prestígio do
Cazaquistão. Na viagem Borat é acompanhado por Tutar (Maria Bakalova), a filha
caçula que ele nem sabia que tinha. Assim, a narrativa é mais sobre essa
relação entre Borat e Tutar do que os momentos semi-documentais, ainda que eles
continuem presentes.
Produzido pela Blumhouse,
o terror Noturno parte da familiar
premissa do conflito entre duas irmãs. Juliet (Sydney Sweeney) e Vivian
(Madison Iseman) são gêmeas que estudam em um colégio interno voltado para o
ensino de artes e ambas estudam piano. Vivian é popular, tem o melhor professor
de piano da escola e conseguiu ser aceita na prestigiosa Julliard. Juliet, por
outro lado, não tem nada disso. Farta de viver à sombra da irmã, Juliet vê uma
oportunidade ao encontrar o caderno de uma colega que cometeu suicídio. No
caderno ele encontra desenhos macabros que talvez tenham um significado oculto
que a ajude a ter sucesso.
O primeiro acerto do filme é manter ambíguos seus elementos
sobrenaturais. Afinal, Juliet de fato vendeu a alma ao diabo para conseguir
superar a irmã? Ou na verdade ela está surtando por conta da pressão e
ansiedade que sente ao não corresponder ao que os pais e ela mesma espera de si?
Essa incerteza contribui para boa parte do suspense e da tensão, já que não
sabemos com certeza qual a causa dos problemas da protagonista. Nesse sentido,
a trama consegue criar imagens bem sinistras quando Juliet parece ver os
desenhos do caderno ganhando vida diante de seus olhos.
Dirigido por Dave Franco este Vigiados começa como um suspense no qual as tensões emergem das
relações problemáticas entre os protagonistas. O que começa promissor, logo se
torna desinteressante quando chega o momento de fazer as tensões de fato
explodirem.
Na trama, dois casais alugam uma luxuosa casa à beira mar
para passar um final de semana. Charlie (Dan Stevens) e Michelle (Alison Brie)
vão para a propriedade acompanhados de Josh (Jeremy Allen White), irmão de
Charlie, e Mina (Sheila Vand), namorada de Josh e sócia de Charlie. A chegada à
casa traz algumas tensões envolvendo o preconceituoso gestor da propriedade e,
aos poucos, percebemos também que a relação entre os quatro não é o que parece,
com muitas tensões latentes.
A primeira metade da narrativa trabalha com certa habilidade
as tensões subjacentes entre esses protagonistas. De maneira muito sutil vemos
como Charlie e Josh guardam certas mágoas em relação ao outro, como Michelle
parece deslocada em seu relacionamento com Charlie ou a impressão de que Mina e
Charlie talvez tenham algo mais entre eles além de serem apenas parceiros de
negócios.
Nas duas partes anteriores da análise de Lovecraft Country falei como a série
trabalhava com vários elementos típicos do terror e da fantasia para falar de
elementos da experiência negra nos EUA. Avisamos que o texto abaixo contem
SPOILERS.
A questão da brutalidade policial, por exemplo, aparece no
oitavo episódio, que lida com o trauma coletivo da morte de Emmett Till, um
brutal crime real que chocou (e choca ainda hoje) tanto pela violência do crime
quanto pela sua motivação banal (ele supostamente teria assoviado para uma
mulher branca) e pelo fato dos assassinos terem ficado impune.
A ideia de que as autoridades detêm um controle e poder
sobre as vidas da população negra é ilustrada pelo arco de Dee (Jada Harris) ao
longo do episódio. Amaldiçoada por um policial que faz parte do culto em busca
do sangue de Tic, Dee começa a ser perseguida por duas entidades que se parecem
como duas garotas gêmeas em blackface,
maquiadas para reproduzirem traços da população negra de maneira caricatural e
deturpada. A lógica da maldição se assemelha a da criatura de Corrente do Mal(2014), que não para de
seguir o alvo até matá-lo, enquanto da ideia de alguém ser perseguido por um
duplo deturpado remete a Nós(2018),
do Jordan Peele, um dos produtores da série.
