quinta-feira, 29 de abril de 2021

Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 3)

 

Análise Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 3)

Review - Falcão e o Soldado Invernal (Parte 3)
Depois de vários episódios construindo os dilemas de Sam em relação ao assumir o escudo do Capitão América, confrontando o personagem com o histórico de injustiças dos Estados Unidos ao mesmo tempo que mostrava os riscos de um Capitão América mais dedicado a obedecer ao governo do que a um senso de valores, Falcão e o Soldado Invernal chegou em seu último episódio com muitas pontas a amarrar. Algumas tramas se resolvem muito bem, embora outras não tenham o impacto que deveriam. Assim, nesta terceira e última parte me dedico a entender o que funciona e o que não se resolve tão bem no episódio final da série.

O desfecho

Assim como aconteceu com WandaVision, a série tem alguns problemas em seu episódio final. Ela lida muito bem com o arco do protagonista, mas resolve de maneira problemática as tramas dos demais personagens. As cenas com Sam são o ponto alto do episódio final, com ele finalmente decidindo assumir o manto de Capitão América e se revelando como tal. Além das cenas de ação que mostram as habilidades do personagem com o escudo e seu novo uniforme, o que mais o define como alguém que merece o posto é a maneira como ele questiona as autoridades para o tratamento dado aos Apátridas.

Sam se recusa a considerá-los como terroristas e põe em cheque os privilégios dos políticos que tomam as decisões que alteram as vidas de milhões, mas estão mais interessados em jogos de poder do que realmente melhorar a vida das pessoas que estão sob sua responsabilidade. Outro momento impactante de Sam no final é quando ele leva Isaiah para o Smithsionian para mostrar a nova exposição dedicada ao primeiro super-soldado negro, um momento discreto e silencioso que chama a atenção para a necessidade de reparação histórica em relação às minorias apagadas dos registros oficiais.

Por outro lado, o final deixa na mão praticamente todo o restante do elenco. Os conflitos emocionais de Bucky se resolvem muito rápido quando ele decide falar ao senhor Nakajima que matou o filho dele quando era o Soldado Invernal. O problema é que a cena corta assim que Bucky começa a falar, nos roubando de verdadeiramente ver a reação de Nakajima e como isso impacta Bucky, não nos permitindo sentir o que deveria ser um momento de grande impacto emocional para o personagem.

O arco de Walker também se resolve com escolhas que não são devidamente construídas. Depois de construí-lo como um sujeito instável (principalmente depois do soro) e em busca de vingança contra os Apátridas, o personagem simplesmente resolve abandonar seu rancor e desejo de vingança ao decidir por salvar os dignitários internacionais ao invés de continuar perseguindo Karli e os demais. É uma decisão importante que marca uma virada significativa para o personagem, mas que não é dada nenhuma motivação. Walker muda seu modo de agir e pensar simplesmente porque o roteiro disse que ele deveria fazer aquilo, não havendo qualquer esforço para estabelecer o porquê dessa mudança.

Mais grave que isso, Bucky e Sam aceitam Walker trabalhando ao lado dele para conter os Apátridas sem qualquer restrição, hostilidade ou desconfiança, o que é difícil acreditar considerando que dois dias antes os dois enfiaram a porrada em Walker, quebraram o braço dele e tomaram o escudo à força por considerá-lo indigno de ser um herói. Ainda assim, nenhum deles tem nada a dizer a Walker por ele estar usando novamente o uniforme de Capitão e uma imitação do escudo.

Bastaria uma linha de diálogo com Sam ou Bucky dizendo que só aceitariam Walker por conta da urgência da situação ou que estariam de olho para ele não cometer excessos para que tudo soasse coerente com os arcos desses personagens até aqui, mas ao não reconhecer a animosidade entre esses personagens, tudo soa artificial e uma redenção não merecida. Igualmente não merecida é a cena em Valentina (Julia Louis-Dreyfus) dá a ele o uniforme de Agente Americano, como não sabemos absolutamente nada sobre as intenções de Valentina, não há parâmetro para reagir ao fato de Walker estar trabalhando para ela. Deveríamos estar assustados pelo rumo que Walker tomou? Deveríamos estar receosos? Não sei, porque as motivações e interesses de Valentina são totalmente desconhecidos.

Karli também tem um desfecho anticlimático para a sua jornada. A luta final entre ela e ecoa o confronto entre Steve e Bucky no final de Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014), com Sam se recusando a lutar com ela na esperança de tentar redimi-la. A luta, no entanto, se resolve abruptamente com Karli sendo baleada por Sharon, numa decisão covarde de roteiro para evitar colocar Sam em uma situação moralmente difícil na qual ele tivesse que perceber que a personagem talvez estivesse radicalizada além de qualquer redenção e precisasse tomar a decisão de matá-la. Eu entendo a necessidade de matar Karli para evitar que ela revelasse a verdade sobre Sharon ser a Mercadora do Poder, mas a maneira como a situação é resolvida esvazia a complexidade moral do confronto entre ela e Sam, roubando de Sam o agenciamento de ter que fazer uma complicada escolha moral. O texto acerta, no entanto, em rejeitar tratar Karli meramente como terrorista, reconhecendo a complexidade da situação.

Apesar de alguns problemas de execução no episódio final, Falcão e o Soldado Invernal é um competente exame das injustiças e desigualdades dos Estados Unidos, entendendo o peso simbólico que o Capitão América representa e construindo de maneira consistente e catártica a jornada de Sam Wilson para aceitar a responsabilidade de portar o escudo. Se WandaVision poderia ter alguns episódios a menos, se arrastando mais do que deveria, Falcão e o Soldado Invernal se beneficiaria de ter um episódio a mais para fechar satisfatoriamente os arcos de todos os seus personagens.

 

Nota: 8/10


Confiram aqui as outras partes da análise

Parte 1

Parte 2

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