Dividida em quatro episódios, a minissérie vai desde a juventude de Claudio Besserman, nome real de Bussunda, até os últimos momentos dele na Alemanha. Estruturalmente não sai muito do traçado dos documentários biográficos brasileiros com entrevistas e imagens de arquivo, mas exibe uma pesquisa ampla tanto na quantidade de entrevistados quando no acervo de arquivo que usa para ilustrar a vida do biografado. Também recorre a uma narração irreverente e breves momentos animados ou com bricolagens de imagens como fez Mussum: Um Filme do Cacildis (2018).
O fato do diretor que conduz as entrevistas ser alguém intimamente ligado ao biografado dá um tom mais pessoal e despojado às conversas, afinal se tratam de conhecidos conversando sobre um amigo em comum. Talvez nas mãos de alguém mais distante de Bussunda não tivéssemos as informações que o filme nos dá sobre a vida pessoal dele, sobre como ele era com os amigos, irmãos e pais. Aprendemos não só sobre os eventos da vida dele, na infância criado por pais ativistas de esquerda, a juventude anarquista na faculdade, a criação do jornal Casseta Popular e o sucesso no humor televisivo.
Mais que isso, aprendemos sobre como Bussunda se tornou esse sujeito, o que o movia, o que interessava a ele no humor, na política, na vida. É um retrato amplo e cheio de afeto sobre a vida dele e o modo como ele encarava a vida, que se beneficia da duração do formato seriado. O episódio final apresenta até uma mudança de perspectiva ao delegar a direção e o olhar de Claudio Manoel para Julia Besserman, filha de Bussunda.
Se até então tínhamos a perspectiva de Manoel do amigo de juventude e colega de trabalho que Bussunda era, no episódio final temos o olhar da filha dele, de como ele era como pai e do que a filha sente como legado do humorista. Como não pode falar mais com o pai, Julia recorre aos amigos dele e outros humoristas para entender o interesse do pai pelo humor e também por em questão alguns tipos de piadas que Bussunda fazia e que hoje, para a sensibilidade da jovem adulta que ela é, podem soar como preconceituosas.
Esse segmento tenta promover uma discussão sobre humor e o contexto em que essas piadas são produzidas, na possibilidade do humor mudar conforme a sociedade muda e como a noção de “engraçado” varia de acordo com as transformações culturais. Claro, nem todos os humoristas fornecem ideias que contribuem com o debate, com alguns recorrendo a uma postura defensiva cheia de argumentos falaciosos de que humoristas são vítimas e que ninguém tenta impor limites na música, na poesia ou na ficção (o que é completamente falso). Ainda assim é importante que o documentário tenha essa autocrítica em relação ao tipo de humor que Bussunda e a trupe do Casseta & Planeta faziam, evitando um tom meramente laudatório ao relato biográfico construído aqui.
Com um olhar afetuoso e próximo
ao biografado, Meu Amigo Bussunda é
uma cálida homenagem ao falecido humorista e uma digna celebração de seu
legado.
Nota: 8/10
Trailer
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