terça-feira, 18 de maio de 2021

Crítica – Mortal Kombat

 Análise Crítica – Mortal Kombat


Review – Mortal Kombat
Eu estava empolgado por essa nova versão de Mortal Kombat nos cinemas. Ainda considero Mortal Kombat: O Filme (1995) uma das melhores adaptações de games para os cinemas, sendo fiel ao espírito dos jogos mesmo sem apresentar a violência extrema deles, um detalhe que só me dei conta quando reparei que a nova versão teria classificação indicativa alta por conta da violência e o filme de 1995 tinha uma classificação etária mais baixa. Mais do que trazer os brutais fatalities, o novo filme parecia entender e respeitar a construção de mitologia e universo que os games faziam em seus últimos exemplares. Tudo dava a entender que poderia ser muito bom, mas ao assistir o filme o único sentimento é o de decepção.

A trama apresenta Cole Young (Lewis Tan), um lutador decadente de MMA. Quando ele é visitado pelo major Jax Briggs (Mehcad Brooks), Cole descobre que a marca de nascença em forma de dragão que ele possui é na verdade uma marca que designa os lutadores escolhidos para defender a Terra em um torneio interdimensional chamado Mortal Kombat. Os adversários vem do lugar conhecido como Extoterra e são liderados pelo feiticeiro Shang Tsung (Chin Han) que estão a uma vitória de conseguirem invadir nosso planeta.

É uma premissa simples, um torneio de luta para decidir o destino da humanidade, que remete a antigos filmes de artes marciais. Ainda assim, o atual filme tenta complicar o que é simples com profecias e novos elementos ao cânone, o problema é que ele não respeita as próprias regras que estabelece. É dito mais de uma vez que membros da Exoterra não podem vir ao nosso mundo exceto pelo torneio, mas Shang Tsung e seus asseclas conseguem entrar aqui sem problemas. É dito que é proibido que a Exoterra ataque combatentes da Terra fora do torneio e ainda assim Tsung manda Sub-Zero assassinar os guerreiros do nosso mundo sem qualquer problema. Há uma fala em que Tsung diz que os Deuses Anciões não se importam com as regras, mas então porque eles estabeleceram essas regras em primeiro lugar?

Eu sei, ninguém vai assistir Mortal Kombat esperando um drama shakespeariano ou uma história muito complexa, mas o mínimo que se espera é que se tenha coerência com as regras que ele estabelece para si mesmo. Algumas ideias parecem boas sacadas para explicar certos elementos dos jogos, como o conceito de poderes arcanos recebidos pelos participantes do torneio para justificar as habilidades dos lutadores, no entanto, o filme transforma em magia até mesmo habilidades que viriam de aprimoramentos cibernéticos como as de Jax ou Kano (Josh Lawson), o que não faz muito sentido. Como o “poder mágico” de Jax seria criar braços biônicos? E o que teria acontecido se o personagem não tivesse perdido os braços? Porque Kano dispara raios de apenas um olho? Bem, porque no jogo o raio sai do olho biônico do personagem, como aqui ele não tem esse aprimoramento, aqui a habilidade soa estranhamente arbitrária e limitada.

Kano inclusive é o melhor personagem do filme, conseguindo captar o equilíbrio entre brutalidade e humor dos jogos. O resto do elenco é relativamente irregular. Ludi Lin traz a serenidade de Liu Kang e o contraste com a personalidade confiante e abrasiva de Kung Lao (Max Huang) gera alguns momentos divertidos. Joe Taslim é ótimo em mostrar como Sub-Zero é um guerreiro perigoso e brutal, do mesmo modo que Hiroyuki Sanada é uma escolha acertada como Scorpion. Por outro lado, Tadanobu Asano falha em trazer imponência e autoridade a Raiden, enquanto que Chin Han aparece tão pouco que não consegue causar muito impacto como Shang Tsung.

O pior, no entanto, é Cole Young, um personagem criado exclusivamente para o filme, mas que nunca diz a que veio. Com uma motivação genérica de proteger a família e sendo o novato que motiva diálogos expositivos que explicam a trama, Cole é completamente esquecível em termos de personalidade, sendo frustrante que a trama dedique tanto tempo a alguém tão inane quando poderia estar desenvolvendo mais outros personagens. A ligação de Cole com Scorpion acaba sendo inconsequente para a narrativa porque o retorno do ninja infernal tem pouca relação direta com o que Cole faz ao longo do filme.

Na verdade toda narrativa soa desprovida de muita consequência ou riscos palpáveis, já que praticamente nada acontece e boa parte do filme se passa no templo de Raiden se preparando para um torneio que nunca acontece no filme e é empurrado para uma continuação. Tudo isso piora com uma fala de Shang Tsung prometendo trazer de volta os combatentes mortos ao longo da história quando o torneio começar, o que remove o peso dessas mortes. A impressão é que não vimos uma história completa, com início, meio e fim, mas um grande prelúdio para um conflito que ainda vai começar. Uma estratégia picareta para estender uma história por vários filmes que Warner já tinha utilizado em Animais Fantásticos e considerando o resultado abaixo do esperado dos dois filmes daquela franquia, era de se esperar que o estúdio tivesse aprendido a não estender as tramas mais que necessário para forçar múltiplas continuações, mas não, eles não aprenderam nada.

Essa escolha de fazer um filme como uma longa introdução em que nada acontece apenas pra justificar mais filmes soa ainda mais estúpida se considerarmos a longevidade da franquia nos games e a quantidade de histórias contidas neles. Seria perfeitamente possível fazer quatro ou cinco filmes seguindo as tramas dos games sem precisar fazer um filme inteiro de filler narrativo.

Todos esses problemas seriam ao menos mitigados se tivéssemos boas cenas de luta, mas tirando o impacto de algumas finalizações sangrentas as lutas são prejudicadas pela edição picotada que faz tudo parecer fragmentado demais. De nada adianta ter lutadores verdadeiramente hábeis como Joe Taslim (sério, assistam Operação Invasão) se você corta os movimentos dele a cada segundo. Além disso, como muitos dos lutadores do lado de Shang Tsung sequer tem falas, fica evidente que esses personagens não são nada além de buchas de canhão, deixando muitas lutas sem qualquer sensação de perigo porque é óbvio quem vai ganhar. A luta contra Goro é extremamente anticlimática, se resolvendo tão rápido que nunca sentimos que o guerreiro shokan é de fato um lutador tão formidável que está invicto há séculos.

Inconsistente e desnecessariamente arrastado, Mortal Kombat não consegue compensar seus defeitos com a fidelidade ao gore dos jogos originais.

 

Nota: 4/10


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