Na primeira parte do texto sobre Lovecraft Country, falei sobre como a série usava o terror e a
fantasia para abordar os elementos das vivências negras nos EUA, usando
monstros, assombrações, cultos e outros elementos como metáforas para processos
de racismo, exploração e desigualdade social. Nessa segunda parte vou tentar
observar como a série lida com questões de identidade e a construção de papeis
sociais aferidos a negros ou a mulheres. Avisamos que o texto contem SPOILERS.
O quarto episódio continua a expandir o jogo que a série faz
com certos elementos da ficção de horror, fantasia ou aventura ao inserir os
personagens em uma trama que poderia tranquilamente ter saído de filmes como Indiana Jones ou A Lenda do Tesouro Perdido (2004). Ao procurar um cofre secreto do
culto liderado pela família Braithwhite, eles começam a explorar as catacumbas
de um museu que, logicamente, está repleta de armadilhas.
Os diálogos entre Tic, Leti e Montrose explicitam a natureza
autoconsciente do episódio, com o trio usando o conhecimento de narrativas de
aventura para pautar como devem prosseguir pelos testes e tribulações impostos
pelo labirinto. Até mesmo a música de fundo do episódio, com um uso constante
de instrumentos metálicos, remete às composições de John Williams para os
filmes do Indiana Jones.
Em 1962 John F. Kennedy disse em um discurso algo que em
português poderia ser traduzido como “aqueles que fazem revoluções pacíficas
serem impossíveis, tornam revoluções violentas inevitáveis”. Essa frase não
está ligada aos eventos reais retratados neste Os 7 de Chicago, produção da Netflix escrita e dirigida por Aaron
Sorkin, mas veio à minha mente em alguns momentos durante o filme.
A trama narra os eventos reais do julgamento de sete líderes
de movimentos contra a Guerra do Vietnã, presos sob a acusação de terem
incitado a multidão contra a polícia de Chicago durante um protesto que
terminou de maneira violenta. Chamados de “os 7 de Chicago”, o julgamento do
grupo teve alta cobertura da imprensa e chamou a atenção pelo modo como muito
do devido processo legal era jogado pela janela apenas para condená-los.
O estilo de Sorkin já se manifesta na montagem inicial que
traz imagens de arquivo sobre os protestos contra o Vietnã que já aconteciam
anos antes dos eventos em Chicago. Imagens de Martin Luther King e Robert
Kennedy discursando contra a guerra são abruptamente interrompidas por uma tela
preta acompanhada pelo som de tiros para nos lembrar que eles foram
assassinados e denotar o silenciamento das vozes que se manifestavam contra o
Vietnã. A ideia parece associar como esse sistemático esforço de suprimir vozes
e ações contra a guerra desembocaram nos protestos de Chicago.
Os primeiros trailers de Genshin
Impact chamavam atenção pelo tanto que os gráficos e jogabilidade pareciam
similares a The Legend of Zelda: Breath
of the Wild ao ponto que indagações a respeito se isso configuraria plágio
ou não começavam a ser ventiladas. As preocupações sobre o jogo aumentaram
quando foi anunciado que seria um RPG gratuito com mecânicas de microtransações
para obter mais personagens e equipamentos, o que levantava a questão se ele
seria mais um daqueles jogos gratuitos impossíveis de progredir sem gastar.
Lançado recentemente para Playstation 4, PC e celulares, Genshin Impact de fato tem muito de similar a Breath of the Wild e de fato possui microtransações, mas também tem
alguns méritos próprios que fazem a experiência valer a pena.
