A trama se passa tempos depois de Vingadores: Ultimato (2019). Wanda (Elizabeth Olsen) está aparentemente casada com Visão (Paul Bettany) e vivendo uma idílica vida de classe média suburbana. Só um problema, Visão foi morto por Thanos (Josh Brolin) nos eventos de Vingadores: Guerra Infinita (2018) e, de alguma maneira, o casal parece estar vivendo em uma espécie de sitcom da década de 50. Aos poucos, no entanto, vamos percebendo que há algo muito estranho nessa realidade.
A série faz uma competente homenagem às décadas de sitcoms televisivos como The Dick Van Dyke Show, A Feiticeira, A Família Dó Re Mi e até mesmo produtos mais contemporâneos como Malcolm in the Middle ou Modern Family. Essas séries são recriadas com bastante precisão, dos figurinos e cenários, passando pelas aberturas e elementos técnicos da imagem, como a razão de aspecto da tela.
A questão é que nem sempre essa dimensão paródica das séries de comédia trabalha junto com a trama principal que é uma jornada pelo processo de luto de Wanda por conta da morte de Visão e como, sabe-se lá de que modo, essa realidade paralela foi construída. Nos três primeiros episódios praticamente não temos nenhum dado sobre a trama principal, ela quase não anda. Se parássemos de assistir nesse exato ponto sequer saberíamos direto do que a série trata.
Esse problema se estende a outros episódios (como o penúltimo) e dá a impressão de que a série poderia ter sete ou seis episódios, mas ficou presa demais ao formato de homenagear uma sitcom por episódio. Quando a trama não anda, a série preenche o tempo com referências e easter eggs cujo objetivo é criar expectativa e fazer os fãs teorizarem sobre o que vai acontecer. O problema disso é que a série pode criar expectativas que não tem como cumprir.
Era evidente pelo número e duração dos episódios que a trama não inseriria os mutantes, Magneto ou Mephisto. Havia pouco tempo para construir esses eventos que transformariam todo o universo audiovisual do Marvel, mas isso não impediu os fãs de criarem expectativas porque, em parte, a série alimentou essas expectativas com múltiplas referências a Dinastia M e outros arcos dos quadrinhos com a presença desses personagens, o que, de certa forma, faz o público se sentir autorizado a interpretar que esses elementos de fato apareceriam na série. Então apesar de não ter sido frustrado pelos desenvolvimentos da trama, entendo quem se sentiu assim, já que a série não soube gerenciar adequadamente essas expectativas.
Ainda assim, a trama se sustenta pelo trabalho de Elizabeth Olsen, que nos faz sentir a dor de Wanda e como ela está tão perdida em seu luto que está disposta a ferir qualquer um que se coloque como uma ameaça à sua realidade, sendo difícil não sentir medo dela quando ela vira os soldados da SWORD contra Hayward (Josh Stamberg). Olsen também nos faz sentir todo o peso das múltiplas perdas que Wanda sofreu, desde a morte de seus pais, passando pela perda de Pietro e depois sendo obrigada a matar Visão, apenas para vê-lo ser morto de novo por Thanos. Dessa forma conseguimos simpatizar de certa forma com as ações da protagonista apesar dela fazer coisas indubitavelmente terríveis, como escravizar uma cidade inteira.
Tal como nos filmes, Olsen tem uma ótima química com Paul Bettany, transmitindo todo o afeto e ternura que há entre Wanda e Visão. A série, inclusive, nos mostra a gênese dessa relação em um flashback no qual o casal divide uma conversa tocante sobre luto ser a permanência do afeto. Outro destaque é Kathryn Hahn como a vizinha Agnes (cuja real identidade é fácil de prever para quem conhece os quadrinhos), que traz um alcance enorme para sua personagem, indo rapidamente da comédia à intimidação, sendo uma antagonista à altura.
Apesar desse ótimo trio de personagens o desfecho tem lá sua parcela de problemas. A revelação do nome Feiticeira Escarlate e da protagonista finalmente usar sua indumentária dos quadrinhos fazem valer a expectativa que a trama criou ao redor da personagem. Já a despedida final de Wanda emociona por conta de Olsen e Bettany, mas tem parte do seu impacto prejudicado pelo fato de sabermos que o “Visão Branco” recuperou suas memórias, podendo se reencontrar com Wanda. Assim, a despedida perde seu senso de fechamento e fica a sensação de que tudo foi, em algum nível, uma perda de tempo, já que eventualmente Wanda e Visão irão se reencontrar. Teria sido melhor se o “Visão Branco” ao invés de recuperar as memórias tivesse se autodestruído ao final do debate com Visão e assim teríamos um peso real no momento em que Wanda desfaz o feitiço que mantinha aquela realidade funcionando.
Do mesmo modo, o final soa anticlimático para boa parte do elenco coadjuvante. Depois de passar a temporada inteira construindo o antagonismo entre Hayward e Monica Rambeau (Teyonah Parris), imaginamos que o episódio final finalmente trará um confronto entre os dois, mas não, ele é rapidamente atropelado por Darcy (Kat Dennings). Sim, vemos Monica finalmente manifestar seus poderes ao salvar os filhos de Wanda, no entanto não há um senso de fechamento em relação a todo o conflito construído entre ela e Hayward. Darcy, por sinal, desaparece completamente depois de atropelar Hayward, falhando também em dar qualquer senso de fechamento à presença dela na série.
Assim, WandaVision acerta
na exploração do luto de sua protagonista, mas sua trama principal tem
problemas de ritmo, nem sempre conseguindo dialogar com a escolha de parodiar sitcoms e algumas escolhas do episódio
final diminuem o impacto dos eventos.
Nota: 7/10
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