A trama é centrada em Steve (Kelvin Harrison Jr), um jovem de 17 anos aspirante a cineasta e morador do Harlem que é acusado de um crime que não cometeu simplesmente por ser um adolescente negro de periferia que estava próximo do local quando tudo aconteceu. A trama acompanha o julgamento de Steve, as dificuldades dele em se adaptar à vida da prisão, bem como a vida pregressa do protagonista com todos os sonhos e planos que ele tinha.
A narrativa aponta o problema, a conduta preconceituosa de policiais e promotores que julgam Steve por sua cor e sua origem e não pelos fatos em si. Mostra como a sociedade tende a tratar automaticamente um negro periférico como bandido mesmo quando não há praticamente nenhuma evidência objetiva para tal, com o promotor inclusive tentando transformar qualquer elemento da vida de Steve, como sua paixão por cinema, em uma prova de que ele seria um criminoso dissimulado e estaria mentindo para os jurados do tribunal.
O texto, no entanto, nunca vai além de apenas dizer que esse problema existe. Que o racismo motiva injustiças contra a população negra, mas não vai muito além dessa exposição, sem tentar entender esses mecanismos e estruturas de poder que movem e motivam todos esses elementos. Assim, a crítica ao sistema penal do país soa superficial, principalmente se posta ao lado de produtos recentes como a minissérie Olhos que Condenam (2019), filmes Luta Por Justiça (2020) e Se a Rua Beale Falasse (2019) ou documentários como A 13ª Emenda (2016) ou Time (2021).
O elenco, por outro lado, é bastante consistente, do protagonista aos coadjuvantes. Kelvin Harrison Jr convoca muito bem o sentimento de um jovem jogado a um lugar brutal ao qual não pertence. Um sujeito sendo tratado como um monstro apenas pela cor de sua pele e vendo um sistema estatal que não tem qualquer pudor em destruir completamente sua vida sob evidências baseadas em puro preconceito.
Jeffrey Wright e Jennifer Hudson aparecem pouco como os mais de Steve, mas as cenas dele impactam pelo afeto que constroem em relação ao filho, pela dor que eles exibem em ver a prole sob ameaça de perder a liberdade e tudo que sua vida poderia ser por conta das estruturas racistas que existem. Mesmo atores com apenas uma ou duas cenas como o caso de John David Washington ou Jharrel Jerome conseguem apresentar personagens impactantes, com corporalidades e personalidade muito bem delineadas apesar de pouquíssimo tempo de tela. É por conta da qualidade do elenco que conseguimos nos manter envolvidos com o drama do protagonista apesar do estudo superficial que o filme faz sobre as injustiças do sistema penal.
Desta maneira, Monstro traz um ótimo elenco para dar
vida à comunidade e situação de seu protagonista, mas é raso em sua análise dos
problemas do judiciário estadunidense, se limitando a apenas apontar a
existência do problema ao invés de entender seu funcionamento.
Nota: 6/10
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