A história se passa no mundo de Teyvat no qual algumas
pessoas escolhidas por deuses recebem uma Visão, pedras mágicas que conferem
poderes especiais aos portadores. O jogador começa como um viajante vindo de
outro mundo tentando encontrar a irmã (ou irmão, depende de qual personagem
você escolher no início) de quem se perdeu. A partir daí se inicia uma longa
jornada por este mundo para desvendar seus segredos e as verdades ocultas sobre
os deuses.
Adaptando o livro Território
Lovecraft de Matt Ruff, a série Lovecraft
Country traz uma releitura da mitologia criada pelo autor H.P Lovecraft,
bem como de vários outros elementos típicos do terror e da fantasia, a partir
das experiências da população negra dos Estados Unidos. É um movimento
importante não apenas por questões de representatividade, mas por tentar
responder a questão do que fazemos com as obras de autores que sabemos terem
sido péssimas pessoas?
Lovecraft era racista. Quando digo isso não quero dizer que
ele apenas aderia ao racismo estrutural de sua época como a maioria das pessoas
brancas que lhe eram contemporâneas. Lovecraft era ativamente racista, adepto a
um discurso de supremacia branca que ia muito além do racismo estrutural. Nesse
sentido, reapropriar a obra dele a partir da cultura e da vivência negras é um
modo de revelar como a obra pode ir além do autor, pode sobreviver às
limitações e falhas dele, pode até ser usada para tentar reparar a visão de
mundo excludente e preconceituosa que esse autor ajudou a disseminar.
A trama da série se passa nos Estados Unidos da década de 50
e é focada em Atticus (Jonathan Majors), também chamado de Tic. Quando o pai de
Tic, Montrose (Michael K. Williams), desaparece misteriosamente ele, a amiga
Leti (Jurnee Smolett) e o tio George (Courtney B. Vance) embarcam em uma viagem
pelo interior dos EUA. A viagem os colocará em rota de colisão com um antigo e
poderoso culto, além de revelar segredos a respeito da família de Tic.
Baseada no filme homônimo dirigido por Andrucha Waddington, Sob Pressão é provavelmente a melhor
série brasileira em exibição hoje. A pandemia paralisou muito das atividades
dos setores audiovisuais no Brasil, mas a série conseguiu realizar dois episódios especiais com os médicos lidando com
o combate à pandemia basicamente porque as situações em que esses personagens
estariam exigiria um equipamento de proteção, o que tornaria possível as
gravações sem sacrificar a segurança do elenco e equipe.
Na trama, Evandro (Júlio Andrade) e Carolina (Marjorie
Estiano) são chamados para trabalhar em um hospital de campanha depois de um
tempo prestando serviço em uma ONG atendendo pessoas carentes em localidades
remotas. No hospital de campanha, encontram um cotidiano tenso ao lidarem com
uma doença que ainda não entendem completamente, superlotação, falta de
equipamento e riscos de contaminação. Ocasionalmente o texto derrapa em alguns
diálogos um pouco didáticos e expositivos demais sobre as situações em que os
personagens se encontram, mas são momentos pequenos diante da força que o
especial consegue construir.
Depois de entregar uma das melhores atuações de sua carreira
no excelente Joias Brutas (2020),
Adam Sandler volta a suas comédias preguiçosas com este O Halloween do Hubie, um filme igual a praticamente todas as outras
comédias feitas por Sandler sem nenhum tipo de esmero.
Na trama, Hubie (Adam Sandler) é basicamente “o idiota da
vila”. Residindo na cidade de Salem, famosa pela queima de bruxas no século
XIX, Hubie adora o Halloween e sempre tenta transformar a data em algo
especial, buscando garantir que todos se divirtam. Esse ano, no entanto, o
trabalho de Hubie fica mais difícil quando um perigoso paciente psiquiátrico
escapa de uma instituição próxima.
