terça-feira, 17 de agosto de 2021

Crítica – Aqueles Que Me Desejam a Morte

 Análise Crítica – Aqueles Que Me Desejam a Morte


Review – Aqueles Que Me Desejam a Morte
O diretor Taylor Sheridan tem uma propensão para falar sobre personagens em situações limite em ambientes ermos. Em seu trabalho anterior como diretor, Terra Selvagem (2017), mostrava os ambientes gélidos do norte dos EUA em uma trama de investigação. Em A Qualquer Custo (2016), roteirizado por ele, acompanhávamos uma história nos desertos do oeste contemporâneo enquanto dois irmãos corriam para salvar uma propriedade da família. Neste Aqueles Que Me Desejam a Morte Sheridan olha para as florestas coníferas durante a temporada de incêndios florestais, mas, tal como acontecia nos dois filmes anteriormente citados, os seres humanos representam um perigo maior do que aqueles impostos pela natureza.

A trama acompanha o garoto Connor (Finn Little), que se embrenha em uma floresta depois que assassinos mataram seu pai. De posse das provas que o pai colheu contra uma organização criminosa, Connor encontra Hannah (Angelina Jolie), uma bombeira que está em uma torre de vigilância de plantão para o caso de incêndios florestais. Agora, Hannah vai ajudar o garoto a atravessar a floresta e entregar as provas à imprensa antes que os assassinos os alcancem.

É uma narrativa bem básica de uma agente em fuga com uma testemunha precisando eludir seus perseguidores. Os personagens em si também são uma coleção de clichês, como o fato de Hannah ser a típica profissional que carrega um trauma passado e se apega à missão por uma chance de redenção, ou Ethan (Jon Bernthal) o típico xerife interiorano que se mete em algo além de sua capacidade. Toda a trama é bastante previsível e se desenvolve exatamente como imaginamos que irá. O que impede o filme se ser um produto burocrático e sem graça é a condução e Sheridan e a capacidade do elenco em adicionar alguma nuance a personagens que são relativamente básicos.

O jovem Finn Little se sai muito bem em nos mostrar Connor como um garoto em pânico, completamente sobrecarregado pela situação em que se encontra, não capacitado para lidar com ela e emocionalmente impactado pela morte do pai. Ele consegue forjar uma dinâmica convincente ao lado de Angelina Jolie e o cuidado que Hannah demonstra pelo garoto. Os dois assassinos seriam bastante esquecíveis se não fossem os pequenos vislumbres de humanidade que Nicholas Hoult e Aidan Gillen colocam em colocam em Patrick e Jack respectivamente. Quando, por exemplo, a dupla descobre que Allison (Medina Senghore), a esposa de Ethan, está grávida, os dois demonstram um breve momento de incômodo e hesitação por estarem prestes a torturarem uma gestante.

O diretor Taylor Sheridan consegue criar embates tensos que ilustram o quanto esses personagens são astutos e experientes em combate, a exemplo da tentativa de Ethan em superar os dois assassinos ou o compate entre Allison e Patrick perto do final. Os segmentos envolvendo incêndios florestais ilustram bem a letalidade veloz desses eventos, com qualquer pequena lufada de vento sendo capaz de projetar labaredas a metros de distância. Não lembro de nenhum outro filme que tenha sido tão eficiente em mostrar o quão terrível é esse tipo de incêndio e o obstáculo infernal que eles podem representar para alguém preso em meio a um deles. Inclusive, não deixa de ser simbólico que um dos assassinos seja morto pelo incêndio que eles mesmos começaram, mostrando o que acontece quando o ser humano tenta atacar a natureza.

Assim, é pela tensão que o diretor imprime em seu modo de filmar e na capacidade do elenco em dar camadas a personagens que, no papel, seriam bastante clichês, que Aqueles Que Me Desejam a Morte consegue se sustentar.


Nota: 6/10


Trailer

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