A trama mostra Herman “Mank” Mankiewicz (Gary Oldman) acamado depois de um acidente de carro. Com problemas financeiros e de saúde que vinham desde antes do acidente e com a reputação prejudicada entre os executivos de grandes estúdios por conta de seu alcoolismo, vício em apostas e constantes críticas às hipocrisias dos magnatas da mídia, Mank aceita escrever um roteiro para o então incipiente diretor Orson Welles (Tom Burke), uma história inspirada na trajetória de William Randolph Hearst (Charles Dance).
A narrativa vai e volta no tempo entre o Mank do presente tentando finalizar seu roteiro e o passado do roteirista, mostrando sua relação complicada com o produtor Louis B. Mayer (Arliss Howard), chefão da MGM, com o ricaço Hearst e com Marion (Amanda Seyfred), a jovem esposa de Hearst. Os flashbacks mostram a relação complicada de Mank com os figurões de Hollywood e da mídia por conta de sua vida de excessos e posições políticas. Enquanto a Hollywood da década de 1930 adotava uma postura de não criticar a Alemanha nazista por medo de perder arrecadação por lá, Mank já denunciava os perigos que os nazistas representavam.
Gary Oldman é ótimo em evocar a energia caótica de Mank, um homem sem papas na língua, com opiniões sobre tudo, cheio de ideias e sem paciência para as hipocrisias dos poderosos. A questão é que o filme não vai muito além dos problemas dele com Mayer e Hearst, com cada flashback mostrando alguma discussão diferente de um dos dois.
Claro, há cenas muito significativas entre Mank e Hearst, em especial uma perto do final em que Hearst usa uma metáfora para fazer Mank entender que apesar de se considerar um pária e um opositor de pessoas como Hearst e Mayer, o roteirista não passa de mais uma engrenagem na máquina hollywoodiana que está sob controle de magnatas como o próprio Hearst. Esses momentos, no entanto, se perdem durante a longa duração do filme com outros que parecem repetir as mesmas ideias sobre o protagonista e seus desafetos. Com o tempo tudo isso acaba soando redundante, dando a impressão de algo que anda em círculos quando poderia se aprofundar mais.
Um exemplo é o retrato que é feito do processo de escrita de Mank, que se limita a traçar os paralelos entre os personagens de Cidadão Kane e as figuras reais que o inspiraram. Informações que são facilmente encontradas e conhecidas hoje. Pouco esforço é feito para entender as escolhas estruturantes em relação a natureza investigativa da trama, contada através de testemunhos de outros. Há um diálogo rápido em que Mank menciona a impossibilidade de contar toda uma biografia e o melhor a fazer seria oferecer fragmentos significativos, mas é muito pouco para dar a dimensão do quanto essas escolhas eram iconoclastas e pouco usuais dentro do cinema hollywoodiano da época.
O conflito entre Mank e Welles é outro elemento que é tratado superficialmente. A discussão sobre Mank voltar atrás da decisão de abrir mão dos créditos poderia render ponderações importantes e necessárias sobre direitos autorais ou mesmo onde está a instância autoral em uma arte que necessita tanto de coletividade quanto o cinema. A convenção é tratarmos o diretor como instância autoral, mas isso não foi uma posição que surgiu natural e instantaneamente, foi fruto de anos de debates e discussões a respeito. A questão entre Mank e Welles seria um bom ponto para provocar a cinefilia a pensar se essas ideias e suas derivações continuam se sustentando, no entanto, pouco de interessante é feito desse conflito além de posicionar Welles como mais um figurão que mastiga Mank.
Mank tem uma
competente reconstrução da Hollywood da década de 1930 e se beneficia de uma
interpretação enérgica de Gary Oldman, mas em muitos momentos soa como um exame
redundante e superficial do processo criativo e dos conflitos de seu
protagonista.
Nota: 6/10
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