quinta-feira, 25 de março de 2021

Crítica – O Som do Silêncio

 

Análise Crítica – O Som do Silêncio

Review – O Som do Silêncio
Lidando com um personagem que passa por transformações radicais em sua vida, O Som do Silêncio não trata apenas da perda de audição, mas de como aceitar as inevitáveis mudanças que a vida nos impõe e entender que certas coisas não podem ser restauradas como eram. São temas delicados, principalmente em relação à comunidade surda, que muitos filmes as vezes derrapam no excesso de romantização da condição desses personagens.

Ruben (Riz Ahmed) é um baterista de heavy metal que começa a perder a audição. Ele tem uma banda junto com a namorada, Lou (Olivia Cooke), e logicamente se preocupa em como seu problema inviabilizará seu modo de vida. Ruben pensa na possibilidade de conseguir retomar a vida com um implante coclear, no entanto, o custo alto o impede de conseguir a cirurgia. Sem alternativas, ele vai morar em uma comunidade de surdos para aprender a lidar com a nova condição e aceitar que não há nada de errado com ele.

A jornada do protagonista é quase uma jornada de luto, passando por estágios como negação, raiva, barganha ou aceitação. De certa forma faz sentido, já que Ruben experimenta uma perda que praticamente torna impossível que ele siga com o mesmo modo de vida e precisa de tempo para se adequar à sua nova realidade. Nesse sentido, Riz Ahmed é ótimo em nos apresentar o desespero e desamparo de Ruben conforme ele percebe que está em um caminho sem volta.

Há uma dor e um senso de confusão bastante genuínas na reação dele enquanto médicos ou o responsável pela comunidade de surdos que o acolhe explicam para a situação. Impressiona o quanto Ahmed consegue comunicar apenas com suas expressões a exemplo da cena em que ele ouve Lou cantar através do áudio eletrônico de seus implantes e olhar de Reuben nos transmite uma medida de tristeza do personagem em se dar conta de que os implantes não vão permitir que as coisas voltem como eram, que sua escuta segue limitada.

O filme é bastante sincero em relação à vida de um surdo, nos dispositivos que tornam a comunicação mais fácil, como microfones e softwares que transcrevem automaticamente o que é dito, ao mesmo tempo em que expõe as limitações de alguns recursos tecnológicos. O melhor exemplo é o implante coclear, que nunca é colocado num pedestal como uma cura milagrosa, evidenciando que ele não restaura a audição natural da pessoa, apenas a faz escutar através dos sinais eletrônicos do implante.  

Essas ideias são transmitidas não apenas pelos diálogos dos personagens, mas pelo ótimo desenho sonoro que nos deixa imersos no “ponto de escuta” de Ruben. Na primeira metade do filme, somos constantemente colocados sob a perspectiva de audição limitada dele, ouvindo sons muito abafados, captando apenas algumas vibrações de frequência grave. Já depois de Ruben receber os implantes cocleares, ouvimos sons com distorções eletrônicas, uma estática constante e distorções em frequências muito graves ou muito agudas que nos ajudam a entender como esses dispositivos são limitados e que não representam a expectativa do protagonista de recuperar plenamente a audição. O fato de ouvirmos essa escuta distorcida e muitas vezes confusa, de sermos colocados na experiência sensível do personagem, contribui para a compreensão da decisão final de Ruben.

O Som do Silêncio se mostra, portanto, um competente estudo sobre perda e aceitação, que envolve pelo trabalho de Riz Ahmed e pela experiência sensorial proporcionada pelo desenho sonoro.

 

Nota: 8/10


Trailer

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