segunda-feira, 10 de maio de 2021

Crítica – O Legado de Júpiter

 Análise Crítica – O Legado de Júpiter

Review – O Legado de Júpiter
Apesar de nunca ter lido, já tinha ouvido falar do quadrinho O Legado de Júpiter escrito por Mark Millar e desenhado por Frank Quitely, e fiquei curioso com o anúncio de que a Netflix faria uma série baseada nele. Em essência é uma história sobre conflitos geracionais e questões morais, no entanto essa primeira temporada apenas toca na superfície de alguns desses elementos.

Na trama, Sheldon (Josh Duhamel) é um homem que, ao lado de outras cinco pessoas, ganhou super-poderes na década de 1930, se tornando o poderoso Utópico. Nos dias de hoje, um pouco mais velho, mas longe de aparentar seus mais de 100 anos, o herói se preocupa em manter seu estrito código de não interferir na sociedade e não matar, valores que ele também tenta passar para seus filhos, Brendon (Andrew Horton), que tenta seguir os passos do pai e ser herói, e Chloe (Elena Kampuris), que apesar dos poderes tem pouco contato com a família e vive como supermodelo. Durante uma batalha contra o vilão Estrela Negra (Tyler Mane), Brendon decide matar o inimigo para salvar os pais e vingar a morte de outros heróis na batalha. A decisão incomoda o Utópico e cria um conflito entre ele e o filho sobre a aplicabilidade do código que os rege.

A ideia de termos uma geração mais velha de heróis preocupados em inspirar a população, não matar e não intervir em conflito com uma geração mais nova, de moral mais cinzenta e sem reservas de matar os inimigos é como se tivéssemos personagens da chamada Era de Prata dos quadrinhos interagindo com personagens da década de 90, a chamada “Era Image”, na qual pipocavam anti-heróis sombrios, que não hesitavam em matar.

O problema é que a série se mantem à margem desse conflito o tempo todo. O texto aponta as tensões existentes entre os heróis mais velhos liderados por Sheldon e sua esposa também heroína Grace (Leslie Bibb) com heróis mais jovens como Brendon e Petra (Tenika Davis), que pensam que talvez o código esteja criando mais problemas do que resolvendo. Porém, a trama nunca confronta diretamente esses temas, isso porque tem muitos personagens a apresentar e muito a explicar sobre o funcionamento deste universo.

Sim, a série apresenta personagens bem construídos, com motivações críveis que nos fazem entender as ações deles. Compreendemos o peso que deve ter sido para Brendon e Chloe terem crescido à sombra dos feitos do pai e suas constantes lições de moral, bem como a pressão de ter que corresponder a expectativas altíssimas do mundo inteiro o tempo todo. Do mesmo modo, ao acompanharmos o passado de Sheldon, as coisas que ele vivenciou e as escolhas que teve de fazer, compreendemos o seu código estrito, o motivo dele exigir tanto do filho e o peso da responsabilidade que ele carrega. Um peso, inclusive, que é traduzido no semblante constantemente cansado exibido por Josh Duhamel, que transmite através de sua linguagem corporal o peso dos anos e das responsabilidades que agem sobre o personagem.

A série ainda exibe cenas de ação competentes, que exploram criativamente os poderes dos personagens, em especial no episódio centrado em Hutch (Ian Quinlan), que mostra que o bastão de teleporte usado por ele pode ser muito mais poderoso e letal do que se pensa inicialmente. O mesmo pode ser dito dos poderes psíquicos de Walt (Ben Davis) e o modo como ele entra na mente dos oponentes para derrotá-los por dentro. A reviravolta final traz surpresas inesperadas, mas faz o plano de Walt soar mirabolante demais já que algumas ações envolviam desdobramentos que ele não teria como prever, como o ataque inicial da Estrela Negra terminar com alguém matando o vilão.

Outro problema é o uso de flashbacks ao longo dos episódios. Alguns deles funcionam para explicitar as motivações de Sheldon ou os conflitos entre Walt e George (Matt Lanter), mas muito tempo é gasto nos pormenores da jornada de Sheldon até chegar à ilha que os deu poderes, quando esse tempo poderia ter sido usado para levar mais a trama adiante. Como já falei, a temporada mal toca nos temas principais, já que muito tempo é dedicado a apresentar o universo e os personagens. A revelação final promete um conflito melhor delineado em uma provável segunda temporada, mas não afasta a impressão de que tudo que vimos foi um grande prelúdio para uma narrativa que ainda vai entrar de fato em seus conflitos.

Essa primeira temporada de O Legado de Júpiter apresenta personagens interessantes e bem desenvolvidos, mas faz pouco para avançar seus temas e conflitos principais.

 

Nota: 6/10


Trailer


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