Sandler interpreta Hubie como o mesmo adulto imaturo de boca
torta e voz fina que fez em boa parte de sua carreira como em Billy Madison: O Herdeiro Bobalhão (1995), O Rei da Água (1999)ou Little Nicky: Um Diabo Diferente
(2000). Não há aqui nenhum esforço de dar alguma personalidade a Hubie ou
torná-lo diferente de qualquer outra coisa que Sandler tenha feito, sendo uma
repetição preguiçosa dos mesmos trejeitos e cacoetes que já não eram muito
engraçados vinte anos atrás.
Fiquei curioso para conferir este Bom Dia, Verônica desde que tinha sido anunciado. Já tinha lido
outros trabalhos do romancista Raphael Montes e o considero um dos melhores
escritores de narrativas policiais no Brasil hoje. A ideia de uma série baseada
em um de seus livros, este escrito junto com Ilana Casoy, parecia bem
empolgante.
A trama é centrada em Verônica (Tainá Muller), escrivã da
delegacia de homicídios da polícia civil de São Paulo. Quando um caso ligado a
feminicídio dá errado e uma testemunha se suicida na frente de Verônica, a
protagonista se torna obcecada em descobrir o abusador em série que aborda
mulheres em aplicativos de namoro. Ao mesmo tempo, a protagonista é procurada
por Janete (Camila Morgado), uma mulher que sofre constante violência do
marido, Brandão (Eduardo Moscovis), que além de sujeitar a esposa a violência
também sequestra e mata outras mulheres. As coisas que se complicam quando
Verônica descobre que Brandão é um tenente-coronel da Polícia Militar,
tornando-o ainda mais perigoso.
A primeira temporada de The
Boys foi uma grata surpresa ao construir um mundo em que super-heróis são
praticamente celebridades e propriedades corporativas, reduzidos a peças no
xadrez do capitalismo com as grandes corporações sendo as grandes vilãs. Apesar
dos méritos, também incomodava como em muitos momentos a série era violenta,
profana e sombria apenas para chocar. Essa segunda temporada se mostra mais
consistente ao dar explorar mais a complexidade de seus personagens,
humanizando até mesmo figuras cruéis como o Capitão Pátria (Anthony Starr).
A trama começa meses depois dos eventos do ano de estreia.
Billy Bruto (Karl Urban) e sua equipe são considerados culpados pela morte de
Stillwell (Elizabeth Shue), se tornando homens procurados. Ao mesmo tempo, os
Sete recebem um novo membro em Tempesta (Aya Cash), cuja presença chama tanta
atenção que começa a incomodar o Capitão Pátria por estar perdendo os
holofotes. Ainda nos Sete, Luz-Estrela (Erin Moriarty) planeja junto com Hughie
(Jack Quaid) em como expor a Vought pelo Composto V.
Depois da inesperada surpresa que foi a série animada
baseada em Castlevania, fiquei
curioso com o anúncio de que a Netflix produziria uma animação baseada no game Dragon’s Dogma da Capcom. Por um lado o
resultado de Castlevania dava motivos
para ter esperança, por outro, o fato de Dragon’s
Dogma não ter lá muita narrativa, deixando espaço para o jogador construir
sua própria experiência naquele universo, dava motivos para apreensão de como
isso seria transposto para tela. Felizmente o que este ano de estreia entrega é
majoritariamente positivo, ainda que tenha alguns problemas.
A narrativa é protagonizada por Ethan, um guerreiro
ressuscitado em uma jornada para recuperar o próprio coração, roubado pelo
dragão que matou sua família. O primeiro episódio mostra brevemente a vida de
Ethan e da esposa, Olivia, antes da destruição causada pelo dragão. Há a
tentativa de que isso é feito para dar mais peso às perdas do protagonista, mas
como é muito rápido (e o mesmo ocorre com os flashbacks envolvendo Olivia),
não consegue ir além de uma trama de vingança bem típica. Em sua jornada, Ethan
conta com a ajuda de Hannah, uma Peoa. No mundo de Dragon’s Dogma Peões são seres que existem para auxiliar Ressurgidos
como Ethan em suas missões.
