terça-feira, 13 de abril de 2021

Crítica – Esquadrão Trovão

 Análise Crítica – Esquadrão Trovão


Review – Esquadrão Trovão
Misturar comédia e super-heróis pode render coisas boas, principalmente quando você tem protagonistas como Melissa McCarthy e Octavia Spencer. Este Esquadrão Trovão, no entanto, consegue a proeza de não fazer nada funcionar, com um texto capenga, humor simplório e uma completa falta de ritmo. 

Na trama, o mundo é afetado por uma energia cósmica que causa alterações em partes da população, que desenvolvem poderes. Apenas pessoas com sociopatia são afetadas pela transformação, então todas as pessoas com superpoderes são vilões. Após perder os pais para um desses supervilões, Emily (Octavia Spencer) dedica a vida a encontrar um meio de derrotá-los. Ela se envolve na criação de uma fórmula para dar poderes a pessoas normais, mas Lydia (Melissa McCarthy), melhor amiga de Emily, acidentalmente toma a fórmula de superforça, restando a Emily ajudar a amiga a lidar com as novas habilidades ao mesmo tempo em que a própria Emily ganha poderes de invisibilidade.

O primeiro problema é a construção frouxa do universo. Apesar de existirem vilões superpoderosos há mais de trinta anos neste mundo, a sociedade continua praticamente a mesma. Era de se imaginar que o mundo fosse ser, de algum modo, diferente depois de décadas com a presença de supervilões, inclusive com instabilidade social e política conforme esses superseres tentariam inevitavelmente tentar tomar o poder a força, mas não, tudo é o mesmo. Ao longo do filme também aparecem situações que vão de encontram ao que foi estabelecido em relação ao funcionamento deste universo e todos esses problemas na concepção do mundo da trama tornam difícil embarcar na narrativa, já que não soa como um lugar verossímil, da mesma maneira que aconteceu com o fraco Bright (2017).

Não ajuda que a narrativa seja completamente arrastada, com praticamente nada acontecendo até a metade da duração quando finalmente o filme delineia o conflito principal da trama, mas mesmo aí não há muito de interessante acontecendo. São um conjunto de cenas coladas na outra sem muita lógica, coesão ou consistência.

Constantemente os personagens tomam decisões que muitas vezes não fazem sentido algum. Em um dado momento o vilão Rei (Bobby Cannavale) decide tentar propor uma aliança com as heroínas e invade a instalação em que as moram, destruindo tudo no local. A questão é que o vilão é um político tentando se eleger prefeito, então invadir uma instalação secreta (que provavelmente tem câmeras) poderia ser um risco à carreira política. Enquanto candidato, o personagem poderia simplesmente chamar as duas heroínas para uma reunião, algo que não arriscaria seu trabalho. Apesar da decisão estúpida, o fato dele se expor desnecessariamente não tem qualquer repercussão. Do mesmo modo, o plano dele de matar a prefeita eleita ao dar uma festa para ela e colocar uma bomba no local soa bastante idiota. Será mesmo que ninguém desconfiaria de um atentado a bomba matar a principal opositora dele, em uma festa dada por ele, em um local escolhido por ele, com ele saindo momentos antes da explosão?

Não ajuda a quase completa ausência de momentos realmente engraçados. Melissa McCarthy repete o mesmo tipo de mulher fracassada e descontrolada que interpreta em filmes como em Tammy: Fora de Controle (2014), com gags físicas pouco criativas que envolvem berros histéricos, tombos ou ela quebrando algo acidentalmente. Octavia Spencer tem muito pouco a fazer como Emily, sendo relegada ao segundo plano apesar de ser, em tese, coprotagonista. Com isso, Spencer fica limitada a reagir à histeria de McCarthy. Quem rouba a cena é Jason Bateman como um supervilão com braços de caranguejo com quem Lydia acaba vivendo um bizarro romance com direito a um insólito número musical e fetiches estranhos.

Por outro lado, a cena de Bateman em McCarthy em um restaurante soa estranha em relação à lógica estabelecida dentro do universo fílmico. O personagem de Bateman é um notório supervilão e, ainda assim, nenhum dos clientes, garçons e pessoas ao redor parecem se incomodar com a presença de um criminoso procurado nem com o fato dele estar ali com uma super-heroína, algo que poderia colocar em cheque a credibilidade de Lydia, mas, novamente, não tem qualquer repercussão na trama.

Apesar de ser, em tese, uma paródia de filmes de super-heróis, o filme se limita a reproduzir os clichês e batidas típicas dessas histórias, como a descoberta de poderes, criação de uniformes, primeira missão, sem ter nada a dizer sobre eles, no máximo usando como um meio de criar algumas gags físicas sem muita graça. Não parece existir no texto qualquer intenção ou vontade de realmente zoar ou criticar esses clichês. Mesmo a tentativa de construir mensagens positivas de representatividade e valorização das protagonistas, mulheres quarentonas fora dos típicos padrões de beleza, as personagens são constantemente alvo de piada justamente por conta de sua idade, forma ou mau-cheiro de seus trajes (como assim um bando de gênios da ciência conseguem dar superpoderes às pessoas mas não conseguem pensar em um jeito de limpar os trajes?).

Apresentando um universo frouxo, cheio de lugares-comuns, mas sem qualquer tentativa de satirizá-los de fato, Esquadrão Trovão é uma comédia de super-heróis arrastada e sem graça. É o quinto filme que Melissa McCarthy faz sob a direção e roteiro do marido Ben Falcone, com todos eles (Tammy: Fora de Controle, A Chefa, Alma da Festa, Superinteligência) sendo muito ruins. Está na hora de McCarthy começar a pensar em divórcio.


Nota: 3/10


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