Ele se divide em três histórias de mães que perderam seus filhos em circunstâncias bastante dolorosas. Na primeira história há um suicídio, na segunda um bebê é esquecido no carro e na terceira uma mãe reencontra o filho que tinha perdido há dezessete anos. São tramas marcadas por dores e afetos intensos movendo essas personagens e os números musicais ajudam a pontuar os sentimentos que atravessam esses indivíduos.
Apesar de falar aqui em números musicais devo dizer que eles são relativamente pontuais no filme, aparecendo ao fim de cada uma das histórias. Eles são usados justamente como esse veículo de para extravasar os sentimentos que as personagens contiveram até então, como se fossem dores tão intensas e sentimentos tão profundos que apenas palavras não dariam conta de expressá-los, que apenas uma canção seria capaz de transmitir uma emoção tão arrebatadora.
Essa impressão do número musical como única expressão possível das dores dessas mães é reforçada pelo contraste desses momentos musicais com o resto do som do filme. Em geral a paisagem sonora do longa é marcada por uma representação naturalista do som, cheia de ruídos ambientes e momentos de silêncio, com poucos elementos sonoros extra diegéticos (fora do universo da trama), conferindo um olhar relativamente realista ao cotidiano retratado. Durante boa parte das jornadas dessas personagens são esses silêncios, essa quietude delicada, que marca as dores e inquietações vivenciadas.
Quando os números musicais entram, eles vêm como uma ruptura brusca dessa realidade construída até então, como se a dor dessas mulheres também fizesse ruir o mundo e a realidade ao redor delas. Dessa maneira, o filme usa esse não naturalismo que é típico dos musicais (que em geral promovem quebras da realidade do universo fílmico) para simbolizar esses sentimentos tão fortes que perfuram o tecido da realidade das personagens e que só pode ser expressado através dessas quebras de regime narrativo.
As canções também trazem imagens de pequenos movimentos coreografados, como clipes de papel sendo movidos em uma mesa ou pessoas deitadas movendo a cabeça num mesmo ritmo. Imagens que remetem aos mosaicos e caleidoscópios visuais criados pelas coreografias feitas por Busby Berkeley em musicais hollywoodianos das décadas de 1930 e 1940. São movimentos que funcionam como uma reprodução minimalista das coreografias imaginadas por Berkeley, tentando trazer o senso de inventividade visual do coreógrafo, mas mantando a dimensão íntima e delicada das canções.
O Que Se Move brinca bastante com as convenções do filme musical e
encontra força no olhar sensível e intimista com o qual constrói as dores de
suas personagens e na maneira com que usa os segmentos musicais para ilustrar
os sentimentos delas.
Trailer
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