segunda-feira, 26 de abril de 2021

Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 1)

 

Análise Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 1)

Review – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 1)
Originalmente pensada para ser a primeira das séries do universo Marvel a passar no Disney Plus, Falcão e o Soldado Invernal acabou sendo adiado por conta de atrasos na produção e WandaVision foi a primeira. Assistindo a série, é possível entender porque ela foi escolhida para ser a primeira já que a narrativa ajuda a nos situar no estado do universo após os eventos de Vingadores: Ultimato (2019). Avisamos que o texto contem SPOILERS da série.

Na trama, Sam Wilson (Anthony Mackie) decide entregar o escudo de Steve Rogers (Chris Evans) para o governo, esperando que o item seja colocado em um museu. A decisão não agrada Bucky (Sebastian Stan), que acha que Sam deveria seguir os desejos de Steve e ficar com o escudo. Ao mesmo tempo, uma nova ameaça surge no horizonte na forma dos Apátridas, um grupo liderado por Karli Morgenthau (Erin Kellyman) que deseja retornar o mundo à situação de maior igualdade e distribuição de recursos que havia durante os cinco anos do estalo de Thanos. Além dos Apátridas, Sam e Bucky precisam lidar com John Walker (Wyatt Russell), um novo Capitão América nomeado pelo governo, um sujeito escolhido para a posição à revelia dos desejos de Sam ou Steve Rogers.

 Sam e Bucky

O conflito central da trama é a jornada de Sam para aceitar a responsabilidade de portar o escudo do Capitão a despeito de suas próprias inseguranças e também das contradições de carregar consigo o nome e a bandeira de um país tão desigual. Os conflitos de Sam com a bandeira são evidenciados ao conhecer Isaiah Bradley (Carl Lumbly), um soldado negro que recebeu o mesmo soro de Steve na década de 50, mas foi apagado da História, preso e usado como cobaias durante décadas.

A noção do país ter usado um homem negro e depois apagado ele da narrativa oficial remete diretamente ao modo como esforços de negros em conflitos como a Guerra de Secessão e em outras guerras é apagado a narrativa histórica oficial, em como a população negra luta e se sacrifica pelo país apenas para ser alvo de preconceito e marginalização em seu país natal. Ideias que recentemente foram trabalhadas na série Lovecraft Country (2020) e que voltam a reverberar aqui principalmente conforme Sam pondera o peso de alguém como ele, um homem negro, assumir o manto de um país que trata pessoas como ele de maneira tão injusta, algo que também é evidenciado pela dificuldade da irmã de Sam, Sarah (Adepero Oduye), em conseguir um empréstimo e reerguer o negócio.

A ideia do Estados Unidos como um país desigual e o legado do escudo e do soro de super soldado serem o de exclusão e injustiça com minorias é reforçado por Zemo (Daniel Bruhl) ao dizer que a ideia de alguém querer ser um super soldado está ligado a ideais de supremacia racial, com Steve sendo a única exceção entre as pessoas que tomaram o soro e não se envolveram em ideais supremacistas. A própria escolha de um anônimo loiro e de olhos claros para ser o novo Capitão América ao invés de Sam, Bucky ou qualquer outro que tenha sido mais próximo de Steve e seus ideais. Fica evidente que o governo quer que o símbolo nacional seja branco.

O novo Capitão América inclusive vem acompanhado de seu próprio parceiro negro em Lemar Hoskins (Cle Bennett) e Sam fica visivelmente incomodado ao ver um homem negro usado como “acessório” do Capitão. Sam fica ainda mais incomodado quando Walker o chama de “ajudante” do Capitão original, como se Sam fosse um empregado de Steve e não um companheiro que trabalhava ao lado dele, mais uma vez tentando implicar que Sam só tem lugar como um papel subalterno.

Ao longo da temporada Sam vai demonstrando que é de fato a pessoa mais digna de carregar o escudo de Steve ao mostrar o comprometimento do personagem com valores como justiça e igualdade ao invés de simplesmente se comprometer com o governo. Sam se recusa, por exemplo, a tratar os Apátridas como terroristas, compreendendo a legitimidade das demandas deles ao se recusarem a serem tratados como cidadãos de segunda classe ainda que discorde dos meios empregados por eles, principalmente porque Karli vai se radicalizando cada vez mais ao longo da temporada.

Já Bucky tenta encontrar seu lugar no mundo agora que está livre da programação de Soldado Invernal e não tem mais nada que o conecte a sua antiga vida agora que Steve se foi. É por esse senso de vazio que talvez ele se apegue tanto à decisão de Sam de abrir mão do escudo. Como o próprio personagem diz, a decisão de Sam o faz sentir como se Steve estivesse errado ao considerar que Bucky tinha alguma chance de se redimir. O personagem, inclusive, tenta de algum modo reparar os danos que causou ao levar à justiça ex membros da Hidra que ajudou antes ou se aproximar de familiares de antigas vítimas.

Fiquem ligados para a segunda parte quando analisaremos os antagonistas da série.


Confiram as outras partes da análise

Parte 2

Parte 3


Trailer

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