O que é apresentado aqui é um competente trabalho de pesquisa que examina a trajetória profissional de Britney desde quando ela começou no mundo do entretenimento ainda muito jovem até os dias atuais quando ela luta para reverter a situação da tutela jurídica. Em termos de forma é um documentário bem simples, se baseando no padrão de entrevistas e imagens de arquivo, privilegiando mais a transmissão de informações e a construção da retórica de convencimento acerca da questão problemática que é a tutela de Spears.
Mais do que a questão da tutela, o documentário pondera sobre o papel da mídia na trajetória da cantora, especialmente no modo como ela foi, desde muito nova, constantemente cobrada, vigiada e pressionada pelos veículos de imprensa do mundo todo, algo que não deve ser saudável. A natureza predatória dos paparazzi fica evidente na entrevista com o fotógrafo que registrou o ataque de Britney com um guarda chuva. Os vídeos feitos por ele evidenciam que a cantora claramente não estava bem e o tempo todo ouvimos ela ou as pessoas que estavam com ela pedindo para pararem de filmar, mas ainda assim o paparazzo a seguiu de carro por horas e na entrevista para o documentário ainda diz que não fez nada de errado, deixando claro que esse modo de cobrir celebridades não tem nenhuma preocupação em estabelecer uma boa relação com a fonte, com o consentimento de imagem ou com princípios éticos.
Com a superexposição e constantes julgamentos exibidos pelo documentário, pensamos em como qualquer pessoa cuja vida é analisada e avaliada tão microscopicamente não tem qualquer chance de manter a saúde mental intacta. Mais que isso, revela também o machismo da mídia ao exibir os diferentes padrões de julgamento aos quais homens e mulheres são submetidos, a exemplo da cobertura envolvendo o término de Britney com Justin Timberlake.
Esse machismo também se revela na questão da tutela, afinal ao longo dos anos já vimos várias celebridades perderem o controle em público, agredirem pessoas e tomarem péssimas decisões e, ainda assim, não foram interditadas, a exemplo de Charlie Sheen, Alec Baldwin, Justin Bieber, Shia Labeouf. Nenhum deles, não importa o quão instáveis ou perigosos para as pessoas à sua volta foram qualificados como mentalmente incapazes. Inclusive é curioso que os tribunais a julgam mentalmente incapaz de cuidar da vida pessoal e das finanças, mas não mentalmente incapaz de trabalhar se apresentando em um palco para centenas de pessoas, o que soa contraditório. Afinal, se a cantora tem uma mente tão frágil e influenciável, colocá-la para cantar e dançar diante de uma grande audiência que poderia, por exemplo, rejeitá-la, não traria um risco para essa delicada situação de fragilidade emocional extrema?
Nesse sentido o documentário é eficiente em nos convencer que as atitudes de Jamie Spears, pai de Britney, não são motivadas pelo desejo de cuidar da filha, mas de controlar seu dinheiro e mantê-la como uma “galinha dos ovos de ouro” a ser explorada financeiramente. Depoimentos sobre a conduta passada e presente dele mostram como Jamie sempre enxergou a filha como uma espécie de gado de engorda e que Britney tenta se desvencilhar do controle dele há tempos. Por outro lado, o exame sobre o processo jurídico envolvendo a tutela de Britney e as tentativas da cantora de mudar a situação acabam não indo muito adiante por conta de tudo ainda estar em curso, com muitas questões ainda sem resposta, sendo difícil produzir uma análise consistente sobre essa questão.
Assim, com muitos eventos ainda em curso, Framing Britney Spears: A Vida de uma
Estrela serve mais como um ponto de partida para a discussão acerca da
tutela jurídica de Britney do que uma análise mais profunda sobre o assunto.
Nota: 6/10
Trailer
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