A narrativa é centrada em Balram (Adarsh Gourav), um jovem pobre de uma pequena aldeia no interior da Índia. Sua vila é constantemente oprimida por um senhorio que cobra um terço do que todos ganham, chamado por Balram de “O Cegonha” (Mahesh Manjrekar), não dando muita oportunidade das pessoas mudarem de vida ou saírem daquele local. Balram vislumbra uma chance quando surge a possibilidade de trabalhar como motorista de Ashok (Rajkummar Rao), filho do Cegonha que volta à Índia depois de anos vivendo nos Estados Unidos. Balram consegue o emprego e a partir disso passa a fazer qualquer coisa para ser bem visto por Ashok e sua família desejando subir na hierarquia de funcionários.
Balram é um personagem envolvente de se acompanhar. Entendemos a motivação dele e simpatizamos com seu desejo de querer uma vida melhor e tentar levar uma existência que não envolva as constantes humilhações de seus patrões. Porém, ele também demonstra, em muitos momentos, não ter qualquer escrúpulo de passar a perna nos outros, agindo de maneira desonesta ou criminosa para conseguir o que quer. No início ele até demonstra algum remorso, como quando faz o outro motorista da família ser demitido, mas conforme o filme avança Balram se torna cada vez mais frio.
Seria fácil perder a simpatia por ele, mas o texto e o trabalho de Adarsh Gourav são hábeis em nos fazer entender o que está por trás das ações do protagonista, construindo essa conduta como uma reação violenta a um contexto social que insiste em colocá-lo para baixo. Nesse sentido, Balram seria uma espécie de vítima-algoz, alguém tão farto de ser relegado à pobreza enquanto outros vivem no conforto da riqueza que resolve tomar tudo com as próprias mãos. É justamente essa ambiguidade moral que o torna tão interessante, já que por mais que repreendamos seus métodos, compreendemos o que move suas ações.
Em alguns momentos, no entanto, o filme exibe algumas simplificações quanto ao contexto social da Índia, principalmente nas oposições que constrói entre a visão da Índia como esse lugar atrasado, desigual e preso a preconceitos ou estruturas sociais arcaicas e os Estados Unidos como um lugar de iluminismo, modernidade e possibilidades múltiplas, algo evidenciado pela relação de Balram com Pinky (Priyanka Chopra), a esposa de Ashok. Essas oposições simplórias reproduzem preconceitos coloniais da Índia como um lugar primitivo em relação ao ocidente branco e ignoram que os EUA também é um país desigual e cheio de preconceitos raciais, sociais e de religião.
Outro problema é que alguns elementos da trama não tem muita repercussão apesar do tempo dedicado a eles. O e-mail para um diplomata chinês, por exemplo, que motiva toda a narração de Balram acaba não fazendo qualquer diferença na narrativa e o protagonista poderia simplesmente estar contando a história dele para os funcionários ao invés de usar o elemento que não teria importância. Além disso, o terço final corre para contar a ascensão de Balram nos negócios, resolvendo tudo muito rapidamente, sem que possamos sentir devidamente o impacto dessa mudança no personagem.
Mesmo com alguns problemas, O Tigre Branco consegue envolver pela ambiguidade da jornada do seu
protagonista e como seu comportamento é contextualizado pelo cotidiano
experimentado por ele.
Nota: 7/10
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