sábado, 26 de dezembro de 2020

Crítica – Os Segredos do Castelo

 

Análise Crítica – Os Segredos do Castelo

Review Crítica – Os Segredos do Castelo
Adaptando um romance de Shirley Jackson, este Os Segredos do Castelo parecia, pela divulgação, um suspense ao redor dos segredos de uma estranha família que mora em uma ampla mansão no interior dos Estados Unidos. O produto final, no entanto, é mais um estudo de personagem que trata de alienação e relações entre irmãs do que algo repleto de tensão e mistério, então é possível que muitos não se agradem com o ritmo mais lento da narrativa.

A trama gira em torno das irmãs Marricat (Taissa Farmiga) e Constance (Alexandra Daddario) que vivem isoladas em uma grande mansão depois que o pai delas morreu de maneira extremamente suspeita e as pessoas da cidade acham que elas foram responsáveis por isso. Elas tem uma existência reclusa, com apenas Marricat saindo uma vez por semana para fazer compras, somente com a companhia do estranho tio Julian (Crispin Glover). O cotidiano das irmãs muda com a chegada do primo Charles (Sebastian Stan), que diz estar interessado em cuidar das irmãs, mas na verdade deseja colocar as mãos na fortuna da família.

O início do filme tenta construir uma aura de mistério ao redor do passado da família, mas isso acaba importando menos do que como as duas irmãs se relacionam, em especial o protecionismo excessivo de Marricat, que vê a chegada de Charles (ou de qualquer pessoa) como um empecilho na relação dela com a irmã. Cheia de superstições e paranoica a respeito de como os habitantes da cidade ao redor tratam ela e a irmã, Marricat constantemente tenta afastar Constance de qualquer pessoa que tente se aproximar dela e manter a família protegida com rituais e “feitiços” que não passam de pura superstição.

Seria fácil reduzir a personagem a uma mera sociopata, no entanto o texto e o trabalho de Taissa Farmiga tem nuance suficiente para que compreendamos que a conduta de Marricat é algo fruto de um trauma e a conexão excessiva que ela tem com a irmã é o jeito dela em lidar com esses traumas e se sentir segura. A trama também é eficiente em nos deixar imersos no clima de paranoia experimentado por Marricat, que sempre acha que tem alguém a espreita para lhe fazer mal, mesmo quando não vemos exatamente motivos para tal.

O resto do elenco é igualmente capaz de criar personagens excêntricos, que ressaltam a vivência alienada do mundo que aquelas pessoas tiveram. A Constance de Alexandra Daddario é alguém tão superprotegida que se comporta com uma mentalidade de adolescente. Crispin Glover (o eterno George McFly) traz sua habitual esquisitice como Julian, enquanto que Sebastian Stan equilibra a canalhice e o carisma de seu personagem para tornar compreensível como Julian e Constance são facilmente manipulados por ele.

A trama se arrasta em alguns pontos, principalmente no final. Depois que um incêndio acontece e todos os temores de Marricat sobre os habitantes da cidade se confirmam, parece que o filme está prestes a encerrar. A narrativa, no entanto, se alonga um pouco mais em cenas que soam redundantes, apenas reforçando o que o segmento do incêndio já tinha sedimentado nas protagonistas: que ninguém presta e o melhor que elas fazem é se isolar do mundo, confiando apenas uma na outra.

Apesar de alguns problemas de ritmo e de nem sempre definir com clareza seu foco principal, Os Segredos do Castelo acerta na construção da estranha relação entre as duas protagonistas.


Nota: 6/10


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