O primeiro acerto do filme é manter ambíguos seus elementos sobrenaturais. Afinal, Juliet de fato vendeu a alma ao diabo para conseguir superar a irmã? Ou na verdade ela está surtando por conta da pressão e ansiedade que sente ao não corresponder ao que os pais e ela mesma espera de si? Essa incerteza contribui para boa parte do suspense e da tensão, já que não sabemos com certeza qual a causa dos problemas da protagonista. Nesse sentido, a trama consegue criar imagens bem sinistras quando Juliet parece ver os desenhos do caderno ganhando vida diante de seus olhos.
Sidney Sweeney e Madison Iseman são ótimas em mostrar a relação afastada das duas irmãs, que com pequenos gestos ou olhares conseguem mostrar anos de rancor e amargura. O problema é que o texto já nos mostra essas personagens num estado em que a relação entre elas já está irreparável, sem conseguir nos fazer entender como as coisas chegaram a esse ponto ou o momento de virada na relação das duas. Com isso, apesar do talento das atrizes, o conflito nunca tem o peso dramático que deveria porque não é devidamente construído textualmente.
A trama também nunca sai da margem das discussões que tenta tratar. A ideia da arte como um sacrifício ou cuja excelência demanda demais de quem performa já foi melhor trabalhada em obras como Cisne Negro (2018) ou Whiplash (2018). Outro tema é a pressão sobre os jovens para fazer sucesso rápido e a busca por atingir o topo aos vinte e poucos anos. É significativo que o principal corredor da escola que os personagens frequentam seja decorado com uma enorme pintura de um jovem Mozart olhando por todos que por ali passam como um lembrete e uma cobrança de que a genialidade musical se manifesta cedo e quem não conseguir atingir o topo logo, nunca mais o fará.
Apesar de imagens impactantes como essa, o texto nunca mergulha de fato nesses temas, no esforço de entender uma juventude que, cada vez mais incerta do futuro e das opções que terão mais adiante, se sente pressionada e ansiosa para obter reconhecimento cada vez mais rápido. Esses elementos contextuais e conjunturais nunca são observados pela trama a despeito de observações pontuais (como a fala sobre “geração Instagram” no início). Dessa forma os temas e ideias do filme não reverberam com a força que poderiam.
Assim, a despeito de uma boa dupla de protagonistas e ideias
promissoras sobre sucesso e juventude, Noturno
acaba ficando apenas na superfície das questões que tenta abordar.
Nota: 5/10
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