quarta-feira, 28 de julho de 2021

Crítica – Mestres do Universo: Salvando Etérnia

 

Análise Crítica – Mestres do Universo: Salvando Etérnia

Review – Mestres do Universo: Salvando Etérnia
É surpreendente o quanto esta primeira temporada de Mestres do Universo: Salvando Etérnia funciona bem. Considerando que a animação original do He-Man foi criada apenas para divulgar e dar visibilidade a uma linha de bonecos, ver que isso chegou até aqui capaz de gerar uma narrativa com personagens tão bem construídos e um universo tão coeso é um feito admirável. Aqui o mérito provavelmente cai sobre os ombros do produtor e roteirista Kevin Smith, que sempre demonstrou afeto por esse universo e aqui constrói uma trama que nunca se resume a mero fanservice ou um apelo raso à nostalgia, preferindo ir além do que produções anteriores estabeleceram sobre este mundo.

Na trama o Esqueleto lança um ataque derradeiro ao Castelo de Grayskull para obter o poder mágico em seu núcleo. Durante a batalha o núcleo é destruído, junto com a Espada do Poder que permitia o príncipe Adam se transformar em He-Man, praticamente acabando com a magia de Etérnia. Agora os heróis e vilões que sobreviveram precisam se unir para restaurar a Espada do Poder e trazer a magia de volta antes que o planeta definhe por completo.

Apesar da espada do He-Man ser o que move a trama, a narrativa passa mais tempo com Teela, com He-Man sendo mais um acompanhante da história, algo similar ao que acontece com Max (Tom Hardy) em Mad Max: Estrada da Fúria (2015). Isso não chega a ser um problema considerando o quanto Teela é bem desenvolvida enquanto personagem. Na verdade, há aqui um claro cuidado em tentar entender o que move esses personagens depois da grande derrota inicial, apresentando um senso palpável de consequência a tudo que acontece e todo o desenvolvimento tem um senso maior de maturidade.

Quando falo em maturidade não quero dizer que a animação tem litros de sangue ou toneladas de violência gráfica como Invencível, mas de dotar os personagens de complexidade, de colocá-los diante de situações em que precisam fazer escolhas difíceis e em muitos momentos evitar o maniqueísmo simplório dos produtos anteriores. Um bom exemplo é a Maligna, que se mostra amargurada por ter dedicado a vida a servir Esqueleto sem nunca ter recebido reconhecimento por seus esforços os ter os sentimentos reciprocados pela pessoa que admirava. Ela é, em essência, alguém em um relacionamento tóxico, devotada a uma pessoa que a vê como um mero instrumento.

Do mesmo modo, a jornada de Teela é para lidar com a frustração de ter sido a única entre seus aliados em não saber a verdade sobre Adam ser He-Man, como se isso significasse que eles não confiavam nela ou a viam como alguém menos digna. A guerreira deseja então provar seu valor e se desvencilhar ao máximo de sua antiga vida, embora demonstre sentimentos mal resolvidos por Adam. Mesmo aparecendo pouco, Adam também tem bons momentos, com a trama se dedicando a mostrar a natureza abnegada do herói, capaz de arriscar seu lugar no “paraíso” para fazer o que é certo, revelando o porquê dele ser merecedor da Espada do Poder.

Ainda assim, o texto de Smith encontra maneiras de referenciar a animação original através de flashbacks que mostram embates anteriores entre He-Man e Esqueleto com direito a frases de efeito cafonas que caberiam como uma luva na produção oitentista. O interesse, no entanto, não é meramente requentar o que veio antes, mas usar isso como fundação para expandir o universo e os personagens. A trama apresenta novos elementos à mitologia existente e aprofunda até mesmo personagens como Gorpo, que existia apenas como alívio cômico e que aqui ganha contornos mais trágicos. O mesmo acontece com Pacato, que consegue mostrar outras facetas além dos momentos de comédia. Esse cuidado no desenvolvimento dos guerreiros ajuda a dar peso a cada vitória ou derrota, já que cada um deles é uma presença significativa na narrativa.

A ação serve para ilustrar como esses personagens são guerreiros poderosos e experientes. Da força descomunal de He-Man, passando pela engenhosidade de Mentor e como ele usa gadgets para subjugar os adversários ou a determinação e agilidade de Teela. A série, inclusive, faz um bom uso da ampla galeria de heróis e vilões deste universo e é bem criativa no modo como cada personagem usa suas habilidades em combate.

Mestres do Universo: Salvando Etérnia inteligentemente evita as armadilhas do nostalgismo barato e arrisca levar este universo a novas direções, ampliando a mitologia e dando complexidade aos seus vários personagens.

 

Nota: 8/10


Trailer

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