Crítica – Em Guerra com o Vovô

Certas decisões têm consequências severas e acabam causando dano às pessoas a nossa volta ou a nós mesmos. De certa forma essa é a moral deste Em Guerra com o Vovô, mas também se aplica à carreira de Robert De Niro, que depois de um divórcio custoso, aparentemente está precisando trabalhar em porcarias como Tirando o Atraso (2016) e esse filme para pagar os boletos no fim do mês. É uma pena, considerando o talento de De Niro, embora ele não seja o único desperdiçado aqui, já que nomes tarimbados Uma Thurman, Cheech Marin e Jane Seymour também participam dessa bomba.

Na trama, Ed (Robert De Niro) é um idoso que mora sozinho depois da morte da esposa. Quando ele machuca o joelho em um supermercado, a filha dele, Sally (Uma Thurman), resolve levar Ed para morar com ela. Com poucos cômodos, Sally coloca Ed no quarto do filho caçula, Peter (Oakes Fegley), mudando Peter para o sótão da casa. Peter não fica feliz com a decisão e decide declarar guerra ao avô, infernizando ele até que ele decida ir embora, mas Ed não está disposto a deixar barato as pegadinhas do neto.

A trama quer que nos importemos com Peter, mas é muito difícil torcer para o garoto considerando que as motivações dele são mesquinhas, egoístas e imaturas. Querer expulsar de casa o avô enlutado e com um problema no joelho é uma motivação que não consegue me causar nada além de ojeriza. Para que essa premissa funcionasse seria preciso colocar Ed em uma posição menos vulnerável, tipo colocá-lo como um parasita que fingiu a lesão para ser sustentado pela filha. Uma alternativa seria colocar Peter efetivamente como o vilão da história, abraçando um humor mais sombrio como fez Eu Me Importo (2020), tratando-o como um garoto de fato mesquinho e egoísta ao invés de inicialmente fazer parecer que há alguma legitimidade na conduta dele como a trama faz durante boa parte da projeção. Do jeito que está, no entanto, é difícil se importar com o protagonista.

Claro, eu sei que se trata de uma criança imatura, que ele eventual e previsivelmente aprende a lição e se aproxima do avô, a questão é que até chegar nesse ponto não temos qualquer razão para torcer ou nos importarmos com o resultado e quando a catarse chega é muito pouco e tarde demais. O texto, inclusive, esquece completamente a lesão de Ed assim que a guerra com Peter começa, já que o idoso vai de varandas, pula de cama elástica, corre e faz outras atividades sem demonstrar um grama de dor e bengala que ele usa quando chega na casa da filha desaparece por completo.

As pegadinhas são uma reciclagem pouco imaginativa de peças que já vimos serem pregadas pela franquia Jackass e youtubers há décadas, tipo substituir recheio de biscoitos por pasta de dente, funcionando de maneira bastante previsível, o que falha em causar risos. Também copia gags de outras comédias, como o uso de um airbag de carro em uma cadeira, inteiramente copiado de Vizinhos (2014). Em muitos momentos o filme insiste em repetir as mesmas situações cômicas, como Sally arremessando coisas do carro em um insuspeito guarda de trânsito ou Arthur (Rob Riggle) acidentalmente vendo Ed pelado. São situações que não são engraçadas na primeira vez que as vemos e que ficam ainda mais sem graça repetidas à exaustão.

Não ajuda em nada o fato de que boa parte das piadas envolvendo Ed se baseiam em puro etarismo, zombando o idoso por ele não conseguir usar determinados aparelhos eletrônicos ou outros clichês envolvendo humor com personagens idosos, como se isso por si só o tornasse alguém patético ou incapaz. Houve apenas uma situação em que eu realmente ri que foi o “efeito dominó” causado por uma pegadinha durante uma festa de aniversário, o único momento em que o filme é realmente criativo com o senso de absurdo das pegadinhas.

Cheio de piadas antiquadas, repetitivas e pouco criativas, Em Guerra com o Vovô ainda é prejudicado por uma premissa problemática que torna difícil torcer pelo protagonista.

 

Nota: 3/10

Trailer