terça-feira, 11 de maio de 2021

Crítica – Vozes e Vultos

 

Análise Crítica – Vozes e Vultos

Review – Vozes e Vultos
Partindo de uma típica premissa de casa assombrada, Vozes e Vultos tenta inserir vários outros elementos em sua trama, como um drama conjugal e uma ponderação metafísica sobre arte e espiritualidade. O problema é que a trama tem dificuldade de costurar tudo isso junto, com alguns elementos não funcionando.

A trama se passa na década de oitenta e segue o casal Catherine (Amanda Seyfried) e George Claire (James Norton). Quando George consegue uma vaga de professor em uma universidade no interior, o casal e sua filha pequena deixam suas vidas em Nova Iorque para viver em uma casa de campo perto de onde George trabalha. Enquanto George dá aula Catherine fica em casa trabalhando com suas pinturas, mas aos poucos vai percebendo fenômenos estranhos na casa.

Desde o início há um clima de estranhamento, de que há algo errado embora não saibamos exatamente o que é. Apesar de abusar de sustos súbitos gratuitos, como barulhos altos e outras estratégias batidas, a narrativa é bem sucedida em uma atmosfera de suspense por conta da animosidade crescente entre o casal principal. Catherine está descontente com a mudança, recorrendo a tiradas passivo-agressivas para mostrar seu desprezo e escondendo seu comportamento bulimico. Já George é o pior. Ele mente e trai a esposa constantemente, mantendo um caso com a jovem Willis (Natalia Dyer), além de tratar todos ao seu redor da maneira mais babaca possível.

Seyfried coloca uma vulnerabilidade em Catherine que impede que ela caia no clichê da esposa megera, sem falar que a conduta de George a dá motivos de sobra para se ressentir dele. Já James Norton faz de George um macho tóxico que dá gosto de detestar por conta de sua conduta desagradável, por tentar mentir para todos ao seu redor e praticar gaslighting com a esposa. Conforme a trama avança, vemos indicações de que George ainda guarda mais segredos sobre o seu passado, aumentando as tensões entre o casal e a sensação de suspense em relação ao que pode acontecer.

Esse miolo do filme, focado no desenlace do casal protagonista e das desavenças entre eles, é o segmento mais eficiente da produção, já que os outros elementos não são plenamente explorados. A questão do sobrenatural e a presença de espíritos que habitam a casa da família protagonista não tem seu funcionamento devidamente explicados. É por causa da crise do casal essas entidades se tornam mais ativas, sendo atraídas por eles? Ou na verdade seriam os espíritos a instigarem o agravamento do psicológico dos dois? Não sabemos. E como não sabemos fica difícil ter um posicionamento claro a respeito desses elementos.

O mesmo pode ser dito sobre as questões de metafísica, arte e espiritualidade que o filme tenta debater a partir das pinturas de George Inness e a teologia de Emanuel Swedenborg. Aqui e ali o filme cita essas obras e como elas trazem a ideia de que o mundo espiritual e o mundano coexistem, mas todo esse conteúdo de história da arte acaba servindo apenas para explicar de maneira vaga a presença de espíritos na trama.

Como esses elementos são mal trabalhados ao longo da narrativa, quando chegamos ao clímax e à tentativa de fazer convergir o drama matrimonial, o terror sobrenatural e as reflexões metafísicas, tudo soa como uma bagunça jogada de qualquer jeito inventada de última hora. Ao invés de amarrar todos esses elementos de maneira impactante, o final joga tudo de qualquer jeito na tela, com eventos acontecendo por pura exigência do roteiro e não por um desenvolvimento orgânico de regras estabelecidas para esse universo de espiritualidade. Com isso, as ponderações sobre a influência do mundo espiritual no mundo material são reduzidas a um deus ex machina no qual uma personagem em coma é acordada pelos espíritos dos que morreram e informada dos crimes que o protagonista cometeu.

Vozes e Vultos se sai um pouco melhor como um drama conjugal do que como terror sobrenatural, apresentando muitos elementos e ideias sem conseguir mesclar tudo em um conjunto coeso.

 

Nota: 5/10


Trailer

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