O documentário segue Fox Rich, que há décadas luta para reverter a pena de prisão do marido Rob, condenado a 60 anos por assalto a mão armada sem direito a condicional, que Fox considera excessiva. Apesar da questão do encarceramento estar no cerne da narrativa, o que vemos é menos uma argumentação para nos convencer dos problemas do sistema prisional e mais sobre como Fox e seus filhos lidam com o fato de construírem uma família durante as duas últimas décadas nas quais Rob passou na prisão.
A narrativa não tenta suavizar ou romantizar o fato de que Rob é culpado, tendo de fato assaltado um banco ao lado da esposa e mais um parente, não pondo em questão de que ele deveria cumprir pena, mas apontando o excesso de uma pena tão longa e sendo negado condicional e outras benesses de presos na mesma situação. O foco principal, no entanto, é na família de Fox ao longo desses vinte anos, no modo como ela tenta manter a família unida, criar os filhos, lutar pela liberdade do marido e fazer as pazes com as consequências da decisão que ela e Rob tomaram décadas atrás.
Essa exploração do passado e do presente de Fox, no entanto, não é linear. Ele vai e volta constantemente entre imagens do presente e imagens do arquivo do passado e essas contraposições mostram como o tempo afetou essa mulher. Passamos de um segmento filmado pouco depois da saída de Fox da prisão onde ela se mostra arrependida, fragilizada e disposta a recomeçar a vida para outro vídeo dela nos tempos atuais, mais segura de si, mais no controle de sua vida e de sua luta pelo marido. Vemos, portanto, como o tempo afeta a protagonista e sua família, sentimos o peso dos anos sobre eles, como esse tempo aumenta as dores causadas pela ausência de Rob e as convicções do que eles precisam fazer para tentar reverter a situação dele. A medida desse tempo é a da ausência de Rob e como isso afeta a família de diferentes maneiras.
Aqui, experimentamos o tempo de forma rizomática. Seguindo a noção de rizoma de Deleuze e Guattari, o rizoma é algo que rejeita a unidade, que se divide o tempo todo em múltiplos caminhos, um mapa que se espalha em múltiplas direções. Ao adotar esse olhar rizomático, passando cada evento por diferentes momentos do tempo, o filme entende como o presente é perpassado por múltiplos feixes de determinações construídas pelo passado. Não há um compartimento específico para cada temporalidade, elas se misturam em diferentes direções para somar o todo da experiência sensorial e afetiva de Fox ao longo desses anos todos, com o encadeamento das imagens de diferentes tempos dando a elas novos sentidos que isoladamente essas imagens não produziriam.
É através desses múltiplos recortes que o filme nos faz sentir o peso do tempo sobre essas pessoas e é justamente porque conseguimos embarcar nessa experiência sensível através do tempo e sentir as marcas dos anos sobre essas pessoas que o desfecho consegue ser tão catártico. O impacto emocional é quase que inevitável porque o filme é eficiente em nos dar a dimensão do peso de todas essas experiências e anos dessas pessoas em concisos oitenta minutos.
Time é uma
ponderação poética sobre como somos afetado pelo tempo, buscando entender como
o peso dos anos e as consequências de determinadas escolhas afetam as pessoas.
Nota: 8/10
Trailer
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