A segunda temporada segue no ponto em que o ano de estreia parou. Em fuga de Moff Gideon (Giancarlo Esposito), o mandaloriano Din Djarin (Pedro Pascal) parte em busca de informação sobre algum Jedi que pudesse lhe ajudar com a pequena criatura que protege. Tal como no primeiro ano há o mesmo espírito de aventura despretensiosa, com o protagonista chegando a um planeta diferente a cada semana e alguém ou alguma crise específica para resolver nesse local que ao final dá alguma contribuição para mover a trama principal para frente. A partir desse ponto, aviso que o texto pode conter SPOILERS da temporada.
Um dos atributos do ano de estreia era como a série conseguia transitar com fluidez entre vários gêneros, da aventura ao faroeste passando pelo terror ou o suspense. Isso se mantém aqui no segundo ano e ajuda a dar frescor e identidade própria a cada episódio. O segundo episódio da temporada, por exemplo, coloca Din preso em um planeta gelado sendo cercado por sinistras criaturas que claramente remete aos dois primeiros filmes da franquia Alien. O terceiro episódio, no qual Din encontra o esquadrão de mandalorianos liderados por Bo-Katan (Katee Sackhoff) tem todo o clima de um filme de roubo conforme Din e Bo-Katan planejam invadir um depósito de armas imperiais.
A temporada consegue organicamente expandir a relação da jornada de Din com tramas maiores da mitologia de Star Wars, colocando-o para cruzar caminhos com figuras como Boba Fett (Tamuera Morrison) e Ahsoka Tano (Rosario Dawson). A introdução desses personagens no caminho do mandaloriano nunca soa forçada e surge de maneira coerente com o que foi estabelecido na série e em tramas anteriores situadas neste universo. A exceção disso talvez seja a cena pós-créditos do episódio final, que parece mais uma promo ou um trailer para uma série derivada futura do que algo pertinente para a trama principal de O Mandaloriano.
A força da série, no entanto, continua sendo a relação entre Din Djarin e Baby Yoda, ou melhor, Grogu, o nome real da criatura que foi finalmente revelado. O boneco animatrônico usado para Grogu é tão expressivo que dificilmente lembramos que se trata de uma complexa marionete e não de um ser vivo real. Já Pedro Pascal continua fazendo muito com o pouco que Din consegue revelar por estar sempre usando seu capacete, usando leves inflexões vocais para nos dar o estado de ânimo do personagem ou indicações com sua linguagem corporal. O ato de Din remover o capacete e deixar o rosto ser visto acaba tendo um valor simbólico de representar a abertura emocional do personagem e é difícil não se emocionar com o gesto do mandaloriano no final da temporada em deixar Grogu ver e tocar seu rosto.
Giancarlo Esposito traz sua habitual competência como Moff Gideon, um antagonista frio e ardiloso cujo raciocínio e estratégia estão sempre a um passo a frente dos heróis. Não há nada nesse personagem que Esposito já não tenha feito antes, sendo relativamente similar a outros vilões interpretados por ele como o Gus de Breaking Bad e Better Call Saul ou o Edgar de The Boys, deixando a impressão de que o ator se limitou a reproduzir uma caracterização que vem funcionando para ele.
O episódio final traz algumas revelações impactantes, mas nem todas funcionam. A ideia de Moff Gideon de semear conflito entre Din e Bo-Katan por causa da posse do Darksaber acaba soando forçada e não convence como deveria. Bo-Katan age como se de fato fosse obrigada a tomar a arma à força em combate de quem quer que o tenha, recusando que Din ceda a ela a vitória em combate. Isso é incoerente com outros desenvolvimentos da personagem, que em Star Wars Rebels de fato recebeu a arma das mãos de Sabine Wren sem precisar tomá-la em combate. Claro, é possível que Bo-Katan tenha recusado a oferta de Din justamente por crer que não a tinha merecido antes, mas isso nunca é explicitamente trabalhado aqui e da maneira como é construído em cena soa forçado e incoerente.
Outra grande revelação do final, essa de maior impacto, é a despedida entre Din e Grogu. Finalmente tendo encontrado um Jedi com quem deixar a pequena criatura, o mandaloriano se despede dele em uma das cenas mais emocionantes da série. A despedida também deixa em aberto uma gama ampla de novas possibilidades. Até aqui tudo tinha girado em torno da relação entre esses dois personagens, agora a série precisará redefinir seu foco, talvez movendo seu conflito na direção da busca por mais mandalorianos e a tentativa de retomar o planeta Mandalore. De todo modo, é empolgante que a série tenha a coragem de se desafiar a buscar novos rumos.
Ainda sobre o episódio final, devo dizer que a reconstrução digital do rosto de Mark Hammill como um Luke Skywalker mais jovem ficou relativamente estranha e imagino que talvez fosse melhor, caso o personagem volte a aparecer, escalar alguém para de fato interpretar o personagem. O ator Sebastian Stan (o Soldado Invernal dos filmes da Marvel), por exemplo, é muito parecido com Mark Hammill em sua juventude e com a ajuda de maquiagem e alguns retoques digitais poderia funcionar melhor como um jovem Luke do que um rosto completamente digital.
Aprofundando seus personagens, ampliando a mitologia e
prometendo novos rumos para um eventual terceiro ano, a segunda temporada de O Mandaloriano continua sendo uma ótima
aventura no universo de Star Wars.
Nota: 8/10
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