Dirigido por Jean-Luc Godard um ano depois de Acossado (1960), filme que o lançou em
evidência no mundo todo, este Uma Mulher
é Uma Mulher segue a tendência iconoclasta do diretor em brincar com as
convenções dos gêneros hollywoodianos. Se em Acossado Godard jogava com a iconografia do noir, aqui Godard joga com os elementos típicos do filme musical.
Na trama, Angela (Anna Karina) é uma dançarina que sente o
desejo de ter um filho, mas o namorado dela, Emile (Jean-Claude Brialy), está
hesitante. Emile sugere que Angela tenha um filho com Alfred (Jean-Paul
Belmondo), melhor amigo dela. Angela acaba achando a sugestão uma boa ideia e
isso logicamente cria uma crise no relacionamento dos dois. Boa parte das
razões pelas quais o filme é tão lembrado é pela direção iconoclasta de Godard,
mas não se pode negar o carisma do trio principal, especialmente Anna Karina,
envolvente e encantadora como Angela, convencendo de como sua personagem seria
capaz de mobilizar a atenção dos homens ao seu redor.
Assim como aconteceu com a segunda temporada, este terceiro
ano de Carmen Sandiego começa com a
promessa de entregar mais sobre o passado da protagonista conforme ela se
aproximava de descobrir quem era sua mãe. A promessa não se concretiza, embora
aqui isso possa ser atribuído a uma temporada abreviada (somente cinco
episódios) provavelmente por conta da pandemia do coronavírus.
A trama começa com Carmen indo ao México para descobrir mais
sobre a possível identidade de sua mãe. Ao mesmo tempo, a VILE transfere a base
de operações da organização para o norte da Escócia depois dos eventos do
segundo ano e planeja uma série de roubos para se reerguer.
Os cinco episódios que compõem a temporada apresentam a
estrutura de “caso do dia” com Carmen e sua trupe viajando a um novo país para
impedir mais um golpe da Vile ao mesmo tempo que precisam evadir o agente
Deveraux e outros membros da ACME que ainda acham que Carmen é a vilã da
história. Como em outras temporadas, os casos apresentam uma construção
competente de suspense, personagens e antagonistas carismáticos, boas cenas de
ação, além de um cunho educativo sobre história, geografia e cultura que é
organicamente costurado nas tramas.
Lançando em 1989 e dirigido por Marlon Riggs, Línguas Desatadas é um documentário
menos interessado em informar ou convencer o público de um ponto de vista
específico e mais em partilhar a experiência sensível de mundo de um grupo
social específico. Especificamente o documentário fala sobre as experiências de
homens negros gays de comunidades
periféricas dos Estados Unidos.
O documentário mistura vários recursos, desde entrevistas e
imagens de arquivo passando por poesias recitadas e imagens de arquivo. A
montagem costura tudo de modo a produzir uma bricolagem que mistura todos esses
recursos expressivos. Poderia resultar em algo caótico, mas a montagem consegue
fazer esses diferentes materiais dialogarem para deixar o espectador imerso na
subjetividade dos sujeitos filmados.
Quando um dos entrevistados narra suas primeiras
experiências de juventude com homofobia e racismo a montagem alterna entre o
depoimento e imagens em close de
bocas proferindo ofensas preconceituosas, abruptamente interrompendo o fluxo da
fala do entrevistado. A escolha estética provavelmente foi feita no sentido de
fazer o público experimentar a sensação de receber uma torrente constante de
ódio sem conseguir se fazer ouvir, com o esforço de um sujeito em se auto
afirmar interrompido incessantemente pela intolerância alheia.
Fui assistir este Get
Duked!, produção original da Amazon Prime Video,sem esperar muita coisa. Parecia mais uma dessas comédias
adolescentes com piadas sobre drogas e escatologia jogadas de qualquer maneira
na tela. De certa forma é isso, no entanto, o roteiro é bem amarrado o
suficiente para que as situações absurdas façam algum sentido dentro da lógica
da trama e não sejam simplesmente gags cômicas
jogadas a esmo sem muito critério.
