sexta-feira, 30 de julho de 2021

Crítica – Três Estranhos Idênticos

 

Análise Crítica – Três Estranhos Idênticos

Review – Três Estranhos Idênticos
A história contada no documentário Três Estranhos Idênticos é daquelas tramas que mostra como o mundo real pode ser mais surpreendente e maluco do que qualquer ficção. A premissa em si já seria insólita o suficiente para sustentar um filme envolvente, mas as reviravoltas ainda mais inesperadas que acontecem quando achamos que tudo de mais surpreendente já tinha acontecido apresenta uma série de discussões sobre método científico e saúde mental.

A narrativa conta a história dos trigêmeos Bobby, Eddie e David, trigêmeos que foram separados no nascimento com cada um sendo adotado por uma família diferente. Eles se reencontram por puro acaso quando Bobby vai estudar na mesma faculdade de Eddie e depois David vê a reportagem sobre os dois e vai de encontro a eles. Logicamente esse encontro levanta a questão do porquê a agência de adoção separou o trio e a resposta é surpreendente, já que a motivação foi para usá-los em um experimento científico.

Recorrendo a entrevistas, imagens de arquivo e cenas encenadas, o filme recorre a uma montagem ágil que dá fluidez a trama. O material não perde tempo em encadear as múltiplas reviravoltas ou em criar um senso palpável de causa e consequência sobre as decisões que causaram a separação dos três irmãos. Não usa nenhum recurso que não seja bastante comum em documentários contemporâneos, mas os utiliza bem o bastante para tecer uma trama que nos mantem presos a ela do começo ao fim.

A revelação de que a separação dos irmãos foi provocada por um experimento científico levanta questões sobre metodologia de pesquisa e ética na ciência. Afinal, agência de adoção e o grupo de estudos responsável pelo experimento não apenas alterou a vida do trio ao separá-los, como também mentiu para eles e as famílias durante anos (os pais adotivos acharam que era um experimento sobre o desenvolvimento de crianças adotadas). Desta maneira, as famílias adotivas não receberam informações suficientes para dar o devido consentimento informado para concordarem com o experimento, já que as informações dadas a eles eram mentirosas e, portanto, não ajudavam a nortear as decisões dessas pessoas.

Toda essa conduta já seria repreensível mesmo que o estudo produzisse qualquer resultado consistente sobre nosso entendimento da psicologia humana, mas se torna ainda mais repulsivo quando consideramos que ele sequer foi publicado. Claro, imagino que não tenha sido publicado porque provavelmente nenhum periódico acadêmico aceitaria um estudo com problemas éticos tão gritantes, no entanto é o tipo de coisa que qualquer pesquisador de respeito deveria saber. Várias vidas foram alteradas e tiveram seu potencial destruído a troco de nada.

As famílias dos envolvidos sequer tiveram o direito de ver o material coletado durante anos, apesar dos requerimentos constantes. Só após a filmagem do documentário que Bobby e David conseguiram acessar o material que, de modo ainda mais revoltante, sequer era capaz de tirar qualquer conclusão os vários dados coletados ao longo de anos. Tudo é de um descuido e de um amadorismo tão grande que deixam evidente o dano que a ciência e a pesquisa praticadas de maneira irresponsável podem causar.

 

Nota: 8/10


Trailer

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