terça-feira, 6 de julho de 2021

Crítica – A Guerra do Amanhã

 Análise Crítica – A Guerra do Amanhã


Review – A Guerra do Amanhã
Este A Guerra do Amanhã é um daqueles filmes que até poderia render um blockbuster de ação divertido se não levasse tão a sério sua premissa aloprada e trama recheada de clichês. Do jeito que está, no entanto, é uma bagunça quase incoerente que nunca consegue ir além dos vários lugares-comuns que reúne em suas desnecessárias duas horas e vinte de duração.

A trama se passa no final do ano de 2022 quando uma tropa de soldados do futuro avisa a humanidade que em 30 anos uma invasão alienígena praticamente dizimará a nossa espécie e eles voltaram ao passado para recrutar pessoas do nosso tempo para lutarem na guerra. Quase um ano depois, o número de mortos do presente é enorme e ainda não há sinal de que a guerra do futuro seja vencida. Sem mais militares para enviarem, os governos começam a convocar civis e Dan (Chris Pratt), um ex-militar e professor de biologia, é um dos selecionados para irem para o futuro lutar contra a espécie invasora chamada de “garras brancas”.

Já de início a trama não parece fazer muito sentido. Se eles podem voltar ao passado, porque não tentar dar informações para evitar a guerra? Aproveitar a quantidade maior de recursos do passado para pesquisar mais sobre as criaturas invasoras, desenvolver melhores armas ou outras coisas parece uma estratégia mais eficiente do que chamar pessoas para morrerem no futuro. Tudo bem que a comandante (Yvonne Strahovski) eventualmente revela querer ajudar o passado ao invés de salvar o futuro, mas porque não revelar isso para as pessoas do passado logo de início? Talvez a solução viesse mais cedo para o futuro, inclusive.

Do mesmo modo é muito estranho que os civis convocados sejam mandados para a guerra sem qualquer tipo de treinamento de manejo de armas ou informações sobre o que eles irão combater, como o inimigo se move, quais seus pontos vulneráveis e outras informações que os tornariam melhores combatentes. Qual a vantagem estratégica de enviar sujeitos completamente despreparados na frente de batalha? É tão estúpido que cheguei a pensar que a trama apresentaria alguma reviravolta em que descobriríamos que os soldados do futuro tinham alguma motivação sombria em enviar pessoas do passado para serem devorados pelos alienígenas, mas não, é só uma trama mal concebida mesmo.

Eu poderia continuar falando sobre os vários problemas e decisões sem sentido das personagens, como a esposa de Dan querer fugir do país para que ele não vá para a guerra, ignorando que é uma iniciativa global e que se fizessem isso não haveria lugar seguro no mundo para eles, mas existem inúmeros outros problemas. Falando em iniciativa global, apesar do roteiro nos informar isso, vemos apenas pessoas dos Estados Unidos o filme inteiro, reiterando a velha e anacrônica visão dos EUA como essa “polícia do mundo” e únicos salvadores possíveis.

O início do filme, mostrando os protestos contra uma guerra que em teoria não nos pertence, os traumas daqueles que retornam do futuro ou as falas do pai de Dan sobre o trauma do Vietnã parecem indicar algum tipo de paralelo com a Guerra do Vietnã (algo que James Cameron fez muito bem em Aliens: O Resgate), mas nada disso acaba tendo qualquer repercussão na trama. É só mais um filme sobre matar alienígenas e não teria qualquer problema nisso se a narrativa não se levasse tão a sério ou tentasse fazer paralelos com o mundo real, se abraçasse seu lado de blockbuster acéfalo como Independence Day (1996) ou No Limite do Amanhã (2014) talvez conseguisse funcionar como uma diversão despretensiosa.

Não ajuda que Chris Pratt seja tão mal escalado como Dan, um ex-militar amargurado por conta da má relação com o pai e de sua estagnação profissional que aos poucos se afasta da família. Pratt funciona bem interpretando sujeitos atrapalhados e/ou cafajestes de bom coração, que nos fazem relevar as idiotices ou canalhices deles por conta do torto sorriso canastrão de Pratt. Aqui, no entanto, com um personagem mais sorumbático e trágico, Pratt parece não conseguir fazer muito além de apertar as sobrancelhas e semicerrar os olhos, independente da emoção que a cena convoque. É como a cena em que Peter Quill tenta imitar o Thor em Vingadores: Guerra Infinita (2018), só que estendida ao longo de um filme inteiro e levada a sério.

O resto do elenco não se sai muito melhor. Yvonne Strahovski tenta dar conta do peso dramático que Pratt não consegue evocar, mas é prejudicada por um texto cheio de diálogos expositivos e platitudes rasteiras sobre tempo e família que parecem saídas de um comercial de seguros. J.K Simmons tenta dar alguma nuance ao pai de Dan, mas também esbarra em diálogos ruins, incluindo uma piada sobre metrossexuais que soa uns quinze anos atrasada (alguém ainda usa o termo metrossexual em 2021?). Betty Gilpin é completamente desperdiçada como a esposa de Dan, que não tem nada a fazer além de ser a esposa do protagonista e existe apenas para gravitar em torno do marido.

As criaturas são visualmente bem concebidas, com um aspecto que as faz parecer naturalmente assustadoras, mas as cenas de ação falham em empolgar ou surpreender. Não há nada de muito criativo nos embates com os monstros e em muitos momentos, especialmente quando os personagens fogem de hordas de criaturas, a computação gráfica soa demasiadamente artificial, denunciando que os atores estão correndo diante de um fundo verde vazio. O clímax do filme se alonga mais do que deveria e durante umas duas ou três ocasiões parece que tudo vai acabar, mas o confronto insiste em continuar, fazendo tudo ficar ainda mais cansativo. O ato final também tenta inserir mensagens sobre mudanças climáticas, mas assim como outros temas tudo é jogado de qualquer maneira e sem muita consistência.

Eu esperava encontrar ao menos uma aventura divertida neste A Guerra do Amanhã, mas o que encontrei foi um texto pavorosamente construído, ação que não empolga e um protagonista equivocadamente escalado. Chega a ser difícil de crer que o mesmo diretor que conduziu o enérgico e vibrante Lego Batman: O Filme (2017) tenha conseguido fazer algo tão arrastado e sem personalidade.

Nota: 3/10


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