A trama, escrita pelo comediante Pete Davidson, tem um cunho semiautobiográfico. O protagonista, Scott (Pete Davidson), é um jovem de 24 anos que não terminou a escola, vive com a mãe, Margie (Marisa Tomei), e lida com problemas de ansiedade e depressão desde muito cedo quando perdeu o pai, um bombeiro que faleceu em serviço. Quando a irmã mais nova de Scott, Claire (Maude Apatow), sai de casa para ir para a faculdade e Margie arruma um novo namorado, Ray (Bill Burr), que também é bombeiro, Scott é confrontado sua imaturidade e forçado a revisitar traumas passados. Assim como o protagonista, Davidson também cresceu em Staten Island e também perdeu o pai, um bombeiro que faleceu durante o resgate de vítimas do 11 de setembro, quando ainda era criança.
Diferente de outros protagonistas de Apatow, Scott tem motivos consistentes para ter seu desenvolvimento emocional estagnado, tendo perdido o pai muito novo e nunca tendo conseguido superar essa perda ou a pressão de tentar corresponder ao ideal perfeito que tinha dele. O filme acerta em não aliviar demais a imaturidade do personagem, mostrando como a conduta de Scott, que muitas vezes usa os próprios traumas como desculpa para não sair da zona de conforto e se comportar de maneira irresponsável, afeta negativamente as pessoas ao redor dele, em especial a mãe.
Ao mesmo tempo, vemos também que muito da conduta de Scott reside no fato dele não saber lidar com os próprios sentimentos, se fechando para as pessoas ao seu redor como sua “ficante” Kelsey (Bel Powley), que o deixa justamente por Scott não permitir que ela entre em sua vida. A natureza fechada do personagem fica evidente na cena em que Margie e Ray vão jantar no restaurante em que ele trabalha como garçom. Scott senta para conversar com Ray enquanto a mãe vai ao banheiro e durante toda a conversa Scott segura uma bandeja diante do peito, como que criando uma barreira (literal e metafórica) em relação ao padrasto.
Claro, o fato de Ray também ser um bombeiro lotado no mesmo quartel do pai de Scott é uma grande conveniência do roteiro para levar o personagem a inevitavelmente aprender mais sobre o pai e fazer as pazes com o falecimento dele, no entanto, o texto desenvolve com habilidade o modo como Scott ressente o sacrifício o pai em relação ao trabalho e aos poucos vai entendendo que as escolhas que o pai fazia não eram fáceis. Há um sentimento genuíno no modo como o percurso do personagem é construído, nos conectando com a dor dele e a eventual aceitação do que aconteceu.
O filme acerta em não dar soluções fáceis ao protagonista ao, por exemplo, não permitir que Margie o aceite de volta em casa simplesmente porque ele passou dificuldade por algumas semanas, como se os problemas de conduta e imaturidade do protagonista pudessem se resolver tão rápido. Inclusive, o fato de Margie redecorar a casa e tudo ficar mais luminoso e suave no ambiente demonstra o quanto a conduta de Scott pesava sobre ela. O desfecho do filme ressalta a impressão de que esse não é o fim ou superação total dos problemas emocionais de Scott, apenas um passo na direção para o amadurecimento, com ele finalmente se abrindo para Kelsey.
Apesar de prejudicado por alguns cacoetes do diretor Judd
Apatow, A Arte de Ser Adulto consegue
apresentar um competente estudo de personagem sobre a dificuldade de crescer e
lidar com certos traumas.
Nota: 7/10
Trailer
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