A história se passa no mundo de Teyvat no qual algumas pessoas escolhidas por deuses recebem uma Visão, pedras mágicas que conferem poderes especiais aos portadores. O jogador começa como um viajante vindo de outro mundo tentando encontrar a irmã (ou irmão, depende de qual personagem você escolher no início) de quem se perdeu. A partir daí se inicia uma longa jornada por este mundo para desvendar seus segredos e as verdades ocultas sobre os deuses.
Em termos de narrativa em si, não tem nada de muito diferente de outros RPGs orientais, sendo algo que poderia estar presente nos jogos da franquia Tales, por exemplo. Ainda assim Teyvat é um mundo amplo, cheio de lugares para explorar, mitologia a desvendar e personagens carismáticos a conhecer. A estética anime e os gráficos em cel shading chamam atenção logo de cara e as cutscenes com vozes dubladas fazem toda a apresentação parecer saída de um game blockbuster e não um jogo gratuito.
Apesar da qualidade e do esmero visual, alguns elementos deixam a desejar. As dungeons principalmente carecem de personalidade, sendo bem similares entre si, falhando em criar espaços memoráveis. Também falta variedade entre os biomas visitados, com várias partes do mundo sendo relativamente parecidas entre si. Como já foram prometidas ampliações ao universo, imagino, no entanto, que futuramente teremos novos espaços.
Os controles são bem responsivos e intuitivos, permitindo que o jogador rapidamente se adapte à exploração do mundo, que envolve principalmente escaladas e planar pelo ar (não muito diferente de Breath of the Wild). O combate envolve principalmente três botões, o de ataque, o de esquiva e o da habilidade do personagem. É mecanicamente simples, mas dotado de complexidade por causa das interações entre os diferentes poderes elementais dos personagens.
Em Genshin Impact capada personagem está conectado a um de seis elementos e saber como esses elementos interagem entre si ou afetam o espaço ao redor dos personagens é chave para ser bem sucedido em combate. Se um inimigo porta um escudo de madeira, usar habilidades de fogo vão incendiar a proteção do inimigo. Se um monstro está em uma poça de água, usar eletricidade causará mais dano ou usar gelo o deixará congelado. Usar um ataque de fogo em um monstro de gelo causa mais dano ou usar um ataque de vento em uma área que está sendo afetada por fogo faz o fogo se espalhar ainda mais.
Enfim, existem inúmeras possibilidades de abordar o combate a partir dessas interações entre elementos e os diferentes personagens aos quais vamos ganhando acesso conforme progredimos. É possível montar grupos com até quatro personagens, com o jogador podendo alternar livremente entre os membros do grupo. Nesse sentido, existem também inúmeras escolhas de composição de grupo, podendo pensar em um grupo com personagens de elementos diferentes para aproveitar as diferentes sinergias ou um grupo focado em um único elemento para reforçar o dano dessa fonte elemental.
O mundo amplo oferece muito o que fazer nele, desde baús ocultos a encontrar, alguns envolvendo desafios de combate e outros a resolução de quebra-cabeças ambientais. Itens que servem de oferendas para os deuses e aumentam a resistência física dos personagens, tornando possível escalar, planar ou nadar por mais tempo, além de várias missões secundárias que ampliam o mundo e os personagens que vivem nele.
A progressão, no entanto, tem lá sua parcela de problemas. Além de subir o nível de cada personagem, também a um sistema geral de progressão chamado “nível de aventureiro” e é esse nível que determina muito da progressão do jogo, desde o acesso a determinadas missões passando pelo nível máximo que seus personagens e equipamentos podem alcançar.
Assim, em muitos momentos percebi que meu avanço no jogo era parado por conta disso, já que uma missão que eu queria fazer ou uma área que queria explorar não estavam acessíveis pelo meu nível de aventureiro, me obrigando a recorrer a um considerável tempo de grinding de atividades que permitissem subir o nível de aventureiro para ir aonde eu quisesse ou subisse o nível dos meus personagens para que eles estivessem a altura dos desafios de uma região específica. Considerando que este é um jogo de mundo aberto, é um pena que o progresso seja segurado assim.
Como esse é um jogo gratuito, há um claro modelo de monetização. Aqui ele é baseado em loot boxes, que são obtidas através da mecânica de desejos. Cada desejo pode dar uma arma ou personagem ao jogador, sendo que realizar dez desejos de uma vez garante a obtenção de um recurso de ao menos quatro estrelas (a qualidade dos equipamentos e personagens varia até cinco estrelas). É possível obter recursos para os desejos simplesmente jogando, mas logicamente tudo também pode ser comprado com dinheiro real.
Usar dinheiro real não só permite comprar essas caixas de itens, como também pode comprar passes de batalha que dão recompensas maiores que o normal quando o jogador sobe seu nível de aventureiro ou cumpre determinadas tarefas. O uso de dinheiro real, no entanto, tem uma confusa mecânica de conversão, na qual você compra Cristas, que são convertidos em Gemas (que você também pode obter jogando) e essas Gemas são usadas para comprar os itens usados para fazer os desejos.
Tudo um pouco mais obtuso do que deveria, o que muitas vezes pode provocar confusão no uso desses recursos e levar o jogador a fazer coisas que não queria. Porque não deixar o jogador comprar diretamente Gemas? Seria mais simples. Outro problema é a baixíssima taxa de drop de itens e personagens cinco estrelas, que é menor que um por cento. Isso, claro, na versão jogada para fazer esse texto, já que essas taxas sempre podem ser ajustadas em atualizações posteriores. Do jeito que está, no entanto, quem estiver em busca das melhores armas ou personagens precisa estar preparado para investir muito tempo e/ou dinheiro em Genshin Impact.
Ainda assim, o jogo nunca soa como algo completamente “pay to win”, já que é preciso dominar o estilo de combate de cada personagem, bem como as mecânicas elementais, além de que os materiais e ingredientes necessários para evoluir personagens e equipamentos só podem ser obtidos jogando (ao menos por enquanto). Desta maneira, um jogador não pode simplesmente torrar uma grande soma e sair atropelando todos os inimigos e chefes que encontrar pelo caminho.
Como muitos games gratuitos, Genshin Impact também parece desenhado para fazer o jogador logar todo dia. Além das atividades diárias que são o principal meio de aumentar o nível de aventureiro do jogador, há também o fato de que certos ingredientes ou materiais para upgrades só são dropados por inimigos que aparecem em dias específicos da semana, o que, de novo, soa como uma restrição arbitrária da progressão.
Tudo bem que considerando outros modelos altamente predatórios em games gratuitos o que é encontrado aqui é até suave em termos do quanto tenta forçar o jogador a gastar dinheiro, mas ainda assim deixa claro a máxima de que “não há almoço de graça”. Um game gratuito não vai de oferecer longas horas de conteúdo, visuais e jogabilidade de qualidade sem tentar arrancar seu dinheiro de alguma maneira.
Deste modo, Genshin
Impact é uma grata surpresa ao oferecer um amplo mundo a explorar,
personagens carismáticos e uma jogabilidade afiada, ainda que logicamente tenha
a progressão um pouco prejudicada por sua estrutura de game gratuito.
Nota: 7/10
O jogo está disponível para PS4, PC e celulares.
Trailer
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