A história acompanha quatro adolescentes britânicos que são
colocados em uma competição no interior da Escócia na qual precisam atravessar
as Terras Altas até chegarem na costa. Ian (Samuel Bottomley), Dean (Rian
Gordon), Duncan (Lewis Gribben) e DJ Beatroot (Viraj Juneja) não são exatamente
os melhores alunos e o orientador vocacional deles acha que participar dessa
expedição é uma boa maneira de colocá-los nos eixos. O que os garotos não
imaginavam é que a expedição os colocaria diante de situações inesperadas, como
um culto mascarado que caça pessoas e policiais atrapalhados que confundem os
jovens com terroristas.
Toda premissa de uma viajem pelo campo é uma clara desculpa
para não precisar construir muita coisa em termos de história, se calcando em
uma série de encontros fortuitos com personagens pitorescos e as situações
absurdas que emergem disso para mover as coisas adiante. Apesar de praticamente
nenhuma trama, o filme diverte pela criatividade das situações absurdas e
inesperadas com as quais os quatro adolescentes se envolvem. Como a cena em que
Beatroot usa drogas com um grupo de fazendeiros dentro de um celeiro ou o
momento em que Duncan inesperadamente atropela uma pessoa com uma van.
Contribuindo para o senso de absurdo e anarquia estão as
escolhas estéticas, que constantemente recorre a distorções de imagem e forma
para dar a impressão de uma cognição alterada. A inserção de cores fortes em
alguns momentos contribui para um ar lisérgico aos eventos, como se tudo fosse
resultado de uma viagem errada de drogas (e na maioria dos casos aqui é mesmo).
Além de uma montagem acelerada que confere uma ritmo de energia alucinada, como
que se tudo fosse contado por alguém completamente fora de si.
Considerando a natureza sem noção do longa, eu até me
surpreendi pelo modo como o desfecho consegue amarrar bem e de maneira
convincente (dentro da lógica de absurdo da trama, claro) todos os arcos e fios
narrativos que convergem em uma fusão de sorte e estupidez para resolver todos
os problemas dos personagens. O texto também acerta em dotar os personagens de
alguma vulnerabilidade e insegurança, evitando reduzi-los a mera caricatura.
Tudo bem que não sejam personagens complexos, mas pelo menos há uma dimensão de
humanidade neles, não sendo idiotas apenas por serem idiotas e pronto.
Com situações absurdas bem construídas e personagens
carismáticos, Get Duked! consegue
funcionar como uma diversão despretensiosa.
Não é novidade que filmes baseados em games sejam péssimos.
Temos inúmeros exemplos da tentativa de levar games para o cinema rendendo
alguns longas extremamente ruins. Este King
of Fighters: A Batalha Final é só mais um exemplo de como uma adaptação de
games pode ser pavorosa. É tão ruim que perto dele Street Fighter: A Última Batalha (1994) parece até assistível em
comparação.
Na trama, a energia emanada por três tesouros místicos é
usada para acessar uma realidade (ou dimensão) virtual na qual acontece um
torneio para decidir quem será o rei dos lutadores. Essa dimensão alternativa
não traz consequência para o mundo real, ou seja, não é possível ser ferir ou
morrer de verdade nela. Isso muda quando o criminoso Rugal (Ray Park) rouba os
três tesouros e toma a dimensão para si, tornando o jogo em um torneio mortal
para poder absorver o poder dessa dimensão e da criatura sobrenatural conhecida
como Orochi. Para detê-lo, a agente da CIA Mai Shiranui (Maggie Q) precisa
reunir os representantes dos três clãs: Kyo Kusanagi (Sean Faris), Iori Yagami
(Will Yun Lee) e Chizuru Kagura (Françoise Yip).