O que mais me chama a atenção é como a narrativa constantemente desafia nossa expectativa e leva a trama por caminhos inesperados, raramente recorrendo aos lugares comuns dessas histórias sobre um sujeito deslocado no tempo. Essa disposição em assumir riscos é muito interessante, mesmo que nem todos esses riscos e caminhos que a trama deseja percorrer são bem desenvolvidos.
Isso porque há muitos elementos colocados nos 90 minutos de projeção. Como a gentrificação do Brooklin, um bairro de imigrantes que hoje se tornou um bairro de hipsters, questões de identidade judia, conflitos geracionais e como a juventude de hoje parece não saber lidar com as dificuldades, o conservadorismo dos Estados Unidos e a visibilidade que isso tem na mídia. É muita coisa em pouco tempo e nem sempre isso é desenvolvido a contento.
Um exemplo é a questão do conflito geracional, já que a ideia da geração de hoje ser mais “mole” do que nossos antepassados ignora o fato de que somos uma geração com menos estabilidade no emprego, com relações de trabalho mais precárias, renda proporcionalmente menor e uma série de outros problemas. A questão do judaísmo também ignora como a Segunda Guerra mudou a maneira como o mundo se relaciona com a comunidade judia.
Ainda assim, há muitos momentos divertidos fruto da desconexão de Herschel com os dias de hoje (a maneira que ele faz picles é apreciada por hipsters como “rústica”) e o laço de afeto que aos poucos se constrói entre ele e Ben no final.
An American Pickle nem sempre dá conta das próprias ambições, mas
aprecio a disposição da obra em correr riscos e levar sua trama por caminhos
inesperados.
Nota: 6/10
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