terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Crítica – Star Trek Discovery: 3ª Temporada

 

Análise Crítica – Star Trek Discovery: 3ª Temporada

Review – Star Trek Discovery: 3ª Temporada
A segunda temporada de Star Trek Discovery terminava com a tripulação da Discovery viajando mil anos no futuro para proteger os dados da Esfera. Era uma resolução ousada, que prometia um novo status quo para a série e dava mais possibilidades criativas, já que tirava os personagens da cronologia canônica pré série clássica e os levava a um período de tempo no qual teriam mais liberdade em relação ao que poderiam fazer.

Mil anos no futuro, Michael (Sonequa Martin-Green) descobre que um evento cataclísmico conhecido como “a combustão” destruiu todas as nave movidas a dilítio cerca de um século antes da chegada da Discovery naquele futuro. Sem dilítio e sem poder viajar em dobra, os planetas estão muito mais isolados do que antes e a Federação praticamente se extinguiu sem a possibilidade de viajar longas distâncias. Como a Discovery usa um motor de esporos, ela não é impactada por essas limitações do dilítio e, assim, a tripulação parte para tentar entender o que causou a combustão e reconstruir a Federação.

Boa parte da temporada se constrói nos esforços da tripulação em tentar se adequar a essa nova situação e tentar reconstruir a Federação, mostrando às pessoas ao redor que os valores da Federação continuam sendo importantes de defender. De certa forma o universo de povos isolados, fechados em si e pensando apenas em seus próprios interesses dialoga com o mundo em que vivemos hoje, não só pelo isolamento social causado pela pandemia do Covid-19, mas também pela ascensão de figuras ultraconservadoras na política mundial com posturas isolacionistas (como o Brexit) que insistem em discursos de supremacia em intolerância.

Nesse sentido, a terceira temporada de Star Trek Discovery é um sopro de esperança em relação aos tempos de intolerância e desinformação que estamos vivendo hoje. Os episódios, como os que envolvem os Trill ou os Vulcano, lembram da importância da diplomacia, da tolerância, da cooperação e da ciência. São histórias que mostram como somos mais fortes, crescemos e amadurecemos mais através do diálogo, do contato com o contraditório, com o diferente. Valores que estavam presentes em Star Trek desde a série clássica e que se mostram ainda importantes de defender na contemporaneidade.

A temporada também da espaço para que percebamos os problemas que o deslocamento temporal causou na tripulação, afinal eles estão mil anos do futuro longe de todos que amavam e em um universo tão mudado que não reconhecem mais nada. Desta maneira, vemos como essas inquietações se manifestam em Detmer (Emily Coutts) e seu estresse pós-traumático, na carência de Saru (Doug Jones) em retomar o contato com a sua espécie ou na decisão de Stamets (Anthony Rapp) em praticamente adotar a novata Adira (Blu del Barrio), cujo simbionte Trill que ela carrega no corpo acaba servindo como uma metáfora para fluidez e não-binarismo de gênero.

O meio da temporada, no entanto, se entrega a algumas digressões que, embora sejam importantes para o desenvolvimento de alguns personagens, não movem as tramas principais adiante. O melhor exemplo são os dois episódios centrados em Georgiou (Michelle Yeoh). Neles vemos o quanto a antiga imperatriz de um universo paralelo amadureceu bastante por conta do contato com a Michael do nosso universo e com os valores da Federação. É competente clímax de toda a jornada da personagem até aqui, mas não se encaixa muito no restante dos temas e ideias da temporada.

Outro problema são os antagonistas da Corrente Esmeralda liderados por Osyraa (Janet Kidder). De início parece que essa brutal associação mercantil que é uma das principais forças desse novo futuro parece ser usada para falar da natureza predatória do capitalismo, no entanto, Osyraa rapidamente é reduzida a uma megalômana genérica, sem nada de muito memorável.

O penúltimo episódio, no qual Osyraa tenta negociar um cessar fogo com o Almirante Vance (Oded Fehr) até tenta dar uma nuance à personagem, mas ela rapidamente retorna a ser uma vilã com um plano vago de dominação universal. Osyraa, inclusive, é despachada muito rapidamente no episódio fazendo tudo soar anticlimático e com os diálogos dizendo que a Corrente Esmeralda foi desarticulada com a morte dela, temos a impressão que a organização nunca foi lá muito capaz de fazer frente aos protagonistas.

O final também acaba tendo que correr muito para resolver as várias pontas soltas que alguns elementos não são devidamente explorados. O fato da Esfera agora habitar nos droides da Discovery tem pouca repercussão, por exemplo, bem como o atrito entre Michael e Stamets pela decisão de Michael em ejetá-lo da Discovery quando Osyraa toma a nave. Sim, Anthony Rapp consegue transmitir apenas com um olhar o quanto a confiança e relação de Stamets e Michael está abalada, mas seria importante ter uma cena com os dois que explorasse mais esse conflito subjacente que certamente terá repercussões mais adiante.

Mesmo com antagonistas desinteressantes e ocasionais problemas de ritmo, a terceira temporada de Star Trek Discovery se sustenta pela sua importante defesa dos valores centrais da franquia e pelo desenvolvimento das relações entre os personagens.

 

Nota: 8/10

 

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