segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Crítica – Lupin: 1ª Temporada

 Análise Crítica – Lupin: 1ª Temporada


Criado no final do século XIX por Maurice Leblanc, o cavalheiro ladrão Arsene Lupin chamava atenção por seus roubos engenhosos e seu talento por disfarces. Apesar de um nome conhecido na literatura e já ter recebido sua parcela de adaptações para cinema e televisão, o personagem estava relativamente do audiovisual mainstream nos últimos anos. A série francesa Lupin, produzida pela Netflix, tenta trazer o personagem para os dias atuais, ao mesmo tempo em que celebra o legado literário da criação de Leblanc.

A trama acompanha Assane (Omar Sy), um imigrante senegalês que chegou na França ainda garoto e que viu o pai ser preso por um crime que não cometeu. Anos depois, já adulto, decide se vingar da rica família responsável pela prisão do pai. Inspirado pelos livros de Arsene Lupin que seu pai lhe deixou, Assane monta audaciosos esquemas para descobrir o que realmente aconteceu com o pai dele, que teria se suicidado na prisão.

Omar Sy tem carisma e charme de sobra para convencer que seu personagem seria capaz de levar qualquer um na conversa e se infiltrar em qualquer lugar, trazendo a confiança, postura cavalheiresca e a astúcia que se espera de um pretenso Lupin. O arco do personagem também lida com questões de preconceito e de classe social, mostrando como o pai de Assane foi facilmente incriminado por ser um imigrante negro e pobre, sendo facilmente devorado e desacreditado pelo sistema de justiça. Para além da trama criminal, a série também desenvolve a relação de Assane com o filho e a ex-esposa, com o último episódio da temporada nos fazendo compreender como os planos de vingança de Assane afetaram o relacionamento.

O mistério envolvendo o que aconteceu com o pai de Assane e os segredos sombrios que a família de Hubert Pellegrini (Hervé Pierre) esconde são conduzidos de maneira envolvente, com cada episódio trazendo revelações significativas para a investigação do protagonista e ampliando as tensões no jogo de gato e rato entre Assane e Pellegrini. Os roubos e invasões perpetradas pelo protagonista são astuciosamente complexos como era de se imaginar, com Assane constantemente pensando adiante de seus adversários para levar a melhor sobre eles. Claro, algumas vezes eles soam mirabolantes demais, contendo variáveis que o protagonista não teria como prever plenamente, mas não há nada que chegue a quebrar a imersão.

A única reviravolta mais problemática é a que acontece no penúltimo episódio, quando Assane recupera, com a ajuda de uma jornalista que teve a carreira arruinada pelos Pellegrini, um vídeo de Hubert negociando armas com terroristas na Malásia. Usando um pseudônimo, o protagonista faz acusações na internet contra Hubert e é desafiado por ele a mostrar as provas. Era de se imaginar que Assane simplesmente colocaria o vídeo online ou invadiria alguma transmissão de televisão usando seu pseudônimo para mostrar o vídeo. Ao invés disso, o protagonista decide dar entrevista (disfarçado claro) a um canal de televisão que exibe uma versão adulterada do vídeo que não implica Pellegrini em nada.

Como Assane não fez uma cópia do vídeo? Como, sabendo da influência de Pellegrini na imprensa, ele confiou em um canal de tv? São ações que contradizem a inteligência estabelecida até aqui para Assane e que existem só porque o roteiro precisava criar uma situação em que o protagonista ficasse acuado pelos seus inimigos e ao invés de criar algo plausível forçou uma reviravolta ao fazer Assane agir de maneira convenientemente ingênua e estúpida. Ao menos o último episódio se recupera ao construir um jogo de gato e rato entre Assane e um capanga de Pelegrini dentro de um trem e um desfecho que me deixou ansioso para a próxima temporada.

Apesar de por vezes entregar algumas soluções forçosamente convenientes, Lupin se sustenta pelo carisma do personagem principal e pelas intrigas envolventes que constrói.

 

Nota: 8/10


Trailer

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