A trama é centrada em Usnavi (Anthony Ramos), um jovem filho de imigrantes dominicanos que tem uma pequena mercearia em Washington Heights na periferia de Nova York. Usnavi sonha em voltar para a República Dominicana, de onde partiu ainda bem pequeno enquanto que seus vizinhos também lidam com os sonhos e as dificuldades do local, especialmente com o aumento da especulação imobiliária que dá início a um processo de gentrificação do bairro.
É um exame afetuoso e enérgico do que significa ser um imigrante latino-americano ou caribenho nos Estados Unidos, celebrando a força e união dessa comunidade ao mesmo tempo em que reconhece as dificuldades experimentadas por um imigrante no país. De um lado há o olhar sobre o sonho de uma vida melhor, a crença de que em um novo país é possível tornar sonhos realidade e, ao mesmo tempo, se manter fiel às suas raízes. De outro há o reconhecimento dos Estados Unidos como um país racista, que trata imigrante como indivíduos de segunda categoria ou de maneira desumana. De uma política e estrutura de poder que existe para manter essas pessoas pobres e marginalizadas.
Há um grande senso de afeto e união comunitária na maneira como esses personagens se relacionam, em especial como Usnavi, Kevin (Jimmy Smits), Daniela (Daphne Rubin-Veja) e outros congregam ao redor da Abuela Claudia (Olga Merediz), uma senhora que se tornou uma espécie de matriarca da comunidade. As interações entre eles convencem que essas pessoas conviveram durante uma vida inteira, se conhecem muito bem e claramente se importam uns com os outros.
Além do senso de comunidade, outro tema central é o senso de deslocamento e a impressão de que esses sujeitos vivem em um constante entrelugar, seja geográfico ou social. Usnavi quer retornar à República Dominicana porque, de certo modo, ainda se sente um estrangeiro nos EUA e anseia por rever a pátria que deixou para trás. Já Nina (Leslie Grace) fica em dúvida se deveria mesmo ir para uma universidade de prestígio por conta dos sacrifícios que o pai faz para pagar seus estudos, além do preconceito e constrangimento que precisa experimentar por estar ocupando um espaço que supostamente alguém da “classe” dela não deveria estar.
Todos esses sentimentos de pertencimento, comunidade, sonho e resiliência são amplificados pelos números musicais cuja própria escolha de ritmos já nos localiza em relação à cultura desses personagens, recorrendo a boleros, salsas, rap e hip hop para transmitir a latinidade deste universo desde a instrumentação das canções. As letras velozes ilustram a correria desses sujeitos para trabalharem, garantir o sustento, tentar aproveitar a vida e seguir seus sonhos, como na cena inicial em que Usnavi abre a mercearia, o número iniciado por Daniela em um pátio depois do blecaute ou a performance coletiva em que comentam o que fariam com o prêmio da loteria. Outras canções servem para ilustrar os dramas internos das personagens como a que Nina pondera em como esconder do pai sua decisão de sair da faculdade ou a emocionante canção em que a Abuela conta sua trajetória de vida desde sua saída de Cuba à vida que construiu neste outro país às custas do trabalho dela e da mãe.
As coreografias transmitem a intensidade e a energia das canções ao mesmo tempo em que dialogam com as tradições dos musicais hollywoodianos. Os mosaicos aquáticos na cena da piscina, por exemplo, remetem às imagens caleidoscópicas das coreografias de Busby Berkeley e também aos musicais aquáticos protagonizados pela nadadora Esther Williams. Desta maneira são números musicais que transitam entre o classicismo estético e a contemporaneidade dos ritmos músicas ou das demandas sociais das letras.
Vibrante, enérgico e afetuoso, Em Um Bairro de Nova York é um
espetacular tributo às vivências dos imigrantes latinos nos Estados Unidos.
Nota: 9/10
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