terça-feira, 23 de março de 2021

Crítica – Por Trás da Inocência

 

Análise Crítica – Por Trás da Inocência

Review – Por Trás da Inocência
Não esperava grande coisa deste Por Trás da Inocência, produção original da Netflix. O trailer tinha toda cara de um thriller erótico de quinta categoria, mas ainda assim minha curiosidade mórbida levou a melhor e fui conferir o filme. Minhas expectativas eram extremamente baixas e surpreendentemente ele conseguiu ser ainda pior do que eu imaginava.

A trama é centrada em Mary (Kristin Davis), uma escritora de romances de suspense que há anos não produz nada de novo por conta de um bloqueio criativo. Um dia ela é procurada pelos seus editores que oferecem um largo adiantamento para que ela produza um novo livro para sua mais famosa série. Em problemas financeiros por conta de apostas financeiras ruins do marido, Tom (Dermot Mulroney), ela acaba aceitando e mergulha no universo sombrio de suas personagens. Ao mesmo tempo, a família contrata uma nova babá em Grace (Greer Gramer) e Mary começa a sentir uma estranha atração pela jovem, mas talvez tudo seja apenas imaginação da escritora, muito imersa nas tramas sombrias de seus livros.

Apesar de se construir como um suspense erótico, toda a trama é desprovida de ambos os atributos. O trio principal (Davis, Mulroney e Gramer) não tem química alguma e as cenas supostamente sensuais entre eles tem o mesmo erotismo de dançar forró com a irmã. Do mesmo modo, a trama se arrasta em longas duas horas que vão do nada ao lugar nenhum. Há cena atrás de cena de Mary flertando com Grace ou desconfiada de que a babá também está ficando com Tom sem que isso nos ajude a entender melhor qualquer um desses personagens ou os conflitos que os cercam.

Também há várias situações que abusam da nossa suspensão de descrença, em especial o fato de uma babá de duas crianças pequenas ter tanto tempo ocioso no horário de trabalho para poder ficar na piscina, dançar e fazer longos passeios de bicicleta sozinha com a patroa. Há uma série de eventos para os quais não há qualquer desdobramento ou consequência que deixam a trama sem sentido e com mais buracos que uma rodovia brasileira. Quando Mary descobre, por exemplo, que Grace não trabalha para a agência de babás que contatou, imaginamos que a protagonista irá chamar a polícia ou algo similar, no entanto a personagem não faz nada. Sim, ela fica ainda mais desconfiada da babá, mas não toma atitude alguma contra a estranha que entrou na casa dela sob falsos pretextos e possivelmente está fazendo um jogo duplo seduzindo Mary e o marido.

As coisas, porém, ficam ainda mais desconexas quando o filme entra em seu clímax, o que significa que vou aqui relatar algumas coisas do final, então fiquem avisados que a partir daqui há SPOILERS da trama. Lembram que todo o filme jogava com a ideia de que Mary estava se perdendo entre ficção e realidade sugerindo que talvez parte dos eventos envolvendo Grace fossem imaginados? Pois nada disso repercute no final, já que todo o problema na verdade foi causado pelo fato de Grace ter dupla personalidade, uma informação que o filme conjura do éter em seus últimos minutos e que não foi devidamente preparada ou construída por nada que veio antes.

A revelação faz toda a narrativa soar inconsequente e uma enorme perda de tempo, já que nada do que foi apresentado fez qualquer diferença no clímax e é conduzida da pior maneira possível. A segunda personalidade de Grace é construída com uma absurda “voz demoníaca” que faz a personagem soar ridícula ao invés de assustadora e toda a perseguição envolvendo Grace e Mary pela casa é tão exageradamente histriônica que cai no humor involuntário. A reviravolta final ainda cria vários furos na narrativa quanto observamos outros eventos do filme já sabendo dessa informação e deixa muitos acontecimentos sem qualquer tipo de explicação plausível.

Mal escrito, mal atuado, sem qualquer senso de ritmo ou tensão Por Trás da Inocência é a pior produção da Netflix desde Vende-se Esta Casa (2018).

 

Nota: 1/10


Trailer

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